sexta-feira, 29 de junho de 2007

O que falta ao Palestra


Conforme prometido ontem (e também a meu amigo Edu Pascale, grande palestrino e milanista), venho agora expor minha opinião sobre o outro grande rival, a Sociedade Esportiva Palmeiras. Esse gigante do futebol brasileiro, tão intimamente ligado à história da cidade de São Paulo devido a sua origem italiana, encontra-se sem rumo já a algum tempo.

O 'hiato' Parmalat, entre o final de 1992 e 2000, trouxe além do período mais vitorioso da história do clube, a ilusão de tempos modernos. Os últimos 31 anos do clube podem ser resumidamente descritos como 23 anos de fila e oito como exemplo do mais bem sucedido caso de marketing e gestão esportiva do nosso esporte (claro que, com 14 anos de idade, é impossível de se ter essa visão, e os produtos Parmalat sofreram um implacável boicote aqui em casa).

A Parmalat trouxe títulos e dinheiro mas levou-os embora com o fim da parceria, recolocando o Palmeiras na mesma amargura dos anos 80. Sua incompetente Diretoria da época não soube aproveitar os louros da vitória e deixou como legado, além de dívidas, o rebaixamento à Série B em 2002.

De lá para cá, a coisa como um todo pouco mudou. Porém, alguns sinais indicam que há luz no fim do túnel. A principal delas, com certeza, foi a mudança da Diretoria. O expurgo de Mustafá Contursi trouxe novos dirigentes que, mesmo ainda não sendo exemplos administrativos, aparentam ter ao menos boas intenções.

Essas boas intenções podem ser vistas em algumas ações pontuais, como a Onda Verde - ação de marketing de fidelização da torcida - e a Cesta de Atletas - captação de recursos mediante a venda de 'cotas' de seus jogadores. Esta última, se corretamente administrada, pode se tornar um bom paliativo para os problemas financeiros do clube.

Por fim, viu-se esse ano a aposta (até agora) em uma promessa da nova geração de técnicos brasileiros. Mesmo com adversidades e sem alcançar bons resultados, Caio Júnior segue no comando do time desde o início do ano. O problema é que ele não tem bons jogadores, dificilmente os terá, e assim fica impossível de conseguir o esperado - e cobrado - por Diretoria e torcida. E esse é o ponto que falta.

Enquanto o Palmeiras cobrar de seu técnico e elenco (sejam eles quem forem) resultados de times de ponta, a frustração será geral. A situação financeira do clube é ruim, impedindo-o de contratar jogadores de nível, e consequentemente atingir patamares mais elevados. Cabe ao próprio clube admitir, e convencer sua torcida, da sua real condição financeira e da necessidade de um planejamento de reestruturação. Isso leva tempo, provavelmente adiará a consquista de títulos, mas quanto antes começar melhor.

Parcerias, claro, também são uma solução de curto prazo. Se uma oportunidade surgir nos moldes da Parmalat, que seja bem conduzida e aproveitada, para não se repetirem os erros do começo dessa década; porém, qualquer modelo 'são-jorgiano' de captação de recursos deve ser veementemente repudiado, por motivos já descritos nesse blog.

Não iludam a torcida com promessas que não serão cumpridas, pois a cobrança virá em dobro. Essa mesma torcida, mesmo sendo extremamente exigente, vem se mostrando fiel ao time até nos piores momentos - vide a média de público do Parque Antártica nos jogos da Série B. Jogando limpo com ela, além de ganhar paz para trabalhar, a Diretoria ganharia também seu apoio e sua compreensão.

E, antes que me perguntem, já respondo:

Não, eu não simpatizo com o Palmeiras e nem torço para a sua recuperação.
Sim, como qualquer torcedor apaixonado, me divirto com a situação e com a desgraça dos meus rivais.

Mas também sei aplaudir vitórias merecidas e trabalhos bem feitos, pois o futebol como um todo sai ganhando. E o Palmeiras tem condição de conseguir ambos.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Dia decisivo no Parque São Jorge


Alberto Dualib chegou hoje pela manhã em São Paulo, deixando o aeroporto por uma saída alternativa, evitando assim o contato com imprensa e torcedores. Após 60 dias de infrutífera e cara viagem a Londres, voltou para a reunião do Conselho que, entre outros assuntos, discutirá as contas de 2006 do clube. Em caso de reprovação das mesmas - o que seria lógico, visto o absurdo do balanço apresentado - pode ser instaurado um processo de impeachment no clube.

A oposição vê nisso a solução para os problemas do Corinthians, mas é apenas uma das muitas ações a serem tomadas. O buraco é bem mais embaixo. E por mais que eu tente ter uma visão imparcial deste clube, não consigo. Até de meu outro grande rival de São Paulo - sobre o qual pretendo escrever amanhã - já desenvolvi uma opinião mais racional. Mas da turma do Parque São Jorge é difícil.

A solução para o Corinthians, que serviria também de lição ao futebol brasileiro, é seu rebaixamento para a Série B e anos, anos de fila. Explico.

Ao longo de 96 anos de história, a administração do clube foi incapaz de construir algo sólido e que fosse de utilidade para gerações futuras. É o único clube grande de São Paulo que não tem estádio nem centro de treinamento apropriado. Para mim essa é a maior prova de incompetência em termos de gestão esportiva, e apenas tirar o Dualib não resolveria o problema. Quem entraria no seu lugar? A estratégia tem que ser mudada, não somente as peças.

A forma de estruturar seus times também é curiosa. Três de seus quatro títulos Brasileiros foram conquistados nos últimos dez anos, sendo que todos eles através de parcerias com grupos de investidores. Assim é fácil, vendo minha marca e torro milhões que não são meus, sem a preocupação de investimentos no próprio clube. Para se ter uma idéia, até 1994 o clube tinha em seu currículo apenas um grande título de expressão, o Brasileiro de 90. Foi com a ajuda de Excel, Hicks, Muse e MSI que o Corinthians escreveu seu nome na galeria dos times realmente vitoriosos do Brasil.

O 'case' MSI, então, é uma das maiores vergonhas do nosso esporte. Do nada, surge um iraniano que não fala português, com uma montanha de dinheiro que ninguém sabe de onde veio, e compra um monte de argentinos para o time (um deles costuma até cuspir na água do Brasil). Na verdade, comprou bem mais do que isso: os direitos sobre o departamento de futebol do clube por 10 anos. Pagou mas não levou, como é praxe por lá. Iludiram a torcida com promessas irreais, trazendo de concreto apenas um contestado Brasileiro.

Paralelo a isso, o clube foi colocado no centro das investigações sobre lavagem internacional de dinheiro. O suposto investidor nem pode pisar no Brasil pois corre o risco de ser preso.

Quando o sonho da Libertadores caiu por terra ano passado, o iraniano ídolo da Fiel viu do que essa Fiel era capaz. Pegou o primeiro avião e sumiu do mapa, levando com ele os milhões de dólares em que o Corinthians baseava todo o seu trabalho. Daí apareceu o verdadeiro Timão, que correu sério risco de ser rebaixado para a Segundona.

E mesmo com todo esse dinheiro lavado, ops, investido, a dívida do clube passa de R$ 70 milhões. Sinceramente, se eu fosse corintiano teria vergonha.

O Corinthians precisa de mudanças drásticas de ordem estrutural e estratégica, e tais mudanças só são realizadas depois de momentos de grave crise. Parcerias, ainda mais nos moldes adotados ultimamente, são paliativos. Um rebaixamento traria, a curto prazo, prejuízos e turbulências ao clube; mas se bem aproveitado, renderia bons frutos no futuro - vide o Grêmio.

São exemplos como o Corinthians que o futebol brasileiro não precisa.

Mundo perfeito


As convocações da Seleção Brasileira em anos pós-Copa do Mundo, especialmente em momentos de renovação como o que assistimos agora, incluem jogadores que posteriormente mostram que não têm condições de vestir a amarelinha. A falta de um esquema definido também seria um aspecto a ser relevado em um primeiro momento, e maus resultados como o de ontem como parte de um difícil processo e, portanto, compreensíveis.

Isso tudo em um mundo perfeito. Mas como a CBF não zela pelo futebol brasileiro como deveria, e o Dunga não é um técnico experiente e competente como seria esperado de um profissional em sua posição, o vexame de ontem torna-se inadimissível.

Podemos até virar o jogo e vencer a Copa América, mas não é provável. Seria um acidente que premiaria um trabalho mal feito e que não apresenta muitas perspectivas. Cada vez mais a contratação do Dunga parece um "tampão" para uma época de menor relevância, como a Copa do Mundo ainda longe e as Eliminatórias sem nem terem começado. Em um mundo perfeito, tal decisão seria intolerável.

E depois da pelada de ontem, seria esperado que a maioria dos brasileiros fossem dormir revoltadas e/ou preocupadas com a atuação da lendária Seleção Canarinho. Mas, pelo menos eu, já tinha esquecido do ocorrido dez minutos depois do final da partida - e acredito que com a maioria dos brasileiros aconteceu o mesmo. A importância da Seleção Brasileira está em segundo plano.

Em um mundo perfeito, isso seria inimaginável.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

"Bonito"?!?!

Depois de rever por todos os ângulos o primeiro gol do México, Galvão Bueno respira e diz:"Bonito gol, hein Falcão?"

Foi assim que ele classificou o puta golaço de Castillo. Se o Ronaldo Fenômeno fizesse um desses, ele seria capaz de parir um irmão pro Cacá ao vivo, tamanho o escândalo.

Por enquanto, intervalo, Brasil 0x2. A coisa tá feia...

Os motivos de Adir Romeo

Foi divulgada no site da Confederação Brasileira de Ciclismo uma nota do técnico da Seleção Brasileira, Prof. Adir Romeo, explicando os motivos de sua convocação da equipe para o Pan, sem divulgar os resultados da seletiva.

Comecei a ler a nota e nem pretendia escrever nada aqui, pelo motivo já exposto de não querer contestar assuntos que não tenho grande conhecimento, só por aparecerem no jornal.

Porém, ao chegar no final da nota, mudei de idéia, e explicarei porque. Reproduzo aqui o trecho final da mesma:

"Fato 10 – Conclusão
A seleção dos atletas foi criteriosamente observada nos seguintes fundamentos do treinamento esportivo:
a. Comprometimento dos atletas em seguir o que o treinador planificou;
b. Confiar nos conhecimentos do treinador;
c. Seguir os passos do planejamento;
d. Não conspirar contra os atos de disciplina do grupo;
e. Não tentar manipular os companheiros em detrimento próprio, pois quando se trata de equipe, só a equipe vence;
f. Disciplina em locais públicos;
g. Apresentar níveis mínimos de condição física para suportar os treinamentos;
h. Fazer questionamentos fundamentados;
i. A idade correspondente no momento de uma decisão, pois haverá novos Eventos
de rendimento no futuro e o que se investe hoje colhesse amanhã;
j. O nível de sua forma no momento das pré seleções;
k. As oportunidades que estes ciclistas tiveram em eventos anteriores e seus resultados (estagnação);
l. O perfil dos ciclistas para a prova ou função;
m. O não cumprimento das tarefas em tempo abiu;
n. Resultado medíocre em uma terceiras oportunidade;


Sem para o momento,

Atenciosamente.

Prof. Adir Romeo
Técnico de Pista – Pan Rio 2007
CREF. 3837- G/PR
"

Não vi, entre as 14 justificativas, uma sequer que mencione os tempos dos atletas. Em uma modalidade que classifica e premia os atletas com base um um critério totalmente objetivo - seu tempo perante os demais concorrentes - foram utilizados apenas critérios subjetivos, e até autoritários, para sua escolha. "Confiar nos conhecimentos do treinador" é sensacional.

Lembro que Davi Pontarolli Romeo, filho do Prof. Adir Romeo, está entre os convocados.

Para mim, mesmo não acompanhando ou conhecendo em detalhes a modalidade, não resta dúvida que o processo foi falho e que se a CBC quisesse fazer um trabalho sério, repudiaria a decisão do treinador.

Pior que isso tudo, só mesmo a cruel luta que o Prof. Romeo trava com o idioma. No item "i", a conjugação dos tempos verbais desfere um primeiro jab de esquerda em nossa bela língua. E com o neologismo "abiu" do item "m" (o texto foi transcrito conforme divulgado no site, e só posso imaginar que o vocábulo referido signifique 'hábil') o português vai a nocaute com um poderoso gancho de direita.

Inacreditável...

terça-feira, 26 de junho de 2007

Olê, olê, olê, olê, Telê, Telê...


Se estivesse vivo, Telê Santana completaria hoje 76 anos. Não está, mas seu legado vive.

Independente do time de cada um, é inegável a importância deste mineiro de Itabirito ao futebol brasileiro e mundial.

Além de ter sido campeão como técnico dos quatro principais campeonatos regionais do Brasil, foi também o responsável pela retomada dos interesses dos brasileiros pela Copa Libertadores (para quem não se lembra, a campanha de 92 do São Paulo foi transmitido apenas pela já extinta Rede OM, nove anos depois de nossa última conquista).

Presenteou o mundo com a Seleção de 82, que entrou para a história com seu futebol sensacional e com a derrota em Sarriá.

Cabe a todos nós lembrarmos sempre de Telê e de outros nomes do nosso esporte, impedindo que o tempo os apague da memória.

Nota curiosa sobre o assunto abaixo

Não tem nada a ver, mas ao mesmo tempo tem.

Em agosto passado, João Havelange foi nomeado Vice-Presidente Honorário da CDCG - Confederação Brasileira dos Desportos no Gelo.

O maior projeto da entidade é a construção do Centro Nacional dos Desportos no Gelo, em Campos do Jordão. O que seria ótimo para o desenvolvimento dos esportes relacionados aqui no Brasil.

Mas é necessário contar com o Havelange para tal projeto? E se for, isso é certo?

Mandatos longos concentram tanto o poder na mão de poucos que estes podem se tornar indispensáveis. Infelizmente.

Ditaduras esportivas II - A Missão

As notícias veiculadas semana passada, a respeito de confusões nas convocações de atletas para o Pan em algumas modalidades me fez retomar o assunto sobre a gestão das entidades esportivas no Brasil. Especificamente, esses problemas ocorreram nas seguintes modalidades:

- Hipismo: as vagas na equipe estão sendo decididas na Justiça, devido a indefinições e mudanças no critério de seleção dos atletas. A liminar do cavaleiro Vítor Alvez Teixeira foi cassada ontem e o caso continua sem definição.
- Esgrima: testes de corrida tiraram do Pan os líderes do ranking nacional da espada feminina e do sabre masculino. A prova em questão era correr 3 mil e 2,5 mil metros em 12 minutos nas categorias masculino e feminino, respectivamente.
- Ciclismo: os tempos das seletivas não foram divulgados, e entre os convocados está o filho do técnico da seleção.
- Hóquei sobre grama: denúncias contra o ex-técnico da seleção (filho do presidente da confederação) levaram à dissolução das equipes permanentes, fazendo com que as seletivas fossem realizadas com jogadores inscritos pela internet.

Fui pesquisar os sites destas confederações, e o resultado não foi muito diferente do esperado. Apenas o site da Confederação Brasileira de Hipismo disponibiliza informações sobre a história e Diretoria atual da entidade (ainda assim incompletas). Considerando que atualmente a internet é um dos principais veículos de comunicação existente, é inconcebível que informações desse tipo não estejam ao alcance do público. Mostra incompetência na gestão ou falta de vontade em realizar algo tão simples.

Aproveitei para extender a pesquisa a outras confederações brasileiras. Me concentrei no ponto que julgo crucial na questão da gestão dessas entidades, que é o tempo em que os atuais Presidentes estão no poder. Abaixo, seguem os dados que apurei das principais confederações brasileiras:

- Confederação Brasileira de Basquete (CBB): Gerasime Bosikis, o "Grego", comanda a entidade desde 1997.
- Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt): o Presidente é Roberto Gesta de Melo, desde 1987.
- Confederação Brasileira de Vôlei (CBV): Ary da Silva Graça Filho que sucedeu, em 1997, Carlos Arthur Nuzman, que por sua vez estava no cargo desde 1975 (de 95 a 97, Walter Laranjeiras substituiu Nuzman, devido a sua posse no COB).
- Confederação Brasileira dos Desportos Aquáticos (CBDA): Coaracy Nunes, desde 1988.
- Confederação Brasileira de Tênis (CBT): Jorge Lacerda da Rosa substituiu o polêmico Nelson Nastás em 2004.
- Confederação Brasileira de Ginástica (CBG): Vicélia Florenzano é a Presidente desde 1991.
- Confederação Brasileira de Futebol (CBF): dirigida a mão de ferro por Ricardo Teixeira desde 1989.
- Comitê Olímpico Brasileiro (COB): Nuzman, desde 1995.

Me concentrei em dados objetivos pois seria leviano da minha parte julgar os trabalhos individuais sem realmente conhecê-los em profundidade. Bons resultados são encontrados também em mandatos longos. Não seria certo dizer, por exemplo, que o mandato de 20 anos do Nuzman à frente da CBV foi ruim. Nesse período tivemos uma revolução na modalidade e a conquista de duas medalhas olímpicas. A natação e esportes aquáticos em geral também apresentaram resultados expressivos e uma aparente solidez nas últimas décadas.

Por outro lado, encontramos exemplos ruins. No basquete, nomes como Oscar, Paula e Hotência contestam a gestão do Grego. Casos como os citados no início deste texto sugerem decisões mal tomadas, talvez até propositadamente. Foi preciso um boicote do Guga para mudar a direção da CBT, e aqui temos um dado interessante. De 1955 até 1994 a entidade teve 14 Presidentes, uma média de 2,6 anos por mandato. O problema surgiu justamente no décimo ano de mandato de Nelson Nastás (94-04). Coincidência? Acho que não.

Para finalizar, temos os casos mais famosos do futebol e do COB. Ricardo Teixeira, que segundo dizem odeia futebol, chegou onde está por ter se casado com a pessoa certa, na hora certa: a filha de João Havelange, ex-Presidente da CBD e na época Presidente da FIFA. Se foi no mandato de Teixeira que ganhamos duas Copas do Mundo, também foi neste período que vimos despencar a qualidade do futebol jogado dentro do Brasil e do interesse geral pela própria Seleção, quebrado apenas a cada quatro anos. E pelo andar da carruagem, teremos de conviver com o genro pródigo até pelo menos 2014.

Nuzman também não dá sinais de cansaço. Após 12 anos, mostra disposição para torrar bilhões dos cofres públicos no Pan e ainda insistir no seu projeto megalomaníaco-narcisista-surrealista do Rio Olímpico, agora planejado para 2016.

(Tanto 2014 como 2016 dependem muito de 2007. Para que devemos torcer no próximo mês?)

Falei, falei e chega a hora de concluir. Sem acompanhar de perto, é difícil e até irresponsável criticar o trabalho dos nossos dirigentes. Mas, conversando com pessoas ligadas de perto à entidades, as irregularidades jorram como petróleo na Arábia. Esses mandatos longos podem ser tanto benéficos como prejudiciais para as modalidades esportivas. Porém, além de estabelecer metas, gerir o dinheiro, buscar patrocínios, trabalhar com a base e desenvolver o esporte, também é obrigação de cada dirigente preparar a sua sucessão. Não fazendo - ou não querendo fazer - essa função, dirigentes comprometem o seu próprio trabalho, e por tabela o esporte de modo geral.

Pessoas passam, as entidades ficam. Sem uma sucessão bem planejada, vícios tendem a se perpetuar e boas idéias, a caírem em desuso. Exemplos para isso não faltam, basta pesquisar.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Passo maior que a perna

Sou fã do Zetti desde moleque e torço para que alcance como técnico o mesmo sucesso que teve como jogador. Se depender de sua competência e seriedade, já tem meio caminho andado.

Mas só essas duas qualidades não bastam. É preciso saber lidar com jogadores, dirigentes, imprensa e torcida; ter capacidade de planejamento e execução; conseguir aguentar a pressão por bons resultados; enxergar todas as qualidade e defeitos de cada jogador e utilizá-lo da melhor maneira no time; e, enfim, conhecer profundamente de futebol.

A maioria destes atributos vê com o tempo, mediante experiência acumulada no meio. De preferência com trabalhos consistentes, iniciados com a formação de um time até o momento da consagração com um título. Em times pequenos, onde a pressão externa é menor, a chance de se realizar esse tipo de trabalho aumenta consideravelmente. Sem a necessidade urgente de se conquistar títulos, o técnico consegue se desenvolver como profissional aprendendo com seus erros e acertos.

Ao trocar o Paraná Clube pelo Atlético-MG, Zetti abriu mão dessa tranquilidade. Mesmo não passando pelo melhor momento de sua história, o Galo tem uma torcida fanática e impulsionada por uma das maiores rivalidades do futebol brasileiro. Maus resultados - que seriam perfeitamente normais - podem abreviar a passagem do ex-goleiro pro Belo Horizonte, impedindo-o de realizar o tal trabalho consistente e levantando dúvidas sobre sua capacidade de treinar times de futebol.

Tomara que dê tudo certo e que ele consiga num futuro próximo ser considerado uma boa revelação na nova profissão. Mas para esse momento acredito que continuar no Paraná Clube fosse a melhor opção.

Que o diga Caio Júnior....

domingo, 24 de junho de 2007

Pérola da semana

Em entrevista ao Estado de S. Paulo, Antônio Lopes me vem com essa: "Quem dera se o futebol brasileiro tivesse mais dez Euricos e dez Petraglias: ao invés de cinco títulos mundiais, ganharíamos muitos outros."

Exemplificando uma das pessoas mais nocivas ao esporte brasileiro de todos os tempos como modelo de dirigente, mostrou o quão ultrapassado está para o mundo do futebol.

Ou que a convivência com Dona Elza a longo prazo causa sérios danos à integridade mental.

A impossibilidade de parar

A aposentadoria é o momento mais difícil da carreira de um atleta. Além de deixar de lado a atenção e o carinho das pessoas, ele abdica de algo que ele de melhor, num momento altamente produtivo de sua vida. Imagino como deve ser difícil deixar para trás uma condição confortável e tão duramente conquistada, mas é uma etapa inevitável.

O pior é quando esse momento chega antes da hora, como pode ser o caso da jogadora Kátia, da seleção brasileira de basquete, recentemente cortada do time por problemas cardíacos. Para ela, o que está em jogo não se resume a questões de ego ou carência, mas da própria sobrevivência.

Como grande parte dos atletas brasileiros, Kátia tem origem humilde, com minguadas oportunidades de vencer na vida, e encontrou no seu talento para jogar basquete a melhor - e talvez única - maneira de ter uma vida digna. Não é de se estranhar, muito menos recriminar, sua declaração que prefere morrer jogando do que abandonar o esporte.

Ela tem apenas 24 anos.

A situação da Kátia reflete a realidade do esportista padrão brasileiro, pessoas que nascem à margem da sociedade e que conseguem, através de talento nato e muito trabalho, atingir um patamar social inicialmente impensável. Impedidos de desempenhar sua profissão, as portas se fecham novamente tornando seu futuro escuro e incerto.

Mais triste que esse quadro analisado como um todo, só mesmo um caso particular como o de Kátia para dar cara e nome ao drama.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

E parabéns...

... também ao Grêmio. Mesmo perdendo, mostrou força e poder de recuperação nas outras fases da competição. Além disso, e mais importante, consolidou sua volta em grande estilo à elite do futebol brasileiro, passando de campeão da Série B à vice-campeão da Libertadores em apenas 19 meses.

... de certa forma, ao futebol gaúcho, que deve manter seus dois principais times entre os maiores do futebol brasileiro por um bom tempo.

... à torcida tricolor, que apoiou desde antes do início até depois do final. Esta sim, é imortal.

... claro, ao Boca, por sua quarta final de Libertadores vencida sobre times brasileiros. Cruzeiro(77), Palmeiras (00), Santos (03) e Grêmio (07) foram as vítimas. Cabe ao Santos de Pelé (63) o gol de honra na goleada argentina.

Vexame...

... a atuação do Grêmio nos dois jogos contra o Boca. Nunca uma final de Libertadores havia registrado tamanha diferença no resultado agregado como a desse ano.

... o final de carreira do Amoroso. Podia ter ficado no São Paulo e virado ídolo, preferiu ganhar mais dinheiro e vem se arrastando em campo. Até rolinho tomou hoje.

... a diretoria do Villareal, que se deu ao luxo de perder o Riquelme por um semestre.

... o batedor de pênalti Palermo. É um artilheiro nato, mas devia desistir desse tipo de cobrança.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Místicas

As duas camisas mais místicas do futebol sul-americano definirão mais um campeão da Libertadores hoje à noite. Tricolores e xeneizes tentam o tri e o hexa, respectivamente.
O duelo poderia ser ainda mais atraente se não fosse a larga vantagem obtida pelo Boca no primeiro jogo, e por isso mesmo será a mais épica de todas caso o Grêmio fique com o título.
Não se pode duvidar do Grêmio, mas o problema é que também não e pode duvidar do Boca Juniors.
A festa deve ser argentina; aos gaúchos, resta pelear.

Nenê decide voltar

A Seleção Brasileira de Basquete ganhou um reforço de peso com o anúncio da volta de Nenê Hilário ao time. Um dos três destaques brasileiros na NBA, essa decisão pode ser crucial para nossa vaga em Pequim.

Já vem sendo noticiado que estamos, mais uma vez, perdendo a chance de desenvolver uma modalidade por incompetência dos dirigentes. A participação do Varejão em uma final da NBA passou quase que despercebida por aqui, já que o campeonato não passa na TV aberta, a mídia não dá a cobertura devida e nosso próprio campeonato nacional não disperta tanto interesse.

A ausência dos nossos melhores jogadores na seleção, inclusive no Pan, é apenas consequência.

Falta ainda, na minha visão, uma maior união entre os jogadores atuais com ídolos do passado, para que o basquete brasileiro - principalmente o masculino - volte a ser forte. Oscar, Paula e Hortência já tentaram elaborar um trabalho nesse sentido. Se esse esforço fosse aliado à juventude e imagem de Nenê, Varejão, Leadrinho, etc, as chances de sucesso seriam maiores. Conciliando os interesses das partes envolvidas, é possível montarmos uma seleção forte e um trabalho de base consistente.

Basta definir os objetivos, organização e que vaidades pessoais sejam postas de lado. Todos têm a sua importância, mas ninguém é mais importante do que ninguém. Os únicos que não têm essa importância são os atuais dirigentes.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Porque torcer para o Botafogo

O título pode parecer estranho, vindo de um paulistano orgulhoso como eu e sem nenhuma ligação afetiva com Caio Martins. Mas como fanático por futebol e esportes em geral, tenho meus motivos.

O Botafogo, lar de Garrincha e Nílton Santos, teve esses dois jogadores como protagonistas de um dos maiores times da história do futebol brasileiro. Com a nacionalização do futebol brasileiro no início da década de 70, as glórias passadas não tiveram uma continuidade. Conquistou apenas um Campeonato Brasileiro, em 1995, e após essa data se afundou juntamente com os outros times cariocas.

O clube quase faliu, perdeu sua sede em General Severiano e quase perdeu as eperanças com o rebaixamento à Série B em 2002. Foi então que um grupo de botafoguenses fanáticos, liderado por Bebeto de Freitas - do vôlei, mais uma vez - resolveu botar ordem na casa. Sem planos mirabolantes, mas estruturados e de longo prazo. Voltaram à Série A no campo e nunca prometeram milagres à torcida. Pelo contrário, deixaram clara a situação do clube.

Aos poucos, as finanças foram sendo arrumadas e os resultados - para os atuais padrões do clube - aparecendo. Recuperaram sua sede social, realizam ações de marketing voltadas ao torcedor, vêm investindo no seu centro de treinamento para categorias de base e na aposta em um trabalho consistente no profissional. Aí entra a competência do Cuca, que se mostrar ser capaz de ganhar títulos pode se tornar um dos maiores técnicos da nova geração. Finalmente, o time estampa a marca de um patrocinador em sua camisa após anos sem essa importante fonte de renda.

O Botafogo vem se reestruturando com trabalho sério e suas próprias forças. Sem parcerias misteriosas ou contraindo ainda mais dívidas visando reultados no curto prazo. Um exemplo a ser seguido no futebol.

É por isso que torço para o sucesso do Botafogo, e de qualquer outro projeto com as mesmas características. O que não significa necessariamente que torço para serem campeões brasileiros, pois tenho meu próprio time de coração e não acredito que o Botafogo tenha força para isso nesse momento. Mas gostaria de ver cada vez mais cases como esse no futebol e no esporte brasileiro, pois esta é a única forma de sucesso duradouro. Planejamento, nada mais que isso.

E que, quando a situação esteja revertida definitivamente, o Bebeto saiba que cumpriu o seu papel e deixe a direção do clube, pois uma "ditadura" só é justificável em tempos de crise e no curto prazo. Uma sucessão planejada também faz parte do processo de reestruturação.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

A última da Ana Paula

Segundo notícia divulgada hoje à noite no UOL, a Ana Paula de Oliveira cedeu às pressões e assinou contrato com a revista Playboy, para ser a capa do mês de julho.

Uma das melhores bandeirinhas dos últimos tempos já vinha perdendo o foco principal o seu trabalho devido a outras atitudes - não condenáveis, do ponto de vista pessoal - de sua vida pessoal. Não acredito que posando nua na maior revista masculina do mundo a ajudará a recuperá-lo.

Talvez nem seja preciso. A mais polêmica decisão dela como bandeirinha de ponta pode também ter sido a última.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Futebol de mão

O Brasil ganhou bem do time B da Espanha hoje, na abertura do Torneio Intercontinental de Handebol, evento teste para o Pan. Mesmo só vendo o segundo tempo, deu pra perceber que o time tem padrão de jogo e que o Bruno Souza é fundamental para a seleção.

O handebol é o esporte mais praticado nas escolas do país, mas não temos nenhuma tradição em nível profissional fora da América do Sul. E se hoje somos a principal referência do continente, temos de creditar o resultado aos bons trabalhos desenvolvidos nos últimos anos pelos dois técnicos espanhóis que comandam as seleções masculinas e femininas: Jordi Ribera e Juan Oliver, respectivamente.

Acredito que a seleção feminina já pode ser mais ambiciosa em Pequim, já a masculina ainda está um pouco atrás. Tomara que a projeção alcançada no Pan - duas medalhas de ouro são esperadas - impulsionem o desenvolvimento do esporte. Os espanhóis sairão após o Pan e se o trabalho não for mantido, teremos mais um caso de geração de talentos isolada.

Há espaço para o handebol no Brasil, e esse Pan pode ser uma boa oportunidade.

Relaxa e goza, Presidente

"Depois que o Rio ganhou, foi como casamento. Começaram a aparecer defeitos que a gente não via quando namorava. Imaginava que ganhar a candidatura significava que estava tudo pronto, não tinha de fazer nada, era trazer os atletas e começar o jogo. Não foi assim."

Por incrível que pareça, a frase acima foi dita ontem pelo Lula.

Despreparo, cara de pau ou ambos?

De qualquer forma, mais uma vez ele lava as mãos e afirma que não sabia de nada.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Direitos e obrigações

No imbróglio Seleção Brasileira-Real Madrid-Robinho, não há uma verdade absoluta. Todas as partes envolvidas têm sua dose de razão e de culpa.

A CBF está no direito dela, garantido pela FIFA de garantir a apresentação de jogadores convocados para torneios internacionais com 14 dias de antecedência. Mas poderia ser mais flexível, já que o jogador perderá apenas uma semana de treinos, em virtude de um jogo fundamental para o Real e para sua própria carreira.

O Real teoricamente não tem o direito de segurar o jogador, pois deve seguir a determinação da FIFA. Mas tem a obrigação de defender seus direitos em momento tão importante. Direito esse que os clubes brasileiros também reclamam quando têm seus jogadores convocados - e a imprensa apóia.

Enfim, o Robinho também tem o direito de querer disputar tanto o jogo do Campeonato Espanhol como a Copa América, o que é perfeitamente possível. Afinal, tem obrigações trabalhistas com o Real e morais com a Seleção.

Não vejo em certo e um errado, vejo uma enorme confusão causada por falta de política, desorganização e incompatibilidade de interesses.

A falta de política já foi comentada com a inflexibilidade de ambas as partes. A desorganização dessa vez, por incrível que pareça, é da Liga Espanhola. A Copa América já está marcada por um bom tempo, e o Campeonato Espanhol é o único torneio importante europeu que ainda não acabou. Era obrigação da Liga atentar para o fato e adequar seu calendário.

Finalmente, a incompatibilidade citada vem do fato que os calendários europeu e sul-americano não são coordenados. Enquanto não forem, esses problemas continuarão ocorrendo. E com a globalização do futebol, essa medida é prioritária.

Obrigação das federações, direito de clubes e jogadores.

CPI adiada

"Para não atrapalhar o evento", a CPI do Pan foi adiada para após a realização dos jogos.

Bela manobra de quem tem culpa na história, pois após a enxurrada de medalhas que devemos conquistar - independente de sua real importância - será mais fácil apelar para o emocional e deixar em segundo plano a incompetência da CO-Rio. Afinal, pelo orgulho do povo brasileiro, vale tudo.

Não que eu tivesse alguma esperança, mas é óbvio que essa CPI não vai dar em nada.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Pelo Grêmio, hoje sou Boca

Sempre achei estranha a história de alguém ter um 'segundo time'. Na minha cabeça, o coração do torcedor só tem espaço para um. Mas desde aquele jogo no Recife em 2005, me permiti admirar o Grêmio. Não chego a torcer, simpatizar seria mais adequado. Com certeza, o fato de ser um tricolor ajudou nisso.

Nessa final histórica de Libertadores, vou torcer para o Grêmio. Mas não hoje. Acho que o melhor resultado para os gaúchos é uma derrota por 1 gol de diferença, e explico.

O Grêmio não vem fazendo bons jogos fora de casa, mas no Olímpico é diferente. Desde a primeira fase, conseguiu todos os resultados que precisava. No último jogo da primeira fase precisava ganhar do Cerro para se classificar, e ganhou. Nas oitavas, perdeu o jogo de ida para o São Paulo e reverteu - fácil - na volta. Nas quartas, contrariou a maioria e devolveu o placar de 2x0 contra o Defensor, vencendo nos pênaltis. E, finalmente, contra o Santos, alcançou o placar que queria em atuação memorável.

Por outro lado, o ditado de 'cutucar a onça com vara curta' vale para o Boca. Na primeira fase, mesmo usando o time reserva na altitude foi desacreditado, e quando precisava fazer três para se classificar fez sete. Nos confrontos de quartas-de-final, contra o Libertad, cedeu o empate na Bombonera. Venceu fora. Na semi sofreu derrota por 3x1 contra o Cúcuta (na Colômbia) mas se classificou com um 3x0.

Resumo da ópera: enquanto os brasileiros conseguiram em casa todos os resultados que precisavam, os hermanos não deixam por menos e também buscam esse resultado, até fora de casa se preciso.

(aliás, o Boca já venceu Corinthians, Paysandu, Santos e empatou contra Palmeiras - duas vezes - e São Caetano em jogos decisivos de Libertadores no Brasil)

Não provoquem o Boca. No Olímpico, Grêmio é Grêmio.

terça-feira, 12 de junho de 2007

A realidade dos pontos corridos

Sempre fui um defensor do formato de play-off para o Campeonato Brasileiro, pois achava que um campeão devia além de ser o melhor, saber ser campeão. Hoje minha visão é totalmente a oposta. O campeão nacional deve ser definido através do método mais justo e que conceda o título ao time de melhor campanha no decorrer do longo campeonato. A mudança - e aparente consolidação - para o sistema de pontos corridos foi a melhor coisa que aconteceu nos últimos anos para o futebol brasileiro.

As opiniões se dividem, pois toda mudança leva tempo para ser assimilada. Também é preciso tempo para que os envolvidos - técnicos, jogadores, torcedores, imprensa - entendam o que é necessário para se obter sucesso em um campeonato por pontos corridos.

É possível ouvir todos os tipos de comentários:

"É fundamental ganhar os jogos em casa."

"O importante é não perder fora."

"É inadmissível perder pontos contra os mais fracos."

"Os jogos mais importantes são os confrontos diretos contra outros aspirantes ao título."

E o maior chavão de todos "Em campeonato de pontos corridos, todo jogo é uma final."

Se tudo isso fosse o que realmente importasse, a regra então seria: não perder nunca. O que é impossível, ou quase.

Analisando os quatro campeões pelo sistema de pontos corridos, temos o seguinte quadro:
-2003: Cruzeiro, 100 pontos em 46 jogos - 72,5% dos pontos possíveis;
- 2004: Santos, 89 pontos em 46 jogos - 64,5%;
- 2005: Corinthians, 81 pontos em 42 jogos - 64,3%;
- 2006: São Paulo, 78 pontos em 38 jogos - 68,8%.

A média geral de pontos conquistados foi de 67,4% do total de pontos possíveis. Todos os quatro campeões perderam pontos dentro e fora de casa, contra adversários que estavam disputando o título e com aqueles que fugiam do rebaixamento. Ou seja, tiveram seus tropeços. O que fez deles campeões foi a regularidade, um dos fatores decisivos em um campeonato deste tipo. A média de pontos por partida destes campeões foi de redondos dois pontos por partida. Portanto, nenhuma das cinco premissas apresentadas é válida, ou se preferirem, todas são, mas apenas em parte e combinadas.

O outro fator é planejamento. Com a tabela pronta é obrigação da comissão técnica e da administração dos clubes estudá-la e apontar os períodos mais críticos para o time, com relação a adversários e viagens. Jogos de outras competições e possíveis convocações para a Seleção são aspectos fundamentais deste planejamento. Assim, objetivos ficam mais claros e surpresas mais previsíveis.

Assim, diminuem as chances de clubes mal-organizados e aventureiros tornarem-se campeões. Clubes estruturados conseguem dar melhores condições para os jogadores, dentro do campo, manterem a desejada regularidade.

Com o tempo, teremos cada vez menos times brigando realmente pelo título, como já acontece na Europa. E aqueles que compreenderem essa nova realidade são os mais fortes candidatos para dominar o futebol brasileiro.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Merci, Sonny Anderson

Posso ser meio birrento, e a vítima da vez é a falta de memória do brasileiro e respeito com seus ídolos. Ontem foi por causa do Guga, hoje é a despedida do Sonny Anderson.

O jogo festivo colocou mais de 30 mil torcedores no estádio do Lyon e contou com convidados que variaram de Bats a Roberto Dinamite. Além de fazer três gols e ver seu filho fazer mais um(que deve ter uns oito anos, momento genial), Anderson se emocionou ao ser ovacionado pelos presentes e agradeceu com um discurso. Todo em francês.

Anderson nem foi ídolo no Brasil, e é mais que justo que sua despedida tenha sido realizada lá fora. A comparação entre a realidade de Brasil e França é que é curiosa. A atual capital futebolísta francesa, Lyon, se mobilizou em uma segunda-feira para homenagear um jogador que nem francês é, num país tão orgulhoso de sua história tão ricamente construída ao longo dos séculos. Jogador este que, apesar dos títulos e da importância para o Lyon, está longe de estar entre os maiores jogadores da história.

Já aqui, sendo breve e não mencionando outras histórias tristes, vimos um país discutindo e criticando a epopéia do milésimo gol do Romário, o maior jogador que o mundo já viu dentro da área (vide o gol de sábado). Preferiu-se a contestação da sua contagem à homenagem ainda durante sua vida futebolística. Brasileiro é engraçado: subestima ou superestima os feitos de seu povo, dificilmente vê as coisas como elas são.

Outro fato a ser notado desta despedida é a própria história do Anderson, que teve de deixar o país do futebol para alcançar o sucesso. Nada contra isso. Mas com a crescente debandada de jogadores brasileiros para o exterior, antes ainda de terem criado fãs no Brasil, a cena de hoje tende a se repetir cada vez mais no futuro.

domingo, 10 de junho de 2007

Para quem a galera vai torcer?

A pouco importante Copa América começa em duas semanas desfalcando os times brasileiros de importantes jogadores durante várias rodadas do Brasileirão. O número exato vai depender de até a fase alcançada pela Seleção.

Aposto que a maior parte dos torcedores desses times vai torcer para que o Brasil caia fora logo, assim seus respectivos times voltarão a ter força máxima no Campeonato Brasileiro. Que é muito mais importante.

Eu, aliás, sou um desses torcedores, por egoísmo e protesto.

A homenagem

Para relembrar os 10 anos de um dos maiores assombros da história do tênis, nada mais justo que convidar o Guga para entregar o troféu de campeão de Roland Garros para o Nadal (outro assombro).

O gesto mostra que, ao menos em Paris, nosso grande tenista não será esquecido tão cedo. Como a Maria Esther Bueno também não é, em Londres.

Ela já não tem o mesmo prestígio e fama em seu país de origem - o Brasil -, resta torcer para que quando o feito de Guga completar quatro décadas, a história seja diferente.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Seleção Brasileira SA

Dunga convocou o Anderson para a Copa américa. Fiquei surpreso pois o jogador, apesar de promissor, não vinha sendo chamado com frequencia e já estava convocado para a Seleção Sub-20. Hoje entendi o motivo.

O jogador, recém-contratado pelo Manchester United, teve seu visto de trabalho inglês negado, pois não cumpre o requisito de convocações mínimas de sua seleção nacional. Essa é uma exigência do futebol inglês para aceitar estrangeiros nos seus times.

Com esta convocação, Anderson tem sua vida facilitada.

E, provavelmente, alguém na CBF também.

A importância devida de cada coisa

Ouvi hoje no rádio mais um desses corriqueiros absurdos cuspidos pela horrorosa imprensa esportiva paulistana: "Uma ótima ação da Conmebol seria premiar o campeão da Copa América com uma vaga na Copa do Mundo, assim o evento ganharia importância." Como já disse certo filósofo 'Uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa', e o resultado dessa mistura de banana com laranja foi um suco bem indigesto.

Cada campeonato tem de ser valorizado pelo que ele representa, e não (só) pelo que ele proporciona. Se a Copa América não tem esse valor hoje em dia, é por causa do descaso da própria Conmebol com seu maior tormeio entre seleções ao longo dos anos. A Eurocopa, por exemplo, tem um prestígio enorme. Se for de interesse que a Copa América alcance semelhante importância que a Conmebol, em parceria com as federações nacionais, trabalhe nesse sentido. Isso vale também para a Sul-Americana, que a partir desse ano dará ao campeão vaga na próxima Libertadores. Um erro.

No Brasil, temos um caso parecido: a Copa do Brasil. Deveria ser um torneio prestigiado e disputado com afinco por seus participantes, como acontece em todos os países europeus. Mas seu único atrativo é a vaga na Libertadores, ainda mais depois que os clubes foram impedidos de disputarem essas duas competições simultâneamente. Resultado: sucateamente do nível técnico da Copa, e premiação para um time não capacitado com um lugar na competição mais importante do continente.

Se não fosse esse presente (de grego, em relação ao futebol brasileiro como um todo) a Copa do Brasil não teria o menor valor. Mas não precisava ser assim. Vejamos, mais uma vez, exemplo do Velho Continente. A última FA Cup teve como finalistas o campeão e o vice da Premier League, a partida final foi disputada num sábado à tarde como reinauguração oficial do Estádio de Wembley. Mais apelo que isso, impossível, e festa merecida ao campeão.

Analisemos agora a Copa do Brasil. A final será disputada entre o 7o e o 16o colocados do último Brasileirão - com méritos reduzidos já que os cinco primeiros de 2006 não disputaram a competição - e numa quarta-feira à noite - mesmo horário de partida decisiva da semi-final da Libertadores, envolvendo outros dois clubes brasileiros. E tem outra: foi um torneio nacional realizado em apenas quatro meses, quando tranquilamente poderia ter ocupado espaço maior no calendário.

Ou seja: só vai acompanhar o jogo quem torce para Figueirense ou Fluminense, e mais uma vez teremos um participante potencialmente não qualificado para a Libertadores (ao menos dessa vez, ambos estão na Série A)..

É por isso que uma Copa do Brasil ou uma Copa América significam pouco para o torcedor. Como já disse aqui antes, são produtos mal administrados por quem deveria ter o maior interesse em seus sucessos.

Cabe a essas pessoas reverterem o quadro.

Como cabe à imprensa discutir a questão com inteligência, e não com idéias estúpidas.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Varejão na final

Anderson Varejão se tornou neste fim de semana o primeiro brasileiro a disputar uma final da NBA. Feito extraordinário que passou quase que despercebido pelo mídia.

Infelizmente (já estou me achando repetitivo demais) o Brasil não está aproveitando a boa fase dos nossos jogadores na liga mais importante do mundo, deixando de explorar essas conquistas para reacender o interesse do povo pelo basquete - que já foi bicampeão mundial.

A presença destes jogadores no Pan seria fundamental não tanto pela importância da competição - reconhecidamente de baixo nível - mas justamente para essa divulgação da modalidade. Falta mesmo será sentida no Pré-olímpico, que terá adversários fortíssimos e vale vaga na Olimpíada de Pequim.

Com a seleção completa, teríamos boas chances. Mas problemas administrativos e políticos provavelmente impedirão que isso ocorra. Nos resta dar os parabéns àqueles que brilham na NBA, especialmente ao Varejão - o finalista - e ao Leandrinho - o melhor 6o homem da tenporada.

Até (e inclusive) no hipismo

Esporte elitista, com relativamente poucos praticantes e pelo menos um atleta de renome internacional. O hipismo poderia ser uma ilha isolada de organização no mar mambembe do esporte brasileiro.

Mas toda essa história da seletiva para o Pan mostra que despreparo também vem a galope.

Não acho possível opinar sobre uma modalidade que tem pouquíssima cobertura da imprensa, mas independente disso não há dúvida que uma seletiva nacional para uma competição como o Pan deveria ter sido discutida e definida com antecedência, evitando o tipo de notícia que vem sendo divulgada nos jornais.

E decisões políticas ou bairristas fossem evitadas, privilegiando sempre o índice técnico.

sábado, 2 de junho de 2007

A seleção de ontem

A seleção jogou ontem a primeira partida internacional da seleção inglesa no novo estádio de Wembley, e esse foi o ponto mais importante.

O resultado não quer dizer muita coisa, já que era um jogo festivo.

O fato de Kaká e Ronaldinho Gaúcho terem jogado já foi discutido abaixo.

E também não ajudou muito para saber se a seleção brasileira estará pronta para a Copa América, já que o grupo será diferente do de ontem.

Até porque a Copa América nem é tão importante assim. Se dizem que os jogadores estão cada vez menos empolgados em jogar pela seleção brasileira, também está a torcida em acompanhar seus jogos. O que vale mesmo é a Copa do Mundo, e as definições importantes acontecerão só lá pelo segundo turno das Eliminatórias.

Época que, aliás, o Dunga talvez nem seja mais o técnico.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

O negócio do esporte

Pegando o gancho na polêmica Kaká/Ronaldinho Gaúcho, um comentário bastante dito na última semana foi: "Se eles pediram dispensa da Copa América, porque convocá-los para o amistoso em Wembley? Isso é imposição do patrocinador." Antes de expor meu ponto de vista, pergunto: se os Rolling Stones viessem tocar no Brasil, mas ao invés do Mick Jagger eles convidassem o Serguei para cantar, você (ou alguém) compraria ingresso?

A discussão sobre a interferência de patrocinadores no esporte já vem de muito tempo, atingindo o ápice da polêmica na final da Copa de 98 (até que se prove o contrário, me recuso a admitir que a Nike escalou o Ronaldo). Para os mais puristas, é um absurdo que patrocinadores, dirigentes e canais de TV tenham influência nas decisões do esporte. Mas os tempos mudaram e hoje isso é uma realidade, e de certa forma tem de ser assim. A questão é saber até que ponto essa interferência é benéfica tanto para o esporte em si como para os negócios.

Todo investidor quer ter retorno sobre seu investimento, e todo detentor de determinado direito adquirido tem poder para exercer seu direito. É justo que organizadores de jogos da seleção brasileira exijam a presença de um Kaká e de um Ronaldinho Gaúcho? Claro que é. O direito de se ter a seleção para um jogo é uma ótima oportunidade de negócio, e quem a faz precisa ter seu retorno com venda de ingressos e cotas de patrocínio. É justo que a Globo defina o horário para os jogos de meio de semana para às 21:45, pois essa é a hora que acaba a novela das 8? Infelizmente sim, pois ela pagou - caro - por esse direito. Dinheiro esse que, por sinal, é a maior fonte de renda dos clubes do Brasil e em qualquer lugar do mundo.

O negócio que se tornou hoje o esporte - para o bem e para o mal - se deve aos grandes investimentos no segmento nas últimas décadas aliados à globalização. É um fenômeno recente se lembrarmos que, por exemplo, os patrocínios nas camisas do times de futebol brasileiro só foram autorizados no início da década de 80. O tratamento do esporte como um negócio é um processo consolidado e inevitável, cabendo a dirigentes esportivos e patrocinadores tornar esse negócio cada vez mais atrativo.

Os patrocinadores cumprem o seu papel, o problema é que os dirigentes esportivos não fazem o deles. Agem pensando exclusivamente no dinheiro, e o balanço necessário entre negócio e valorização do espetáculo é perdida. É seu dever zelar pela modalidade esportiva pela qual são responsáveis, tornando-a um produto cada vez mais atrativo e assim atraindo mais investidores. Com certeza a melhor forma de se fazer isso não é marcando jogos da seleção na Rússia em fevereiro, deixando a Globo ter o monopólio das transmissões esportivas no Brasil ou perdendo a oportunidade de investir a longo prazo em determinada modalidade esportiva toda vez que um atleta brasileiro atinge destaque internacional.

Isso se faz com calendários melhor elaborados, levando em conta não só a modlidade em si como as demais (os EUA dão uma aula nesse sentido, em qualquer época do ano existe uma modalidade com seu campeonato em fase decisiva); com políticas de retenção de atletas no País por mais tempo possível; com concorrência efetiva e limpa entre potenciais investidores; com transparência na administração de federações e clubes; com profissionais capacitados na gestão do esporte em suas diferentes esferas de atuação; com, finalmente, respeito ao consumidor do esporte.

Não é preciso reinventar a roda para fazer tudo isso. Basta olhar o que é feito nos países de Primeiro Mundo e adotar suas práticas bem-sucedidas, adaptadas à realidade brasileira. Basta querer fazer, só isso.

No final das contas o esporte tem que ser interessante, primordialmente, para um elemento desse mundo: o torcedor, seu consumidor final. A partir do momento em que o torcedor não tiver mais interesse, o esporte perderá a sua razão de ser.

O negócio do esporte é emoção e beleza, e se isso for perdido não haverá dinheiro que o justifique.