quarta-feira, 30 de julho de 2008

Quem paga a conta?

O êxodo de jogadores brasileiros é uma realidade que dificilmente será mudada - pelo menos no curto/médio prazo - e cabe aos clubes aprenderem a lidar com o problema.

Do lado inverso, porém, outro fenômeno ocorre: o repatriamento de jogadores, muitas vezes recém-negociados com algum clube estrangeiro.

Não é de hoje que boa parte dos jogadores brasileiros não tem formação nem maturidade para saber lidar com as mudanças provocadas pela troca de país. Oriundos, na maioria dos casos, das classes mais pobres da população, eles não têm a instrução necessária para suportar a distância, o frio e novos costumes, não se adaptam e acabam voltando. Casos clássicos são o de Viola, que passou meses em Valência à base de bolacha água e sal, já que a "comida era muito ruim"; e, mais recentemente, a vinda de Souza ao Grêmio, seis meses após ter trocado o São Paulo pelo PSG, pois segundo o próprio "Paris não é tudo isso" (sem comentários).

Um ponto nessa história me intriga: depois dessas mal-sucedidas passagens por clubes europeus, tais jogadores são obrigados a devolver as luvas que receberam quando da conclusão da negociação? Ou a pujança econômica destes verdadeiros conglomerados esportivos é tamanha que alguns milhares de euros não fazem diferença?

terça-feira, 29 de julho de 2008

Nada muda

É obvio que derrota do Brasil na Liga Mundial de Vôlei merecia menção neste blog, só não a postei ontem pois mão sabia ao certo o que escrever.

Na verdade, não tem muito o que falar da derrota em si. Os melhores times geralmente vencem, mas nem sempre, assim como os piores geralmente perdem, mas de vez em quando também quebram a regra. Seguindo a mesma linha de raciocínio, o Brasil poderá ser medalha de ouro nas Olimpíadas mesmo tendo ficado de fora da final da Liga, da mesma forma que poderá perdê-la (o que já é uma imprecisão, pois não se perde algo que não se tem) mesmo se tivesse conquistado o título no Maracanãzinho.

Eu prefiro adotar a visão simplista da coisa: os EUA venceram pois se prepararam para o confronto e jogaram uma partida impecável, e o Brasil não estava no seu dia mais feliz. Coisa normal no esporte.

O trabalho psicológico para levantar a moral do time terá de ser feito com a mesma intensidade se o objetivo fosse conter a empolgação de uma equipe considerada imbatível por muitos. Apenas em vetor contrário.

Dois aspectos, porém, devem ser levados em conta nas próximas semanas. O primeiro é a incapacidade de reação do time no curto prazo, que não foi capaz de levantar a cabeça após a derrota para os EUA e perdeu também a decisão do 3o ligar para a Rússia. Tudo bem, perder em casa é dolorido - embora não incomum na história do esporte brasileiro - e é natural que um time tão fortemente baseado na emoção como a Seleção Masculina de Vôlei sentisse a perda. Mas a idéia, tão difundida (incompreensivelmente) no Brasil de que "o 2o colocado é o primeiro dos perdedores" não pode ser tão passivamente assimilada por atletas de alto nível. O ouro olímpico é uma coisa extraordinária, o ápice da carreira de qualquer atleta, mas a prata e o bronze também são. Pelo menos para mim, subir no pódio olímpico para receber uma medalha de bronze é infinitamente mais gratificante do que terminar em 4o. Porém, a disputa pelo bronze é sempre precedida de uma derrota, que precisa ser rapidamente digerida.

Em segundo lugar, como não podia deixar de ser, é o prejuízo que a falta do Ricardinho fará em Pequim. Afinal, das duas competições sem o jogador, vencemos uma - o fraco Pan-Americano - e ficamos fora do pódio da segunda. Não há como negar que a ausência do melhor levantador do mundo faz falta em qualquer equipe - inclusive na melhor do mundo. Só que Ricardinho não está no grupo por seus próprios erros, e considero justa sua punição. Qualquer menção a um suposto nexo entre o "fracasso" nas Olimpíadas e o corte do levantador será não só um desrespeito a seu substituto como também uma ode à insubordinação e ao egocentrismo. Como se a vitória devesse ser persguida a qualquer custo, mesmo que atropelasse a moral e a harmonia de um grupo.

A Seleção Masculina de Vôlei continua sendo a melhor do mundo, possivelmente de todos os tempos. E nem a falta de uma medalha de ouro olímpica mudará isso.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Patético

Ontem fui ao Morumbi assistir São Paulo x Portuguesa (que eu não chamo de "clássico" nem sob tortura).

Mas não vou falar do jogo em si, mas de um detalhe que talvez tenha passado despercebido da maioria dos 12 mil torcedores presentes.

Pouco antes das 18:00, como esperado, o trio de arbitragem entrou em campo; alguns minutos depois foi a vez dos jogadores da Portuguesa subirem dos vestiários. Eis que, de repente, o Hino Nacional começa a ser executado nos alto-falantes do estádio, e uma cena bisonha se desenhou em campo: de um lado, os jogadores da Lusa trocando passes de aquecimento, e do outro os tricolores entrando em campo arrastando dezenas de torcedores-mirins. Ao centro, o trio de arbitragem perfilado em "respeito" ao Hino. Alguns segundos depois, o quarto árbitro (que provavelmente também não tinha escutado a música) se juntou aos três primeiros, permanecendo até o final da execução - quando, finalmente, os jogadores do São Paulo terminavam de ser ovacionados pelas arquibancadas.

Eu não sabia se saudava meu time, se xingava o adversário ou se levantava em respeito ao Hino Nacional. Na dúvida, permaneci sentado, apenas observando o descalabro patriótico.

Também não sei de quem foi a falha: se do operador de áudio do estádio, das equipes que se atrasaram ou se da arbitragem que permitiu o suposto atraso. Mas este não é o ponto.

Dizem que existe uma lei estadual (ou federal) que exige a execução do Hino Nacional no início de todos os eventos esportivos. Não me dei ao trabalho de procurar tal ato legislativo, pois de qualquer forma não passará do resultado do "trabalho" de algum parlamentar que, por falta do que fazer ou por pura incompetência (ou os dois) resolveu passar uma lição forçada de Educação Moral e Cívica na população.

Seja por falta de educação - no sentido de formação escolar mesmo - ou pela própria natureza do povo brasileiro, não respeitamos tanto nossa história e símbolos como outros povos. Mas imposições desse tipo não resolvem a questão, e ainda podem gerar situações patéticas como essa de ontem no Morumbi.

Do blog do Juca

"Deu no 'Correio Braziliense' de ontem

Por JOSÉ CRUZ

O primeiro aniversário da realização dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, que ocorre hoje, será comemorado amanhã com o lançamento do livro Rio 2007 — Viva essa energia, registro com fotos e textos dos principais momentos da competição, que teve a participação de 5.633 atletas de 42 países.

Durante os jogos, foram batidos 123 recordes pan-americanos, e o evento classificou diretamente 10 modalidades para as Olimpíadas de Pequim.

Além do livro, o Comitê Organizador do Pan 2007 apresentará o relatório oficial dos jogos, com resultados de todas as provas e a classificação final, em que o Brasil aparece em terceiro lugar — atrás das tradicionais delegações dos Estados Unidos e Cuba —, seu melhor desempenho nas 15 edições do Pan.

Euforias à parte e fora das áreas de competições, a principal expectativa sobre o Pan 2007, que colocou o Brasil na geografia internacional de competições de nível olímpico, é para a apresentação do relatório financeiro, com análise de gastos públicos que chegaram a R$ 3,5 bilhões.

O orçamento original previa investimento de R$ 400 milhões.

O trabalho preliminar, realizado pela Secretaria de Controle Externo (Secex) do Tribunal de Contas da União (TCU), no Rio de Janeiro, foi encerrado na sexta-feira.

Na próxima semana, deverá chegar à mesa do ministro Marcos Vilaça, relator do documento, em Brasília.

Segundo a assessoria de imprensa do TCU, 'o ministro pretende levar o relatório final a julgamento o mais breve possível'.

Até agora, a atuação do TCU resultou na abertura de mais de 30 processos.

O mais recente (nº9.255/2007-8) deverá ouvir explicações de Ricardo Layser Gonçalves, representante do Ministério do Esporte no Comitê Organizador do Pan, e José Pedro Varlotta, assessor de tecnologia do evento.

Eles determinaram a realização de serviços de informática e de obras civis sem licitação.

Esse ato 'configura gestão antieconômica e ilegal', atestam os auditores do TCU.

Superfaturamento

Esse não é o único projeto que envolve a dupla Layser-Varlotta, militantes do PCdoB, do qual o ministro do Esporte, Orlando Silva, é um dos expoentes.

Uma das mais escandalosas denúncias que Layser e Varlotta estão envolvidos exibe indícios de superfaturamento de 16.000%, na aquisição de um sistema para credenciamento de atletas e autoridades.

Nessa compra, feita à empresa Atos Origin, o governo federal desembolsou R$ 106,2 milhões, equivalente a 75% do valor do contrato, conforme o repórter Ugo Braga, do Correio Braziliense, divulgou em 27 de abril deste ano.

A falta de licitações foi um dos mais graves problemas na fase preparatória do Jogos Pan e Parapan-Americanos do Rio de Janeiro.

O serviço de segurança, por exemplo, envolvendo verbas da União e da Prefeitura do Rio, num total de R$ 290 milhões, não foi licitado.

O mesmo ocorreu com as cerimônias de abertura, encerramento e premiações, comandadas pela empresa Mondo Entretenimento.

Em resposta ao TCU, os responsáveis pelo evento tinham explicações comuns:

'Falta de tempo hábil para realizar as licitações' ou 'falta de pessoal qualificado para desenvolver projetos específicos'.

Enquanto o relatório final do TCU não é apresentado, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do Comitê Organizador do Pan 2007, Carlos Arthur Nuzman, festeja, conforme comunicado que divulgou na sexta-feira:

'Até hoje ouvimos comentários elogiosos ao Rio 2007, seja nas reuniões das quais participo mundo afora como membro do Comitê Olímpico Internacional, seja aqui no Brasil. Isso nos dá um orgulho muito grande. Os Jogos Pan-Americanos foram realizados com padrões olímpicos de instalações e serviços, o que garantiu o sucesso do evento. É muito gratificante perceber o orgulho das pessoas com relação a tudo o que o Rio 2007 representou', afirmou Nuzman.

Ficaram na promessa

Há um ano, os olhares das Américas se voltavam para o Rio de Janeiro.

Num Maracanã rejuvenescido e lotado, a cidade celebrava a abertura dos Jogos Pan-Americanos com uma festa inesquecível.

Nas semanas seguintes, as modernas instalações construídas ou remodeladas para o evento foram palco de ferrenhas disputas e recordes continentais, prenúncios de um legado esportivo fundamental na campanha para sediar os Jogos de 2016.

Entretanto, as promessas de utilização maciça de estádios e arenas para formação de novos talentos, feitas à época, chegam ao primeiro aniversário do Pan ainda longe de serem cumpridas.

O piso azul emborrachado do Estádio Olímpico João Havelange simboliza a ociosidade.

Pelas raias da única pista da América Latina credenciada a receber um Mundial de Atletismo, atualmente só circulam jogadores de futebol a caminho do gramado.

Cedido pela Prefeitura do Rio ao Botafogo, o Engenhão hoje é palco exclusivo de partidas do Campeonato Brasileiro e não recebe uma bateria sequer de atletismo desde 19 de agosto de 2007, quando Terezinha Guilhermino ganhou a medalha de ouro na final dos 200m feminino T11 do Parapan. (Nota Esporte Brasilis: em coluna da revista Trivela de set/07, 0 jornalista Cassiano Gobbet já havia discorrido sobre a utilização do estádio após o Pan; entre outros pontos, apontou que o custo total de construção do estádio seria pago, com a taxa de direito de uso paga pelo Botafogo, em 880 anos - sim, o número está correto.)

Quando recebeu as chaves do Engenhão, em outubro do ano passado, o presidente do Botafogo, Bebeto de Freitas, notou que não tinha a cópia de um dos depósitos.

Ainda em 2007, o presidente da Federação de Atletismo do Rio, Carlos Alberto Lancetta, esteve no Engenhão com a chave para retirar o que estava guardado no depósito.

Foram R$ 2,5 milhões em materiais usados nas provas do Pan e do Parapan (barreiras, blocos de partidas, cronômetros, dardos, discos, etc).

Sem um documento oficial da prefeitura ou do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Bebeto se negou a autorizar a retirada, que só foi feita em fevereiro, depois que a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) enviou ofício comunicando que o material lhe fora cedido, por comodato, pelo Ministério do Esporte.

O Rio de Janeiro, no entanto, só ficou com um quarto do total, hoje guardado no Estádio Célio de Barros.

O restante foi distribuído pela CBAt para centros em Uberlândia (MG), Bragança Paulista e Ibirapuera (ambos em São Paulo).

No Engenhão, resta apenas uma gaiola de lançamento, desmontada e sem uso.

Na Arena Multiuso, a vocação esportiva ficou em segundo plano.

Cedida para o grupo francês GL Eventos até o fim de 2016, o espaço ganhou nome de banco privado e passou a receber shows e eventos corporativos.

Já o Velódromo e o Parque Aquático Maria Lenk têm recebido poucas competições.

No Centro Esportivo Miécimo da Silva, nada ficou do piso especial para patinação artística nem dos equipamentos de squash e karatê.

E há problemas até nos locais que mais sediaram competições nos últimos 12 meses.

O complexo da Vila Militar de Deodoro, por exemplo, recebeu mais de 30 eventos esportivos.

A intenção de criar ali um centro de formação de pentatletas, no entanto, esbarra numa limitação básica.

Só há equipamentos para a prática de quatro das cinco modalidades que compõem o esporte: hipismo, tiro, natação e corrida.

Falta a esgrima.

'Em 2009, será iniciada a construção de um ginásio para a esgrima', diz o ex-nadador Djan Madruga, secretário de Alto Rendimento do Ministério do Esporte.

Em dezembro, também deve ser inaugurado no complexo um centro de treinamento de judô."

Nota Esporte Brasilis: é por esse motivo que, mesmo já tendo escrito que, pelo lado da festa, a Copa do Brasil será sensacional, sou contra a realização de eventos desse porte em nosso país. Só a preparação da candidatura do Rio-2016 custará R$ 85 milhões aos cofres públicos, e a desculpa que a organização desses eventos traz melhorias às cidades-sede não passa de pura balela.

No caso do Pan-2007, não só as tais melhorias à população não saíram do papel como as instalações esportivas estão às moscas. Isso sem falar nas inúmetas suspeitas de corrupção e má gestão de dinheiro público.


Já temos casos de corrupção demais para criarmos novas situações para que ocorram.

E os problemas do Brasil devem ser solucionados pelo simples fato de existirem, e não em função de uma competição esportiva.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Não podia faltar

A primeira dobradinha brasileira num pódio da F1 após 17 anos não podia passar em branco.

Muito legal mesmo.

Só que até o mais fanático torcedor do automobilismo há de concordar que as ultrapassagens de antigamente eram muito mais emocionantes que as estratégias de paradas nos boxes de hoje.

10 opiniões sobre o Brasileirão

Devido a minha falta de tempo para escrever mais a fundo sobre o Brasileirão, o jogo é rápido:

1) O Flamengo não é fogo de palha e continua sendo candidato ao título, mas os anteriorse nove pontos de vantagem - assim como qualquer outra larga vantagem a ser aberta por outro time - era ilusória e mero acaso.

2) O Grêmio não vai à Libertadores 2009.

3) O Real Madrid fudeu o Cruzeiro, que vai penar sem Ramires.

4) O Vitória, ao contrário, é fogo de palha. Porém, para quem estava na Série C em 2006, o papel já foi cumprido.

5) O São Paulo não queria ganhar mais um Brasileirão; mas estão deixando o Tricolor chegar.

6) O favoritismo palmeirense fica mais teórico a cada rodada.

7) O Internacional, ao contrário do rival tricolor, vai à Libertadores 2009 - se não chegar mais longe ainda em 2008.

8) Dentre os quatro rebaixados, estará pelo menos um destes campeões: Vasco, Botafogo, Atlético-MG e Santos.

9) A Portuguesa deu um grande passo de volta à Segundona ao demitir Vágner Benazzi.

10) O Fluminense vai à Sul-Americana, mesmo sem os Thiagos.

Ainda em tempo

O basquete masculino, como esperado, não vai a mais uma Olimpíada. Apesar do Pré-Olímpico ter acabado - para nós - na sexta-feira passada, acho que ainda dá tempo de deixar meu breve comentário a respeito.

Quem foi para a Grécia deu o melhor de si. Até conseguiram levar o jogo no pau contra a anfitriã e Alemanha - pelo menos por um quarto. Depois desses começos animadores e imprevistos, as coisas voltaram ao normal e levamos duas sacoladas. Cheguei a ficar triste com a eliminação - e foi impossível não me emocionar ao ver Ruy de Freitas, o "Tio Ruy", medalha de bronze em Londres-48, chorando na matéria da ESPN.

Mas era óbvio, até para um mero expectador do basquete como eu, que a seleção convocada não tinha nível para a disputa do Pré-Olímpico - consequentemente, muito menos para os Jogos Olímpicos; também é claro que a CBB vive uma crise administrativa sem perspectiva de fim, pelo menos enquanto os atuais dirigentes lá permanecerem.

Quem não tem ao menos um campeonato nacional decente, não pode brigar por nada internacionalmente.

Então, para fugir do lugar comum, deixo a pergunta: porque os comentaristas de basquete, que estão muito mais por dentro do assunto do que eu, não levantaram esses pontos às vésperas da competição, ao invés de se perderem em vazias apostas na classificação brasileira? Pelos comentários prévios de Oscar, Wlamir Marques e Alberto Bial, por exemplo, o Brasil iria pra cima, de igual para igual, com qualquer seleção do Pré-Olímpico; após a derrota para a Alemanha, como que por mágica, mudaram completamente o tom, apontando o evidente baixo nível técnico do Brasil como culpado pela derrota. A tática do "Eu já sabia" surgiu sem cerimônia nas rodas de comentaristas.

Torcer faz parte, e empolgar a torcida também é papel dos comentaristas esportivos. Mas quando a verdade sobre os fatos fica encoberta pelo medo de errar - e se sujeitar a críticas de quem fora criticado - o valor dessa análise de especialistas fica seriamente comprometido.

ps: quanto ao esporte brasileiro, comentaristas medrosos e parciais, dirigentes incompetentes e falta de amor à camisa não são exclusividade do basquete.

terça-feira, 15 de julho de 2008

No mesmo time?

Eu acredito.

Brasileiros na Eurocopa


Esse ano, jogadores brasileiros não só jogaram a Eurocopa como também a ganharam.

Mas não foi só dentro de campo que os brazucas deram o ar de sua graça.

Segue abaixo, com grande satisfação, o relato do André Brito, boleiro e amigo de primeira, que foi à Áustria e Suíça e conta um pouco como foi a festa.

"TIME TO MAKE FRIENDS, VOLUME II

O slogan ‘tempo de fazer amigos’, que ficou famoso na Copa do Mundo da Alemanha em 2006, certamente poderia ser aplicado ao fantástico evento após 2 anos depois da Copa, a Eurocopa realizada nos países da Suíça e Áustria.

Mais uma vez, a tônica da competição foi o ambiente criado para assistir aos jogos. Em cada cidade sede, oito no total, sendo quatro cidades na Suíça (Berna, Basiléia, Genebra, Zurique) e quatro na Áustria (Innsbruck, Klagenfurt, Salzburgo e Viena), foi montada uma estrutura que permitia que o público sem ingresso pudesse ver os jogos nas praças públicas, munidas de telões (em Viena vi pelo menos 6 deles) e toda a estrutura alimentícia, sanitária etc. Os locais eram chamados de FanZone (na Copa eram chamados de FanFest). Era impressionante ver as cidades (em sua grande maioria cidades pequenas, de 150.000 habitantes) simplesmente tomadas pelas torcidas dos times que lá fariam os seus jogos; o clima da véspera do jogo, a ‘provocação’ saudável são contagiantes. A torcida holandesa era um show a parte: com sua cor laranja marcante, invadiu Berna durante a primeira fase, nem as estátuas da cidade eram poupadas, também vestiram laranja! E as fontes da cidade tiveram sua cor branca e límpida transformadas para o laranja. Invasão esta no melhor sentido da palavra, já que em nenhum momento em Berna (nem em nenhuma outra cidade) presenciei alguma cena de violência, no maximo ânimos exaltados pelo calor do jogo, pela dor de uma derrota. Nada mais que isso. Ponto positivo: a polícia de ambos os países, extremamente bem preparadas para lidar com as multidões, impondo respeito mas ao mesmo tempo ganhando simpatia da torcida; tiravam fotos, os mais animados policiais até pintavam bandeiras dos países nos rostos. Tudo num clima de muito respeito. A torcida da Croácia também marcou presença em Viena, na semifinal fatídica contra a Turquia, os suecos tomaram Innsbruck, o que dizer então dos portugueses em Genebra. Fica muito claro como o conceito do jogo para eles é diferente, como está muito mais relacionado ao entretenimento (como ir a uma ópera, a um teatro), agregando um forte condimento que é a paixão por este esporte. Os jogos, certamente, ficaram por muitas vezes em segundo plano.

O mais interessante é que as diferentes torcidas viajavam milhares de quilômetros para ver os jogos em praça pública! Sim, a questão dos ingressos continua sendo um tema complicado e complexo. Estádios pequenos em ambos países (média de capacidade de 30, 35 mil) contribuíram para o aumento da demanda por ingressos. Os preços para as primeiras duas rodadas do torneio no mercado negro ultrapassavam os 500 euros. Para se ter uma idéia, esse era o preço de uma quarta de final entre Brasil e França na Copa.

Outra questão era a falta na maioria das cidades de voluntários em pontos estratégicos e de sinalização adequada de estacionamentos para vans, motorhomes. Dado o elevado número de turistas motorizados que chegavam nas cidades, principalmente na véspera e no dia dos jogos, era de se esperar uma melhor sinalização de estaciomentos, vias fechadas próximas ao estádio etc.

Depois de 3.300 km percorrendo as oito cidades, fica a certeza de ter vivenciado um evento tão expressivo quanto a copa do mundo, tendo o jogo em si sido apenas uma pequena porção de tudo que se respirava ao redor desta bem sucedida competição."

quinta-feira, 3 de julho de 2008

A vida continua

Desde antes de acabar o jogo ontem, já tinha pensado em nomear esse post como 'Maracanazzo Tricolor', caso o Fluminense perdesse. Mas mudei de idéia visto que boa parte da crônica esportiva teve o mesmo raciocínio.

Na verdade, nem vou me demorar muito aqui. Não vi nenhum jogo desta Libertadores desde o dia 21 de maio, por motivios que já expressei na ocasião, e não seria justo agora escrever linhas e linhas sobre a desgraça alheia. Mas, por outro lado, um blog que se propõe a falar sobre o esporte brasileiro não poderia calar-se após uma final de Libertadores envolvendo um time brasileiro - ainda mais depois de uma final como a de ontem.

Não me lembro de uma Libertadores mais sensacional do que a de 2009, com um time com uma campanha tão sensacional como a do Fluminense, e com um desfecho tão sensacional como o confronto contra a LDU. É inegável que o Tricolor merecia - ou mereceria - ser o campeão, mas também é injusto tirar os méritos da LDU.

Diante da catástrofe do Maracanã de ontem, alguns pontos merecem nota:

- A linha entre confiança e soberba é tênue, e o Flu parece tê-la cruzado;

- É muito arriscado, no futebol, fazer uma aposta única tão alta desse jeito. O Santos em 2007 fez de tudo para vencer a Libertadores, perdeu e no processo torrou a fundo perdido os últimos reais que ainda tinha da venda do Robinho. O Fluminense foi dormir como quase campeão da América e acordou como pior do Brasil. Além de carregar a lanterna do Brasileirão, vai ter que conviver com a provável venda de alguns jogadores importantes e as restrições impostas pelas dívidas que se acumulam nas Laranjeiras;

- A campanha foi linda. Eliminou o São Paulo nos acréscimos, passou pelo Boca sem perder e reverteu um placar improvável na final. Mas vejamos: nos quatro jogos que fez em casa desde as oitavas-de-final, o Flu jogou 390 minutos, dos quais esteve classificado para a próxima fase por apenas 176. O time soube aproveitar o fato de ter tido a melhor campanha na 1a fase e da "vantagem" de poder decidir sempre em casa, só que também abusou da sua capacidade de correr atrás do resultado. Raça e vontade contam demais em uma Libertadores, mas para tudo tem um limite.

Não torci para o Fluminense. Mas confesso que, ao ver a imagem de inúmeras crianças chorando no ombro dos pais após o jogo, me sensibilizei.

Afinal, eu também fui uma criança que, há quase exatos 14 anos, chorou pelo mesmo motivo.