quarta-feira, 3 de junho de 2009

Palco da discórdia

Alguns dos melhores momentos da minha vida foram vividos dentro do Morumbi.

Alegres, a maioria, e tristes, outros, necessários para valorizar ainda mais os primeiros.

Com a realização do Copa-2014 no Brasil, a chance de assistir a um jogo de Copa do Mundo neste estádio acrescentaria outro importante marco na minha relação pessoal com ele.

Porém, sentimentalismos à parte, é preciso reconhecer: o Morumbi é um estádio ruim.

O acesso, difícil; estacionamentos, inexistentes. A entrada, então, consegue ser mais irritante que todo o resto. Apenas duas rampas para toda a arquibancada, sendo que uma delas começa (ou termina, dependendo do ponto de vista) junto à Giovanni Gronchi, uma avenida longe de ser tranquila.

A visão do jogo não é das melhores, já que a inútil pista de atletismo trata de aumentar ainda mais a distância para o campo (isso sem falar nos tais "pontos cegos" que a FIFA encontrou).

Cadeiras de plástico foram colocadas sobre o concreto, mas o conforto ainda passa longe das arquibancadas.

A saída ao fim do jogo é lenta, já que os estreitos acessos aos portões de saída (das arquibancadas) não dão a vazão adequada à multidão.

Sem contar com os aspectos técnicos levantados pela FIFA, já dá para afirmar que o São Paulo não tem um belo estádio - apesar de, na voz dos dirigentes tricolores, parecer se tratar da Oitava Maravilha do Mundo.

Tudo bem que alguns dos pontos por mim listados são facilmente corrigíveis (com recursos do São Paulo Futebol Clube ou de eventuais patrocinadores, diga-se), em se tratando de uma Copa do Mundo. Mas, mesmo que não fossem, não muda o fato de que o Morumbi deve ser o estádio de São Paulo para o evento. Porque será inadmissível a construção de nova arena na cidade.

Já temos em belo estádio público, que é o Pacaembu- que, por sinal, é deficitário. Por que teremos de arcar com outra obra destas, que não trará nada senão mais despesas para São Paulo?

Como dito no post abaixo, estádios brotarão como erva daninha Brasil afora, fazendo a festa dos inescrupulosos. Seria o fim da picada ver isso acontecer na minha cidade, que já possui um estádio. Como também seria um absurdo assistir de perto à repetição do que aconteceu com o Engenhão, no Rio, que foi pago com dinheiro do povo e dado praticamente de graça a um clube privado, já que não havia outra utilidade para ele.

A Copa do Brasil deverá ser disputada nos Maracanãs, Mineirões e Morumbis que temos - reformados e adequados para tal.

E deverá ter a cara do Brasil, não da Alemanha ou do Japão.

Não podemos arcar com obras despropositadas apenas para mostrar para o mundo que somos algo que não somos.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

O início da farra

Sem nenhuma surpresa, foram divulgadas oficialmente as cidades-sede da Copa 2014.

São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, Curitiba, Cuiabá, Salvador, Recife, Natal, Fortaleza e Manaus terão a honra de receber os jogos do maior evento esportivo do mundo.

Além de, claro, milhões de reais em investimento.

Que fazem salivar a boca de políticos e aproveitadores.

A Copa que não veria um centavo de dinheiro público empregado na construção de estádios já não existe mais. Já tivemos R$ 50 milhões torrados, a troco de nada, no absurdo Bezerrão, um estádio para quase 40 mil torcedores, em uma cidade pobre de pouco mais de 100 mil habitates, e que servirá no máximo como campo de treino de algum seleção que se hospedar em Brasília.

E não vai parar por aí. Longe disso.

O Estado de S. Paulo trouxe ontem a relação dos gastos previstos na construção ou reformas de estádios país afora. Segue parte da lista:

Vivaldão, Manaus: R$ 400 milhões
Verdão, Cuiabá: R$ 350 milhões
Mané Garrincha, Brasília: R$ 600 milhões
Castelão, Fortaleza: R$ 400 milhões
Fonte Nova, Salvador: R$ 250 milhões
Mineirão, Belo Horizonte: R$ 500 milhões
Maracanã, Rio de Janeiro: R$ 430 milhões

Essa parte não foi escolhida sem critério. Ela traz os estádios em que os investimentos serão com dinheiro público, totalizando a bagatela de R$ 2,93 bilhões.

Repito: DOIS BILHÕES E NOVECENTOS E TRINTA MILHÕES DE REAIS. Apenas em estádios.

Pois é. E tudo isso gasto em obras como, por exemplo, um estádio para 71 mil torcedores em Brasília. Qual a utilidade pós-Copa disso?

Estão previstos também bilhões em obras de infra-estrutura, que serão mais do que bem vindos. Mas nesse ponto deixo uma questão: é preciso uma Copa do Mundo para resolvermos nossos problemas?

Respondo: sim. Pois, se alguém não levar alguma "vantagem" nisso, não seria Brasil.

Vai ter muita gente, que não liga a mínima para futebol, rindo à toa por causa da Copa.

Brasil-2014 já é uma realidade, não dá mais para voltar atrás, e o máximo que podemos fazer é torcer para que estejamos errados, já que nem fiscalizar parece ter muita utilidade - vide o relatório do TCU sobre o Pan.

E torcer para que outros eventos deste porte passem longe daqui. Pelo menos enquanto não solucionarmos nossos reais problemas.

O que o Brasil menos precisa é mais uma chance para a corrupção proliferar.