quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Tão estranho quanto a ficção


No espetacular livro de George Orwell "1984", o protagonista Winston Smith é um funcionário do Ministério da Verdade, e o seu trabalho consiste basicamente em alterar todas as notícias já publicadas sobre determinados assuntos (mais notadamente a guerra que seu país trava ora com um inimigo, ora com outro), de acordo com instruções superiores e sempre sobre a presença onisciente do Grande Irmão (o Big Brother original). A trama se passa em um futuro não tão longínquo, pós-guerra e dominado pelo totalitarismo.

Reescrever a história sempre foi um expediente utilizado pelos vencedores e/ou déspotas de modo a perpetuar as suas visões da história, transformando mentiras em verdades ou meias verdades em inteiras.

Ontem, o brasileiro mostrou mais uma vez que sua criatividade não tem limites, e de ofício alterou a história do futebol brasileiro. Sem discussões, sem contra-argumentação, apenas com uma assinatura.

Não sou historiador (embora quisesse sê-lo), mas minha curiosidade e gosto pelo esporte fizeram com que eu conhecesse um pouco a história do futebol praticado no meu país, a qual descrevo resumidamente abaixo.

Fase da introdução: final século XIX-1930
O futebol, oficialmente introduzido no Brasil por Charles Miller, rapidamente abandona o exclusivismo da elite e abraça o povo, tornando-se não só o esporte mais popular do país como um traço fundamental da sua cultura. Época romântica, amadora, com competições disputadas em campos de várzea e ainda sem muitos indícios de que o foot-ball se tornaria o futebol. Nesse período é fundada a maioria dos clubes que se tornariam populares nas décadas seguintes e também a Confederação Brasileira de Desportos, que englobaria a organização do futebol no Brasil. A rivalidade real da época ocorre entre Estados, e não propriamente entre as agremiações. O grande nome do período, além de Miller, é Artur Friedenreich, que precisava esconder suas origens debaixo de camadas de pó-de-arroz para ser totalmente aceito. No cenário mundial, temos a fundação da FIFA e os Jogos Olímpicos como a grande competição.

Fase da regionalização: 1930-1950
O amadorismo dá lugar ao profissionalismo, jogadores transformam-se em ídolos reconhecidos e os Campeonatos Estaduais consolidam-se como os principais torneios do país. Leônidas da Silva, o "Diamante Negro" virou nome de chocoloate, que ainda está por aí. Campeonatos Paulista, Carioca, Mineiro, etc. atraem multidões aos estádios e marcam a divisão entre "grandes" e "pequenos", nunca mais do que quatro por Estado. As distâncias brasileiras, vencidas ainda com dificuldade, não permitem a criação efetiva de torneios nacionais, embora três edições do Torneio Rio-São Paulo tenham sido realizadas, sendo apenas uma terminada. O acirramento da rivalidade entre Federações estaduais traz mais problemas que soluções, como as Seleções enfraquecidas nas primeiras Copas do Mundo. Quatro edições deste torneio são disputadas, que terminou com a tragédia do Maracanazzo e a consagração do complexo de vira-latas de toda uma nação.

Primeira fase da nacionalização: 1950-1970
Futebol já é coisa muita séria por aqui, e o progresso da década de 50 permite novos saltos. Torneios nacionais são, enfim, disputados com regularidade, embora ainda disputando espaço em importância com os torneios estaduais. O Torneio Roberto Gomes Pedrosa, popularmente conhecido como Rio-São Paulo, passa a ser disputado anualmente e no final do período (1967) admite times de outros Estados, voltando a ser chamado por seu nome original (ou "Robertão"). Em 1959, com o início da disputa da Libertadores da América, é criada a Taça Brasil, que reunia os campeões estaduais e que indicaria os representantes brasileiros no torneio continental. Ninguém foi - nem será - maior que o Santos de Pelé. Com o desenvolvimento do esporte como um todo a CBD dá lugar às federações, dentre elas a Confederação Brasileira de Futebol - CBF. O mundo vê o ressurgimento da Copa do Mundo após o hiato bélico da década de 40 e aprende um novo jeito de se jogar o esporte bretão, com os três títulos canarinhos. A Copa de 70 (a maior de todas) encerra um período espetacular para o esporte no Brasil e no mundo, e cria um tal de marketing esportivo que viria para ficar.

Segunda fase da nacionalização: 1970-2002
O Torneio Roberto Gomes Pedrosa é substituído pelo Campeonato Brasileiro, disputado pela primeira vez em 1971, e a Taça Brasil é extinta (algo parecido surgiria no final da década de 80, com a Copa do Brasil). O Brasileirão demora um pouco a engrenar, disputando por boa parte do período as atenções com os Campeonatos Estaduais que, pouco a pouco, vão perdendo a relevância. Fórmulas complicadas e sem um padrão do torneio nacional mantêm o status quo da divisão entre "grandes" e "pequenos", aumentando ainda mais as diferenças entre os dois. A grana começa a rolar de verdade, os dólares falam mais alto que cruzeiros, cruzeiros-novos e cruzados e nossos craques deixam cada vez mais o país. O futebol globaliza-se e bilhões assistem a consagração de Ronaldo com o Penta.

Terceira fase da nacionalização: 2002-
Assim como grandes conglomerados econômicos tomaram o lugar das empresas regionais/nacionais, times com pouca torcida ou oriundos de Estados com menor capacidade econômica perdem espaço para os quatro grandes centros do país, principalmente Rio-São Paulo - e o futebol nacional perde ídolos, ainda antes de se tornarem ídolos, para centros no exterior. Os campeonatos estaduais tornam-se caricaturas do que já foram um dia, sustendos apenas por uma base que tem como único objetivo sua própria sustentação. O conceito dos "12 grandes", embora ainda aplicado, perde cada vez mais o sentido. O Campeonato Brasileiro, com décadas de atraso, adota a fórmula dos pontos corridos. Se isto for mantido (e tudo leva a crer que será) assistiremos à formação de um novo panorama do futebol nacional, com o fim definitivo dos times pequenos e diminuição do número dos "grandes" (afinal, nenhum campeonato no mundo gerou, no longo prazo, mais do que quatro times realmente dignos de carregar este adjetivo). A história ainda está em construção...

História não se altera, se valoriza. Deve ser contada tal qual aconteceu, para que saibamos como chegamos até aqui e para onde queremos ir. Para aqueles com essa noção, nem a mais poderosa canetada pode mudar o passado. E se nossa história não é devidamente valorizada, boa parte da culpa é daqueles que fazem parte dela.

O triste disso tudo é ver o futebol, patrimônio cultural brasileiro, nas mãos de gente que não dá a mínima pra ele. Mas utiliza-o como ferramenta de ativação do círculo virtuoso (vicioso?) poder-dinheiro-poder-dinheiro.

Um processo no qual, mais importante do que fazer o certo, é ser amigo do rei.

sábado, 24 de julho de 2010

Isso é palavra, meu filho

bati bastante em Muricy Ramalho. Afinal, acho que todo são-paulino com senso crítico percebe que, ao lado de tantas qualidades, persistem alguns defeitos - alguns irritantes.

Por outro lado, acredito que o bom senso deveria impedir que algum tricolor não gostasse do técnico. Vencer um Brasileiro pode ser obra do acaso; três, não.

A gratidão que tenho pelo Muricy é reflexo dos títulos que ele conquistou com o meu time, e o respeito, pela pessoa que ele é. Em um país sério, caráter não é uma característica que se destaca, pois é um aspecto tão básico e inegociável que vira a regra. Mas no Brasil, é uma qualidade de poucos, e Muricy mostrou mais uma vez que é uma pessoa de caráter.

O sonho de todo técnico bateu à porta, inesperadamente. Bastava um "sim", uma boa conversa com a Diretoria do Fluminense, que as coisas se acertariam. Mesmo contra a vontade, Horcades acabaria liberando o técnico para a Seleção.

Mas no meio do caminho tinha um acordo. Que não foi quebrado.

Vi meu interesse pela Seleção voltar por algumas horas, pois com Muricy no comando teria um ótimo motivo para tal. Com o desfecho da história, esse interesse voltou a diminuir, mas a admiração por Muricy Ramalho cresceu mais ainda. (Podem me chamar de piegas, não dou a mínima.)

A CBF sofreu uma bela derrota (ver Ricardo Teixeira ser passado pra trás não tem preço) e a Seleção terá de se contentar com Mano Menezes - incontestavelmente, a segunda opção da entidade.

O futebol ganhou um exemplo de como as coisas podem ser feitas.

E o Fluminense se apresenta como um dos grandes favoritos ao Brasileirão.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Brasileiro não gosta de futebol

Texto publicado ontem no Blog do Erich Beting, da UOL. Os grifos são meus.

"O Ibope da Copa de 2010 e a dificuldade para 2014

Sem o Brasil em campo, o brasileiro "desligou" a televisão durante a Copa do Mundo. Isso é o que aponta o acompanhamento feito pela Máquina do Esporte dos dados divulgados pelo Ibope durante o mês do Mundial da África do Sul. Brasil x Holanda foi o pico de audiência da Copa no país: 56 pontos na medição, somando-se as audiências de Globo (45) e Band (11). A decisão entre Espanha e Holanda, por sua vez, registrou marca menor que a da final do Campeonato Paulista (28 pontos na Globo contra 29 da decisão estadual).

Os números mostram uma realidade preocupante para a Copa do Mundo no Brasil, daqui a quatro anos. O brasileiro adora gabar-se de ser um povo apaixonado por futebol, tanto que abusou desse clichê na apresentação da logomarca da Copa de 2014, dias atrás, na África do Sul. Mas, via de regra, o que se vê é que o brasileiro é um povo apaixonado pelo seu time e por sua seleção.

Não é tanto a Copa do Mundo que movimenta a grande maioria da população, mas sim a torcida pelo time nacional. E os números do Ibope mostram isso. Sem a equipe de Dunga em campo, o interesse do torcedor pela Copa é inferior ao do Brasileirão ou dos Estaduais. E o que isso leva a projetar dificuldades para 2014?

O Brasil terá de ensinar sua população a ter interesse em ver jogos que, aparentemente, não são interessantes. Imagine o que pode vir a ser um confronto entre Nova Zelândia x Eslováquia? Será que há, de fato, interesse das pessoas numa partida como essa?

A Copa da Alemanha teve 100% de ocupação dos estádios. Importante lembrar que o país está no centro da Europa, sendo acessível a grande parte dos torcedores de diferentes países. O Mundial no Brasil, a exemplo da África do Sul, não será uma festa repleta de turistas de todas as partes do planeta. É mais caro, a logística de viagem é mais complexa, a insegurança é maior, especialmente do torcedor europeu.

O Brasil precisa, urgentemente, definir uma estratégia de comunicação para que o torcedor compareça na Copa do Mundo brasileira. Não apenas o turista que pretende acompanhar seu time, mas também o torcedor local, que precisa ver graça na Copa do Mundo, e não na seleção brasileira durante a Copa do Mundo. Do contrário, teremos de dar explicações tal qual a África para os clarões que foram vistos nos estádios."

terça-feira, 13 de julho de 2010

Nosotros

Do Presidente Lula, rebatendo as críticas ao "planejamento" brasileiro para a Copa de 2014:

"Terminou uma Copa do Mundo na África do Sul agora e já começam a dizer: 'cadê os aeroportos brasileiros, os estádios, cadê os corredores de trem brasileiros, cadê os metrôs brasileiros', como se nós fossemos um bando de idiotas que não sabem fazer as coisas e definir as nossas prioridades."

Sim, Presidente. Somos.

Atualização em 15/07: adiciono abaixo o texto do jornalista Luiz Fernando Vianna, publicado hoje na Folha de S. Paulo.

"Somos idiotas

RIO DE JANEIRO
- O texto ocupava só uma coluna, em página par, no caderno sobre a Copa de 2014 publicado pela Folha na última segunda-feira. Mas gritava atenção por causa do contraste com tudo o que estava em volta.

'Inglaterra-2018 já tem estádios e garantias', dizia o título. 'O projeto de candidatura do país já tem suas 12 cidades-sede e os 17 jogos que abrigarão os jogos', assinalava o texto.
Se o presidente Lula disser que não é justo nos comparar à Inglaterra, estará sendo contraditório. Ele não se orgulha de fazer do Brasil um protagonista da política e da economia internacionais, livrando-nos do complexo de vira-lata, assim batizado por Nelson Rodrigues?

Então por que, em vez de preparar uma Copa exemplar, os responsáveis públicos e privados não fizeram praticamente nada desde 2007, quando o país foi escolhido sede sem precisar sequer enfrentar concorrentes? A resposta é: somos idiotas. Um "bando de idiotas", para repetir a expressão usada por Lula anteontem.

Nessa primeira pessoa do plural, claro, não está Lula, força da natureza que sobreviveu a mensalões para, mesmo aliado à elite do fisiologismo nacional, deixar o posto como o mais popular dos presidentes brasileiros.

Nem estão as empreiteiras e outros entes privados que apostam no atraso para faturar mais e com menos trabalho, trocando as licitações pelo urgente e patriótico chamado dos governos.
Tampouco estão os ocupantes de cargos públicos, que serão obrigados, coitados, a liberar verbas de emergência para obras em estádios e aeroportos, todas feitas por doadores de suas campanhas.

Idiotas somos os que pensávamos em receber algum benefício social e vamos pagar uma conta de, por enquanto, R$ 33 bilhões -quatro vezes o custo da Copa da África do Sul."

Vencer não é tudo

O André Rizek disse um dia desses: "Vencer é o mais importante, mas não é tudo."

As recepções das seleções holandesas e uruguaias é prova disso.

Não que precisássemos desses exemplos, pois já tínhamos a Hungria de 54, a Holanda de 74 e o Brasil de 82.

É possível ser feliz, sentir orgulho e entrar para a história sem ser campeão.



segunda-feira, 12 de julho de 2010

2010 em 2040

A Espanha sagrou-se campeã do mundo e provou que artistas podem - e geralmente conseguem - vencer guerreiros.

A Holanda perdeu sua terceira final de Copa e não tirou o gosto amargo da boca.

A Alemanha renovou-se e, a princípio, apresentou uma nova geração de jogadores.

E o Uruguai, mesmo que momentaneamente, voltou a ser grande e escreveu uma das páginas mais bonitas de seu futebol.

Cada país guarda em sua memória lembranças particulares de cada Copa, diretamente relacionada ao resultado alcançado. Nós brasileiros, com uma rica história nesse campo, temos inúmeras, boas e más. E como eu não resisto a colocar as coisas em uma perspectiva histórica, faço e pergunta: como veremos a Copa de 2010 daqui 30 anos?

Para começar, explico porque 30 anos, e não 20 ou 40. Eu tenho 31 anos, então escolhi esse número por representar a minha idade e, consequentemente, a idade que terão, em 2040, aqueles que nasceram na época atual. Existe outro motivo, porém: na minha opinião, as Copas de 2006 e 2010 têm muitas semelhanças com aquelas disputadas em 1974 e 1978, aproximadamente 30 anos atrás.

Então vamos lá.

Quem gosta de futebol e é da minha geração conhece bem o que aconteceu em cada uma das cinco Copas que ganhamos - nada mais que o óbvio, pois é bom lembrarmos de coisas boas. Sabemos de cor todos os gols de 58, 62 e 70; sentimos até hoje a emoção da primeira conquista assistida ao vivo, em 94, e não reclamamos de viver tudo de novo em 2002. Além disso, claro, nos lembramos das outras Copas que não ganhamos. A minha primeira foi em 86, para aqueles alguns anos mais velhos foi 82, mas para ambos a derrota foi dura. 90, 98, 06 e 10 têm, cada qual à sua maneira, a sua imagem gravada na memória.

Das Copas que não assistimos, como já dito, conhecemos bem as que ganhamos e as duas grandes tragédias de 50 e 82; as "pré-diluvianas" (a expressão não é minha, não lembro nde li isso, mas adorei) de 30, 34 e 38 têm poucas - ou nenhuma - imagens, e até as de 54 e 66, que ainda não eram transmitidas ao vivo para o Brasil, não foram impregnadas no imaginário coletivo.

Sobraram duas: 74 e 78. Confesso que aquilo que sei dessas Copas foi aprendido em livros e revistas. Vi poquíssimas imagens desses torneios, e é inegável que pouco se fala a respeito. E, para mim, isso tem um motivo: foram Copas quase insignificantes para nós.

Sim, grandes jogadores as disputaram: Rivelino, Jairzinho, Nelinho, Luis Pereira, dentre outros. Até não fomos tão mal assim, visto que terminamos respectivamente em 3o e 4o lugares. Mas foram Copas em que o Brasil não foi tão Brasil, ainda mais vivendo a ressaca do nosso período mais vitorioso. Tínhamos acabado de vencer três Copas em quatro disputadas, encerrando a sequência com a espetacular seleção de 70. Era natural que o nível caísse um pouco, com a mistura do final de uma excelente geração com outra que ainda dava os primeiros passos.

Imagino que, em 2040, os trintões de então terão poucas informações das Copas de 06 e 10, basicamente pelas mesmas razões. O período antecessor foi formidável, com três finais disputadas e dois títulos; também tivemos uma geração se aposentando e outra, um tanto quanto incerta, assumindo; e, de novo, não tivemos desempenhos desastrosos. Bom não foi, mas ao menos ficamos entre os oito melhores.

Até os vilões deverão ser esquecidos. O dunguismo é irrelevante desde já, e o "dia de fúria" de Felipe Melo ficará, calado, ao lado da expulsão de Luis Pereira contra a Holanda, ou da briga no vestiário entre Leão e Marinho Chagas - lembra quem viu, quem só ouviu falar não dá muita bola.

Uma última coincidência. Logo após as duas Copas "esquecidas", tivemos algo especial. No início dos anos 80, a Copa da Espanha tem até hoje o nosso carinho - mesmo com a derrota. Nem a 5a colocação mudou o fato que a Seleção de 82 foi fantástica. E não custa lembrar que a primeira Copa da próxima década será no Brasil. O que a torna, indepemdentemente do resultado, especialíssima.

Tomara que os resultados de 1982 e 2014 não sejam outra coincidência histórica.

sábado, 3 de julho de 2010

Aos patriotas de botequim

Charge sensacional publicada hoje na Folha de S. Paulo.

Síntese

Volto a colocar aqui um trecho da coluna de Daniel Piza, sempre preciso, publicada hoje no stadEo de S. Paulo:

"Tomara que o fracasso dessa pseudo-renovação - com apenas um jogador com menos de 25 anos - abra espaço para o retorno da noção de uma seleção se faz com os jogadores mais talentosos, não com os mais obedientes."

Perfeito.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Início de uma nova era?

Em cada eliminação do Brasil em Copas, culpados são eleitos.

Barbosa em 1950, Manga em 66, Cerezo em 82, Zico em 86. Em 1990, certo volante abusou dos carrinhos, exceto quando Maradona partiu em disparada naquela tarde em Turim.. e teve início a Era Dunga. Uma época de truculência e pouca arte.

Dunga foi pra casa, engoliu a seco e quatro anos mais tarde cuspiu todos os palavrões que sabia quando ergueu a Copa dos EUA.

Mas isso não foi suficiente, pois a mágoa era imensa. Anos se passaram e ela ainda estava lá, escondida, remoída. Até que o ex-volante tornou-se técnico da Seleção Brasileira, e encontrou nos bons resultados conseguidos no cargo mais uma oportunidade para trazê-la à tona novamente. Uma mágoa transformada em ódio, contra tudo e todos que ousassem contrariá-lo.

Nesse longo período de quase quatro anos, Dunga fez muitas coisas; algumas certas, outras tantas erradas. E no meio de tudo isso inventou Felipe Melo.

Felipe estava lá, quieto no seu canto, curtindo seu anonimato, quando Dunga achou que precisava de alguém como ele dentro de campo. Procurou e encontrou Felipe na Fiorentina, sem passagem marcante por nenhum clube. Ninguém entendeu (como ninguém entendera a convocação de Afonso), mas como Dunga gosta de uma boa peleja, bancou o volante. E a coisa foi indo...

Chegou a Copa e o jogador já era titular absoluto, invicto com a Seleção Brasileira. Ainda sem convencer, principalmente por causa de seu temperamento. Tentou ser expulso contra Portugal e não conseguiu - arrumou apenas uma contusão que o tirou das oitavas-de-final. Mas contra a Holanda o Fiel Escudeiro lá estava.

E jogava bem. Na minha opinião, o melhor em campo no aclamado primeiro tempo do Brasil. Até fazer um gol contra - o primeiro do Brasil em todas as Copas -, perder a cabeça e ser expulso quando já havíamos tomado a virada. Gol contra, expulsão e eliminação em uma Copa é mais do que Barbosa, Zico e os demais citados fizeram em suas épocas.

Que Felipe Melo será o símbolo desta eliminação, não há dúvida. Até porque a sua atuação desastrosa contribuiu para isso. Agora, crucificá-lo como outros já foram acho errado. Jogadores já carregaram fardos pesados demais por culpa de menos, e repetir isso seria uma grande estupidez. Ele carregará a atuação de hoje em sua biografia, e isso basta.

Mas há um outro motivo pelo qual não devemos fazer isso: provavelmente não precisaremos mais nos preocupar com Felipe Melo. Com o destronamento de seu inventor, espero que o próximo técnico da Seleção trate, rapidamente, de "desinventá-lo". Não precisamos dele, pois não é mais que um jogador comum, que temos aos montes por aí. Ele será mais um daqueles casos em que olharemos para trás e diremos: "Nossa, o Felipe Melo foi titular em uma Copa do Mundo...".

Felipe Melo não merece tamanha importância.

Fim

Acabou a Copa para o Brasil, e com ela o dunguismo.

A derrota para a Holanda encerrou um dos ciclos mais chatos e antipáticos da história da Seleção Brasileira, uma época em que culpou-se o talento contrastando-o com comprometimento. Não ouviremos mais - ainda bem - aquela conversa piegas de "amor à pátria", "guerreiros", e outros temas enfadonhos e ultrapassados.

Não fiquei triste com a eliminação, assim como não ficaria alegre com o título. O que não significa, também, que estava torcendo contra. Somente, não "comprei" o dunguismo, e estou feliz que tenha acabado.

Sei que não só o Dunga, como seus milhares de defensores (muitos destes amigos meus), estavam esperando o título do dia 11 para despejar toda a sua raiva, ignorância e revanchismo contra seus "adversários"( afinal, o Hexa de Dunga seria a prova cabal de que só é bom quem ganha, todos que perdem são ruins, e que a escolha de um "lado" é essencial em qualquer discussão - esse dualismo absurdo, irracional, provavelmente herança cultural de um país cristão); e que, como eles perderam, seria uma ótima oportunidade para "nós" irmos à forra e fazer o mesmo.

Não farei isso, por diversos motivos, mas principalmente por ser deselegante, por ser uma atitude que o Dunga teria. E eu sou bem diferente dele.

Discorrer sobre o que Dunga fez de errado também seria perda de tempo, pois tudo já foi dito e era sabido desde, pelo menos, o dia da convocação.

O que podemos falar é sobre o que ficará da Copa da África do Sul.

A Seleção do Dunga, sem dúvida, será lembrada como uma das piores que já jogaram uma Copa pel Brasil. Se havia alguma dúvida sobre isso, já que ela ainda era uma das favoritas ao título - e contra títulos não há argumentos, dizem - agora não há mais. O time de 2010 é limitado, sem alternativas. Não muito inferior do que os demais times da Copa, mas aquém do que poderia ter sido. E o técnico não deixará nenhuma saudade, sob nenhum aspecto.

Júlio César sai da Copa pior do que entrou. Continua sendo um goleiro espetacular e seu erro hoje não muda isso nem por um segundo. Mas terá que conviver com esse erro em sua biografia.

Maicon e Daniel Alves, principalmente o primeiro, fizeram um bom papel. Jogaram bem, são bons jogadores e são daqueles que "se salvaram". Continuarão na Seleção, mas chegarão em 2014 com mais de 30 anos.

Devo agora rever algo que escrevi no dia da convocação de Dunga, quando dei um empate na comparação entre as zagas de 1994 e 2010. Lúcio e Juan talvez tenha sido a melhor dupla de zaga da história da Seleção Brasileira em Copas. Jogaram muito em todos os jogos, inclusive em boa parte do jogo de hoje. A perda da Copa (embora Lúcio já tenha uma) talvez não conceda a justa grandeza à dupla - reflexo do dunguismo, se formos coerentes... Thiago Silva, Luisão e outros têm tudo para continuar dando segurança à zaga brasileira.

A lateral esquerda entrou muda e saiu calada. Michel Bastos não ficou confortável com a Amarelinha, e Gilberto ganhou mais uma Copa de presente.

Pouco restará também dentre as dúzias de volantes, quase-volantes e quase-meias deste time. Gilberto Silva jogou sua última Copa pela idade; existem melhores opções que Josué, Júlio Bapsita e Kléberson; Felipe Melo... bem, este terá um post só para ele. As exceções são Elano e Ramires. O ex-santista fez uma belíssima Copa e comoveu o país com a sua contusão. Muito triste. E o jogador do Benfica deve virar titular da Seleção já. Se nada de imprevisto ocorrer, será um dos grandes nomes em 2014.

Kaká merece um parágrafo só dele. Os craques merecem, e ele é um. Já ganhou quase todos os títulos que disputou, foi eleito o Melhor Jogador do Mundo pela FIFA... mas ele próprio queris ter a SUA Copa. Em 2002 foi campeão, mas era o caçula da turma, levado apenas para ir se acostumando com aquilo tudo. Em 2006, prestes a ter a melhor temporada da sua carreira, ainda dividia os holofotes com Ronaldo e cia. Agora em 2010, aos 28 anos, seria a sua vez de ganhar uma Copa como protagonista, e se colocar no seleto grupo dos grandes craques que foram decisivos no maior torneio do planeta. Mas faltaram-lhe pernas, literalmente; e não se sabe se ele as terá em 2014. O seu abatimento, talvez o maior entre todos os jogadores, tinha um bom motivo. E Kaká sabe disso.

O ataque segue a mesma linha. Temos aquele que saiu no lucro só por estar na África - Grafite -, um outro que deve continuar bem na Seleção - Nilmar -, e as decepções Luis Fabiano e Robinho. Mesmo com os cinco gols da dupla não há como negar que ambos saíram devendo, principalmente em momentos decisivos. Luis Fabiano quase foi expulso em pelo menos dois jogos e, de qualquer forma, não é um jogador fora de série. É um grande atacante, mas daí a ser um astro em Copas existe uma boa diferença. E Robinho apenas confirmou que é afinado. A capacidade que o pseudo-craque tem de se esconder nas horas mais difíceis impressiona. Infelizmente, por ser bom de marketing e representar bem o papel de futebol-moleque, ainda devemos ter de aguentá-lo até 2014.

Com isso, chegamos ao fim. Não só do texto, mas de um ciclo que, na minha opinião, já vai tarde.

Que 2014 seja mais feliz - em todos os sentidos.

Ficha do jogo (do Blog do PVC)

3/julho/2010 – 11h, 16h
HOLANDA 2 x 1 BRASIL

Local: Nelson Mandela Bay (Porto Elizabeth); Juiz: Yuichi Nishimura (Japão); Público: 40.186; Gols: Robinho 9 do 1º; Felipe Melo (contra) 8, Sneijder 23 do 2º; Cartão amarelo: Heitinga, Michel Bastos, Van der Wiel, De Jong, Ooijer; Expulsão: Felipe Melo 27 do 2º

HOLANDA: 1. Stekelenburg (6,5), 2. Van der Wiel (5,5), 3. Heiting (6), 13. Ooijer (5,5) e 5. Van Bronckhors (6); 6. Van Bommel (6) e 8. De Jong (5,5); 11. Robben (5,5), 10. Sneijder (8) e 7. Kuyt (7); 9. Van Persie (6) (21. Huntelaar 39 do 2º (sem nota)). Técnico: Bert van Marwijk

BRASIL: 1. Júlio César (5), 2. Maicon (6,5), 3. Lúcio (6), 4. Juan (7) e 6. Michel Bastos (6) (16. Gilberto 15 do 2º (5,5)); 8. Gilberto Silva (5,5) e 5. Felipe Melo (4,5); 13. Daniel Alves (6), 10. Kaká (6) e 11. Robinho (5,5); 9. Luís Fabiano (5,5) (21. Nilmar 31 do 2º (5,5)). Técnico: Dunga
Homem do jogo FIFA – Sneijder

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Moleza

Nenhuma Seleção passou para as quartas tão facilmente quanto o Brasil.

Culpa da fragilidade chilena, da eficiente atuação brasileira e do peso da Amarelinha. Nossa camisa pesa mais do que pensamos, e jogos complicados para outras equipes tornam-se tranquilos para nós. Mesmo com o brilho passando longe.

O jogo contra o Chile, pelas oitavas-de-final da Copa 2010, foi uma baba. Tanto que nem tenho muito o que escrever. Resta-me apenas um texto curto, objetivo, assim como o futebol de Kaká que volta, aos poucos, a aparecer. Ótimo sinal.

Nos bastidores, uma trégua entre Dunga e a imprensa; que não significa o fim da guerra, mas uma phony war particular entre as partes. As armas continuam carregadas, esperando o desfecho, e serão disparadas após o último apito, seja qual for o resultado.

Ambas as partes têm suficiente munição para arrasar o outro lado. Aguardemos.

Ficha do jogo (do Blog do PVC)

28/junho/2010 – 15h30, 20h30

BRASIL 3 x 0 CHILE

Local: Ellis Park (Johanesburgo); Juiz: Howard Webb (Inglaterra); Público: 54.096; Gols: Juan 34, Luís Fabiano 37 do 1º; Robinho 13 do 2º; Cartão amarelo: Kaká, Vidal, Fuentes, Ramires

BRASIL (4-2-3-1): 1. Júlio César (7), 2. Maicon (6,5), 3. Lúcio (6,5), 4. Juan (7,5) e 6. Michel Bastos (6,5); 8. Gilberto Silva (7) e 18. Ramires (8); 13. Daniel Alves (7), 10. Kaká (6,5) (20. Kléberson 34 do 2º (sem nota)) e 11. Robinho (7) (16. Gilberto 32 do 2º (sem nota)); 9. Luís Fabiano (21. Nilmar 30 do 2º (sem nota)). Técnico: Dunga

CHILE (3-3-1-3): 1. Bravo (5,5), 2. Fuentes (6,5), 5. Contreras (5) (21. Tello, intervalo (5)) e 18. Jara (6); 4. Isla (5,5) (20. Milar 15 do 2º (5,5)), 6. Carmona (5,5) e 8.Vidal (5); 15. Beausejour (5,5); 7. Alexis Sánchez (5), 9. Suazo (5) e 11. Mark González (4,5) (10. Valdivia, intervalo (5)). Técnico: Marcelo Bielsa

Homem do jogo FIFA – Robinho

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Óbvio

Nada do que aconteceu há pouco em Durban surpreendeu.

Pra começar, um jogo horroroso. O Brasil queria o empate, Portugal não percebeu que uma vitória mudaria tudo e uma derrota não mudaria nada, e a consequência disso foi uma enrolação de 90 minutos.

A maior obviedade da tarde, porém, foi a constatação da péssima convocação de Dunga.

Júlio Baptista foi um fiasco como substituto do Kaká. Perdemos o nosso 10 por expulsão, poderemos perdê-lo ainda por contusão e não temos alguém para por no lugar.

Kléberson foi chamado para ser reserva de Elano, mas quando este se machucou foi Daniel Alves - que é reserva de Maicon - quem entrou em seu lugar (e também não fez uma boa partida, diga-se). Ora, se nem assim o meia/volante flamenguista foi pro jogo, porque foi chamado? Se era pra ter alguém no grupo que não fosse jogar, que se chamasse PH Ganso, para pelo menos já ir se acostumando com uma camisa que deverá vestir por um bom tempo.

Enfim, tivemos a comprovação empírica que o grupo reunido na África não é o melhor possível; que, como já foi dito, o comprometimento venceu o talento. Não existem opções, mas apenas UM modo de jogar - eficiente, entretanto. E mesmo um eventual título não poderá esconder isso ou evitar as críticas, que devem acontecer na vitória ou na derrota.

Outro ponto que ficou bem claro: Júlio César tem, sim, um problema nas costas. Deu arrepio ver aquela proteção toda na região lombar, durante atendimento médico ao goleiro, após choque com um adversário. Divulgar essa informação não era, como quis fazer parecer nosso grotesco treinador, "torcer contra a Seleção"; mas, simplesmente, noticiar um FATO. Tomara que esse problema não afaste o melhor goleiro do mundo de nenhuma partida, pois nem Gomes, nem Doni (ai...) passam a segurança necessária. Mais um erro na convocação...

As notas positivas do 0x0 foram:

- O acerto de Dunga ao tirar Felipe Melo. O descontrolado volante brasileiro bateria até na mãe hoje, e o técnico não repetiu o mesmo erro do jogo passado, ao deixar Kaká ser expulso. Além do mais, promoveu a estréia de Josué em Copas. Já que Kléberson não vai jogar nunca, Júlio Baptista é reserva do Kaká e Ramires tornou-se quase um meia nesse time, Josué é o único reserva de verdade na "volância".

- O Brasil, mesmo com todas as faltas de opção, é muito forte. Tudo bem, Portugal fez a partida mais estúpida que poderia ter feito, mas raramente nossa Seleção foi ameaçada. A zaga do Brasil é assombrosamente segura.

- Como sempre, temos muita sorte. Não bastasse termos ficado no lado mais fácil da chave, sem nenhum gigante para nos ameaçar, mas quase conseguimos vencer o jogo hoje. Ramires deu um chute todo errado, que desviou na zaga portuguesa e por pouco não entrou.

E o mais importante: é óbvio que o Brasil é um dos grandes favoritos ao título.

Ficha do jogo (do Blog do PVC)

GRUPO G
25/junho/2010

PORTUGAL 0 x 0 BRASIL (11h, 16h)

Local: Moses Mabhida (Durban); Juiz: Benito Archundia (México); Público: 62.712; Cartão amarelo: Luís Fabiano, Juan, Duda. Tiago, Pepe, Felipe Melo, Coentrão

PORTUGAL: 1. Eduardo (6,5), 21. Ricardo Costa (4,5), 6. Ricardo Carvalho (5), 2. Bruno Alves (6) e 23. Fábio Coentrão (6,5); 15. Pepe (5) (8. Pedro Mendes 18 do 2º (6)), 19. Tiago (6) e 16. Raul Meireles (5,5) (14. Miguel Veloso 38 do 2º (sem nota)); 10. Danny (5), 7. Cristiano Ronaldo (5,5) e 5. Duda (5,5) (11. Simão 9 do 2º (6)). Técnico: Carlos Queiroz

BRASIL: 1. Júlio César (7,5), 2. Maicon (5,5), 3. Lúcio (7,5), 4. Juan (5,5) e 6. Michel Batsos (5); 8. Gilberto Silva (5), 5. Felipe Melo (5,5) (17. Josué 43 do 1o (5,5)); 13. Daniel Alves (5), 19. Júlio Baptista (4,5) (18. Ramires 36 do 2º (5,5)) e 21. Nilmar (6); 9. Luís Fabiano (5,5). Técnico: Dunga

Homem do jogo FIFA – Cristiano Ronaldo

domingo, 20 de junho de 2010

Consistente

O Brasil não começou bem a partida contra a Costa do Marfim, mas em nenhum momento chegou a ser seriamente ameaçado pelos africanos. Reflexo de um time consistente, com uma defesa extraordinária, que mostrou evolução nesse segundo jogo da Copa, que venceu o jogo mais complicado da primeira fase com sobras.

Não encheu os olhos, muito menos foi uma atuação exuberante. Mas nem será. Na Copa do Ferrolho, vencerá aquele que se defender melhor e saber aproveitar as (poucas) oportunidades que surgirem. Nisso, o Brasil é muito bom.

Como quase todas as seleções, ainda não empolgamos; mas, diferentemente da maioria, vencemos os dois jogos. Mais: começamos a botar medo no resto.

Brasil e Argentina começam a se colocar como as grandes seleções da Copa da África. Veremos se, assim como em 1990, teremos outro embate entre os opostos Dunga e Maradona.

Minhas notas:

- Kaká evoluiu, mas a boba expulsão pode prejudicar a sua recuperação. Justa ou não, faltou cabeça ao craque de deus.

- Na hora em que o jogo ficou pegado, violento, Robinho sumiu. Patético.

- Dunga mostrou mais uma vez seu despreparo psicológico para o cargo que ocupa. Até o Galvão Bueno percebeu que o Kaká estava procurando a expulsão, mas ao invés de tirar o jogador do jogo, entrou na discussão como se ainda vestisse a camisa amarela. O descontrole o impediu de ver o jogo como técnico. E, só para manter o hábito, bateu boca com um jornalista durante a coletiva.

- Elano, que não cheirava nem fedia, começa a exalar um suave perfume na retranca do Dunga.

- A melhor defesa do mundo tomou gol nos últimos três jogos, contra Tanzânia, Coréia do Norte e Costa do Marfim.

- Quando Maradona ou Henry metem a mão na bola, são cafajestes, imorais; se é Luis Fabiano, sorte nossa. Típico do país da pilantragem.

Ficha do jogo (do Blog do PVC):

20/junho/2010
BRASIL 3 x 1 COSTA DO MARFIM


Local: Soccer City (Johanesburgo); Juiz: Stéphane Lannoy (França); Público: 84.457; Gols: Luís Fabiano 25 do 1º; Luís Fabiano 5, Elano 16, Drogba 33 do 2º; Cartão amarelo: Tiené, Kader Keita, Tiotê, Kaká; Expulsão: Kaká 43 do 2º

BRASIL: 1. Júlio César (6), 2. Maicon (6,5), 3. Lúcio (6), 4. Juan (7) e Michel Bastos (5,5); 8. Gilberto Silva (6) e 5. Felipe Melo (6,5); 7. Elano (6,5) (13. Daniel Alves 21 do 2º (6,5)), 10. Kaká (7) e 11. Robinho (6) (18. Ramires 50 do 2º (sem nota)). Técnico: Dunga

COSTA DO MARFIM: 1. Barry (6), 20. Demel (5,5), 4. Kolo Touré (6), 5. Zokora e 17. Tiéné (5); 19. Yaya Touré (6), 21. Eboué (5) (13. Romaric 26 do 2º (5)) e 9. Tiotê (5,5); 15. Dindane (5,5) (10. Gervinho 9 do 2º (5,5)), 11. Drogba (5,5) e 8. Kalou (5,5) (18. Kader Keita 23 do 2º (4,5)). Técnico: Sven Goran Eriksson


Homem do jogo FIFA – Luís Fabiano

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Sofrível

Tudo o que aconteceu ontem à noite no Ellis Park era previsível.

Antes do jogo, problemas na entrada da torcida, com o abastecimento de energia e greve de funcionários - fatos já corriqueiros na Copa da África do Sul. Durante o jogo, um futebol medíocre, contra um time medíocre (embora melhor do que se esperava), e um resultado medíocre. Após a partida, entrevistas óbvias de Dunga, que deve ter visto outro jogo. E, claro, com as suas tradicionais patadas em jornalistas (os inimigos da pátria).

Houve mais, mas na tarde brasileira: o meu desinteresse no jogo do Brasil. Que os jogos do meu time são muito mais importantes que os da Seleção, já não era novidade (com certeza isso acontece com quase todos aqueles que torcem de verdade para algum time de futebol). Mas ficou comprovado que, pelo menos eu e meus amigos, damos mais importância para a Copa do Mundo em si e o clima de festa do que para os jogos do Brasil.

Não torço contra, longe disso. Mas também não me empolgo. Acredito que, conforme a competição avance, meu interesse vá aumentar. Só que, definitivamente, não ficarei muito triste se perder, do mesmo modo que não terei uma alegria suprema se ganhar.

O engraçado é que a consequência disso foi, de certa forma, boa: consigo curtir um torneio de futebol - o maior de todos - como mero espectador, torcendo apenas por um bom jogo, sem ficar nervoso torcendo contra ou a favor determinado time, já que o resultado final, no fundo, não importa muito.

Tomara que a coisa volte a ser como já foi.

Digressões à parte, a minhas notas da partida:

- A entrevista do Luis Fabiano, após o jogo. Mesmo seguindo a cartilha dunguiana de amor ao grupo e à pátria, o camisa 9 não conseguiu esconder as emoções. Estava transtornado com mais uma má atuação, contrastada com a boa entrada de Nilmar. Ele sabe que, se a coisa não mudar logo, corre sério risco de perder a posição. O gato subiu no telhado para ele.

- Elano, que não cheira nem fede, deu um passe pra gol e fez outro. Em uma seleção como essa de Dunga, jogadores como Elano acabam tendo mais importância do que deveriam.

- Um lateral direito brasileiro não marcava em uma Copa desde aquela pintura de Josimar, contra a Polônia em 1986. O gol de Maicon não foi tão bonito, mas não deixa de ter uma pequena semelhança. Ouça e veja aqui na narração de Luciano do Valle.

Ficha técnica do jogo (do Blog do PVC):

15/junho/2010
BRASIL 2 x 1 COREIA DO NORTE Local: Ellis Park (Johanesburgo); Juiz: Viktor Kassai (Hungria); Público: Gols: Maicon 9, Elano 27, Yum Nam 43 do 2º; Cartão amarelo: Ramires

BRASIL: 1. Júlio César (5), 2. Maicon (7,5), 3. Lúcio (5), 4. Juan (7) e 6. Michel Bastos (5); 8. Gilberto Silva (5,5), 5. Felipe Melo (6) (18. Ramires 39 do 2º (sem nota)); 7. Elano (6,5) (13. Daniel Alves 26 do 2º (sem nota)), 10. Kaká (4,5) (21. Nilmar 33 do 2º (6)) e 11. Robinho (7); 9. Luís Fabiano (5). Técnico: Dunga

COREIA DO NORTE: 1. Myung Guk (6), 2. Cha Jong (6,5), 13. Chol Jin (5,5), 3. Jun Il (5,5), 5. Kwan Chon (5) e 8. Yun Nam (5); 17. Jong Hak (5), 11. In Guk (4,5) (6. Kim Kul 34 do 2o (sem nota)) e 4. Nam Chol (4,5); 10. Hong Jong (5,5) e 9. Tae Se (6). Técnico: Kim John Huh

Homem do jogo FIFA – Maicon

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Capítulo XIX

Antes da Copa de 1986, uma pergunta esperava para ser respondida: quem era melhor, Platini ou Maradona?

O francês era a grande jogador europeu do momento. Já tinha ganho três Bolas de Ouro, uma Eurocopa com a França e o título europeu com a Juventus. Muitos apostavam que ele ajudaria seu país a vencer sua primeira Copa. Um cavalheiro, dentro e fora dos gramados.

Enquanto isso, "El Diez" (que ainda não era chamado assim) não tinha grandes conquistas pessoais ou coletivas. Amargara um fracasso no Barcelona e ainda não se firmara no Napoli. Brigas e confusões já preenchiam páginas da sua biografia.

Bem... sete jogos, algumas atuações antológicas e uma taça depois, não restava mais dúvida. Maradona virara mito, e qualquer comparação entre os dois hoje parece piada.

Esse é o peso que carrega uma Copa do Mundo, que começou hoje na África do Sul.

Privilégio poder ver a história sendo escrita diante de nossos olhos.

Previsões, promessas e planejamentos não valerão nada se não se comprovarem no próximo mês. Se é justo ou não, que apenas sete jogos tenham tanta importância, é outra história. O fato é que é assim.

Terá Dunga acertado em suas convicções e, mais uma vez, calado - e xingado - os críticos? O tal futebol força terá prevalecido sobre o arte? Nossos jogadores são mesmo craques? Ou, como todos nós temos dito, terá a nossa Seleção sido vítima da teimosia do técnico e incompetênciados jogadores?

Saberemos disso tudo no dia 11 de julho. Então, teremos novos ídolos, vilões e momentos memoráveis da história do futebol.

Mais um capítulo terá sido escrito.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Sem surpresa

O que já era esperado fica cada vez mais claro: o Morumbi não sediará jogos da Copa 2014. Tanto a Folha como o Estado de S. Paulo (este último, bancando a informação desde abril) já dão como certo o descarte do estádio.

O desejo por uma nova arena é grande demais para que ela não saia do papel.

Para mim, a estratégia do São Paulo FC foi a seguinte: "enrolar" a CBF e a FIFA com promessas que, na verdade, sabia que não poderia cumprir, até que se chegasse num ponto tarde demais para o início das obras de um novo estádio, sobrando o Morumbi como única opção para a Copa - e possivelmente a abertura e outros jogos importantes, devido à importância econômica da cidade.

Os prepotentes dirigentes tricolores só não contavam com uma postura ainda mais dura do outro lado, motivada pela falta de caráter dos responsáveis pela Copa e, como já dito, a inabalável convicção na construção de um novo - e desnecessário - estádio em São Paulo. Pois, desde o início, esse era o "Plano A" para os donos da Copa-2014

O São Paulo tentou passar a perna em Ricardo Teixeira & Cia., mas levou um contra-ataque e acabou com as costas estateladas no tatame (isso tudo, claro, se as notícias sobre o assunto se confirmarem, o que acredito).

Opinião do torcedor: já escrevi aqui o que acho do Morumbi na Copa, mas vou resumir. É um estádio ruim, desconfortável, mas o único que temos. Transformá-lo em uma Alianz Arena, ou algo parecido, consumiria uma cifra enorme de dinheiro, e como meu time já amargou períodos de fila por causa da construção e reforma de seu estádio, sou contra esta empreitada. Meu orgulho não será afetado pelo fato do Morumbi receber ou não jogos da Copa, pois ficaria mais alegre se a boa fase dos últimos anos fosse mantida. E tem outra: eu queria que os dirigentes do meu time do coração se preocupassem em arrumar o estádio para NÓS, TORCEDORES DO SÃO PAULO, que sofremos a cada jogo do Tricolor com a estrutura inadequada do Morumbi, e não para que seus egos fossem ainda mais inflados com uma foto na parede, mostrando para o mundo todo a "grandeza" do SPFC em sediar uma Copa do Mundo. Nós, torcedores, merecemos coisa melhor pelo simples fato de sermos torcedores.

Opinião do cidadão: devido à completa imbecilidade que é construir um novo estádio em São Paulo, o Brasil deveria bater de frente com a FIFA e bancar o Morumbi como estádio da cidade para a Copa, com as reformas suficientes - e viáveis - para torná-lo um estádio melhor. Afinal, todos sabemos como será contada essa história: super-faturamento, atrasos, licitações canceladas e mais um elefante branco bancado pelo Estado - nesse caso, o Pacaembu, pois já sabemos o destino dessa nova arena.

Nós pagaremos por tudo isso, pois somos trouxas o bastante.

Atualização em 16/06: a CBF soltou hoje nota oficial excluindo de vez o Morumbi da Copa 2014, apenas oficializando o que já era cantado há tempos.

A Copa no Brasil vai, cada vez mais, se tornando uma ação entre amigos.

Abaixo, a nota:

"Não foram entregues ao Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014 (COL) por parte do Comitê Local da cidade de São Paulo, as garantias financeiras referentes ao projeto do estádio do Morumbi aprovado pelo COL/FIFA no dia 14 de maiso de 2010.

O Comitê da Cidade de São Paulo enviou ao COL um sexto projeto, que não será examinado.

Sendo assim, fica excluído do projeto da Copa do Mundo de 2014 o Estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi."

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Isso é Libertadores


A Libertadores desse ano está sensacional. Me arrisco a dizer que é a melhor dos últimos tempos, se não em nível técnico, pelo menos em emoção. Basta lembrarmos de alguns confrontos que tivemos até agora:

Chivas x Vélez: os mexicanos fizeram 3x0 na ida, e na volta quase que os centenários argentinos devolvem o placar, com direito a gol no fim do jogo.

Universitário x São Paulo: confronto de nível técnico sofrível, mas a decisão por pênaltis no Morumbi encerrou dramaticamente o confronto.

Banfield x Inter: com jogador expulso e desvantagem de 1x3, o Colorado conseguiu reverter o resultado em Porto Alegre.

Flamengo x Corinthians: quase 50 milhões de torcedores pararam para assistir o duelo que teve final épico.

Alianza Lima x Universidad Chile: mesmo perdendo em casa, os peruanos quase conquistaram a vaga no Chile, com direito a gol polêmico no final.

E isso foi só as oitavas de final. Nas quartas, o São Paulo recuperou a autoridade perdida nos últimos anos e se vingou do Cruzeiro com sobras; e o Chivas repetiu as oitavas, em um 3x2 agregado contra o Libertad.

Mas foi a noite de ontem que mostrou, de verdade, o que é Libertadores.

Em dois confrontos memoráveis, com frio, pressão da torcida e indecisão até os últimos minutos, Inter e Flamengo tiveram destinos opostos na competição. Os gaúchos, com inteligência, souberam administrar a partida e com um golpe mortal aos 43 do 2o tempo, eliminaram os atuais campeões Estudiantes, do monstro Verón. Como é típico de nossos hermanos, o jogo terminou em pancadaria, tornada ainda mais medíocre devido ao goleiro reserva do Inter, Lauro. Briga entre atletas profissionais é lamentável, mas a covardia é pior ainda. O cara sai do banco, acerta o Desábato pelas costas e sai correndo pro vestiário. Se é macho pra bater, que seja macho pra apanhar também. E a imprensa brasileira, mais ufanista ainda em ano de Copa, cansou de condebar o zagueiro argentino, sem dar muita bola ao goleiro. Ridículo.

Agora, o Inter terá novamente o São Paulo pela frente, mas com Fernandão do outro lado. Imperdível.

Em Santiago, o acanhado e orgânico estádio de Santa Laura pulsava. E o Flamengo que parecia morto ficou vivo até os segundos finais. A festa chilena no golaço de Montillo foi daquelas coisas que te fazem levantar do sofá (exceto rubro-negros, claro), enquanto o silêncio após o gol do Adriano levou as unhas à boca. A chuva de pedras, pilhas e bolas de golfe, ao contrário, dão vergonha até em nós brasileiros, por fazermos parte de um torneio que consegue ser tão sensacional e medieval ao mesmo tempo.

Chivas, Universidad de Chile, Inter e São Paulo seguem na briga.

Uma "pena" que, antes do grand finale, temos toda uma Copa do Mundo pela frente...

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Do blog do Mauro Cezar Pereira

Mauro Cezar Pereira, da ESPN, é o jornalista esportivo mais ranzinza do Brasil - e por isso mesmo, um dos meus favoritos. Abaixo, um post dele publicado hoje em seu blog (grifos meus):

"Dunga sorri na Globo. Coerente ou subserviente e intransigente?

Não vou discutir nomes, afinal, Dunga é "coerente". Tanto que não chamou Paulo Henrique Ganso e Neymar por terem sido reservas no Santos em jogos no Brasileirão 2009. Mas convocou Doni, Júlio Baptista e Kléberson, que são suplentes hoje! Tão "coerente" que alegou não poder levar os santistas porque não foram testados. Mas incluiu o meia na lista de espera. E chamou Grafite, que atuou só 26 minutos em sua equipe.

Bobagem discutir nomes quando o aspecto técnico não importa tanto. Para Dunga, o que vale é "paixão", "emoção", "o sonho de vestir a camisa da seleção", "ser patriota". Opa, alto lá. Patriota? Então quem não torce loucamente pelo time da CBF é menos brasileiro do que aqueles que se descabelam pelo dunguismo? Não, essa eu não aceito, professor.

Se a turma do panetone passar a Copa vestida de amarelo e festejando cada gol, isso não fará desses elementos bons brasileiros. Pátria de chuteiras em pleno século 21? O mesmo discurso quatro décadas depois? Não, obrigado. Seleção é apenas um time de futebol. Ninguém é obrigado a torcer por ela, tampouco pode ser atacado por não adotar tal comportamento. Jornalistas devem informar e analisar. Imprensa não existe para apoiar nada, e ninguém dá resposta aos críticos.

A seleção da CBF não é "a" favorita ao título, mas apenas uma das equipes com chances. As escolhas de Dunga foram pela dedicação, que em alguns casos pode ser entendida como subserviência. Sim, prioridade para os cordatos que se deixam levar pelo discurso tacanho do técnico que a CBF criou. Falta talento. Com Ronaldinho Gaúcho e Ganso nos lugares de Michel Bastos e Kléberson, por exemplo, ele poderia mudar os rumos de uma partida.

Mas a inflexibilidade impede Dunga de rever conceitos. Não em todos os terrenos. Quando assumiu a seleção da CBF, ele assegurou que não haveria privilégios a jogadores, tampouco a veículos de comunicação. Dunga esteve no Bola da Vez da ESPN Brasil. Chamado a retornar, recusou. Outras TVs, rádios, jornais, revistas e sites gostariam de entrevistá-lo com mais tempo. Nada feito.

Mas concedeu uma exclusiva ao canal Sportv há alguns meses, e após a convocação apareceu no Jornal Nacional. Durante sete minutos, respondeu perguntas. Deu mais ênfase às reações emocionais dos jogadores do que ao desempenho técnico. E sorriu. Dunga estava em casa. Claro, sabia que ali ninguém lhe faria questionamentos de difícil resposta e com chance de réplica, algo que não acontece nas coletivas organizadas pela CBF.

O treinador parece viver num universo paralelo, só dele. Fala sobre uma volta da paixão do torcedor e de um desejo dos atletas de jogarem pela sua seleção como se isso fosse algo novo. Quantos renunciaram à convocação de Parreira em 2006? Todos os por ele chamados estiveram na Alemanha. O que houve foi bagunça há quatro anos, graças à permissividade geral, inclusive de Américo Faria e Ricardo Teixeira, até hoje na CBF, ao lado de Dunga, que ignora tal "detalhe".

Jogadores de nível técnico discutível veem a seleção como algo distante e, quando dentro dela, aceitam o que lhes é imposto, seja o que for. A lista de Dunga está cheia de gente assim, daí o comportamento tão elogiado. Até porque, para ele, jogar bola não é o mais importante. Pesa mesmo a capacidade de aceitar o discurso que parece extraído de um livro de auto-ajuda.

Coerência? Não me parece esta a palavra que marque a atual 'Era'. Que tal contradição, subserviência e intransigência?"

Nota Esporte Brasilis: Dunga é mesmo brasileiro. Como é comum entre os nossos, segue à risca a postura do "tudo ou nada", "certo ou errado", como se não pudesse haver um meio-termo nas coisas, e com a sua intransigência não admite uma revisão de seus pontos de vista. Dessa forma, reinventa à sua maneira o termo "comprometimento" e exclui dele qualquer possibilidade de combinação com talento. Joga para a torcida, covenientemente "patriota" em ano de Copa do Mundo.

E como foi chata sua entrevista ao Jornal Nacional...

terça-feira, 11 de maio de 2010

Convocação comparada



Com a convocação de Dunga para a Copa-2010, volto aos trabalhos aqui no Esporte Brasilis.
Fazer uma análise dos selecionados, nome por nome, indicando limitações e variações possíveis, será ficar no lugar-comum. Todo mundo já imaginava que a lista viria desse jeito, com a transpiração encobrindo o talento, sacramentando a "seleção-monobloco" que veremos na África, com pouco espaço para surpresas - a não ser, claro, a convocação de Grafite, e as quase certas ausências de Ganso e Neymar.

Vou fazer algo diferente, ou pelo menos uma análise que ainda não vi por aí.

O futebol brasileiro vive uma entre-safra de jogadores, algo normal ao final de um período vitorioso, repleto de craques, como foi a geração 98-06. Por mais que Dunga tenha deixado nomes interessantes de fora da Copa, as opções realmente não eram muitas. A última vez que vivenciamos fase semelhante foi, na minha opinião, nas Copas de 90-94. Naquela época, vimos a aposentadoria de uma geração absurda que, mesmo não tendo vencido uma Copa, tinha uma qualidade indiscutível. Após as derrotas de 82 e 86, tivemos a atuação melancólica em 1990, com uma das piores Seleções Brasileiras de todos os tempos (em uma das piores Copas de todos os tempos); e, quatro anos depois, vencemos nos EUA, com boa parte do elenco pertencente à "Era Dunga", e outra mais nova que integraria a futura geração.

Sim, o time de 94 foi campeão, com méritos, não se discute; mas, que dentre todos os campeões mundiais, o time do Parreira foi um dos menos brilhantes, também é ponto pacífico. E, exceção feita a alguns grandes nomes daquele time, também o considero parte da entre-safra 90-94. Com a coincidência fundamental de ambos terem em Dunga um líder, a comparação entre os dois elencos acaba sendo um exercício interessante.


No gol, Júlio César é incomparavelmente melhor que Taffarel. Por mais que falem que o gaúcho era um craque, principalmente em sua fase de Internacional, eu cansei de sofrer com sua inconstância. Porém, na reserva, Gilmar e Zetti também estavam alguns níveis acima de Gomes e Doni (!!!!).

Na lateral direita, a briga é mais dura. Jorginho e Cafu têm mais nome e história, mas Maicon e Daniel Alves têm potencial para fazer bonito com a camisa da Seleção. Para não deixar o saudosismo influenciar a análise, dá empate. Já na esquerda, 94 fica na frente de novo. Prefiro Branco e Leonardo a Michel Bastos e Gilberto, e a maioria deve ter a mesma opinião.

A zaga também tem boa disputa. Depois dos cortes, a Seleção do Tetra contava com Ricardo Rocha, Aldair, Márcio Santos e Ronaldão, e mesmo a com a dupla titular formada às vésperas da Copa, tivemos uma excelente defesa. Seria fácil deixar Lúcio, Juan, Luisão e Thiago Silva um pouco atrás, mas de novo concedo empate aos dois grupos.

Até agora, comparando as duas defesas, temos um empate técnico. O problema aparece do meio pra frente.

Os três volantes de 94 (foram convocados 22 jogadores) - Dunga, Mauro Silva e Mazinho - tinham estilo parecido aos quatro de 2010 - Gilberto Silva, Felipe Melo, Josué e Kléberson. Mas eram melhores. Por mais que Dunga tenha estigmatizado negativamente toda uma geração de jogadores, sua evolução de 90 para 94 foi notável, e sua importância para o título, incontestável. Mauro Silva era outro volante pesadão, compensado pela maior mobilidade de Mazinho (grande jogador). Gilberto e Felipe, além de não terem os mesmo recursos, estão em péssima fase, e Josué, mesmo tendo brilhado no São Paulo e na Alemanha, não me parece à altura - sem trocadilho - de uma Copa do Mundo. Kléberson brilhou em 2002, e só. Nunca mais mostrou bom futebol, onde quer que tenha jogado. Ponto para 94.

Os meias de 94 foram Zinho, Raí e Paulo Sérgio. Como Zinho foi mal aproveitado no esquema retranqueiro daquele ano e Raí chegou em má fase, a impressão que passa é de pouca qualidade no setor. Mas quem se lembra dos dois jogadores jogando em sues clubes sabe que não era bem assim. Kaká tem mais futebol que Raí, mas também chega em má fase. Ramires joga muita bola, mas deixo para os cruzeirenses decidirem se é melhor que Zinho. E Elano e Júlio Baptista nem meias são. A meu ver, 2010 tem ainda menos opções que 94, ainda mais se considerarmos o próximo parágrafo.

Chega a ser covardia comparar os cinco atacantes do Tetra com os quatro do Hexa (será?). Afinal, os fenômenos Romário e Ronaldo, os incríveis Bebeto e Muller e o gozador Viola dão de goleada no "mamãe-quero-ser-grande" Robinho, nos bons Luis Fabiano e Nilmar e no inexplicável Grafite.

Se nos outros setores os dois times chegam a se equivaler, o ataque desfaz qualquer dúvida e desempata a disputa - com certa folga, até - em favor da Seleção de 1994.

Joga a favor de Dunga o fato de que os jogadores à disposição não permitiam a ele montar um time espetacular; mas sua teimosia, falta de conhecimento de futebol e "critérios" tornaram a Seleção de 2010 um time ainda pior do que teria sido em condições normais.

A Copa fica mais perto, palpável, a cada dia.

O Brasil é um dos grandes favoritos ao título na África do Sul.

Mas vai ser duro.

E feio.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

O mundo corprativo

Quem vive o selvagem mundo corporativo sabe como ele funciona. Mesmo com o indiscutível peso da competência, a incompetência sempre consegue ser relevada - e premiada - se algumas atitudes forem observadas:

Bajular pessoas importantes;

Dizer para essas pessoas exatamente o que elas querem ouvir, na hora certa;

Camuflar os próprios erros;

Exaltar os acertos;

Passar por cima dos outros, se necessário.

Eu não sei qual a estratégia de Carlos Eugênio Simon, apenas que ela funciona. Só isso explica como um árbitro com tantos erros graves no currículo, que pairam bem próximos ao limite do mal preparo e do mal caráter, consegue ir a sua terceira Copa do Mundo.

A boa notícia é que ele não apitará jogos do Brasil.

"Descensura" olímpica

Conforme divulgado ontem na mídia, o COB voltou atrás em sua decisão de censurar o livro da Profa. Kátia Rubio (a capa da obra é reproduzida acima).

Gostaria que isso acontecesse também com o processo das contas do Pan-2007, parado no TCU, mesmo com diversos e gritantes indícios de irregularidades.

Mas, nesse caso, acho que vai ficar por isso mesmo.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Censura olímpíca - II

Do blog do José Cruz, segue entrevista com a Profa. Katia Rubio:

"José Cruz – Qual o conteúdo de sua obra?

Katia – É uma obra inédita no Brasil, produzida para crianças e jovens, sobre educação olímpica, para ser trabalhada em um projeto de educação, que nesse momento uma nação que será sede olímpica necessita.


José Cruz – Qual a alegação do COB para proibir a circulação do livro?

Katia – A alegação do COB é que não posso fazer uso do termo "olímpica", adjetivo e substantivo que pertencem ao COB. Sabendo das limitações do uso dos símbolos olímpicos, tomei, juntamente com o ilustrador, todos os cuidados para que os anéis ou qualquer outro símbolo não fosse utilizado indevidamente. A capa do livro mostra que lidamos com essa limitação. Mas o processo é por causa disso.


José Cruz – Como você avalia tal decisão?
Katia
– Essa decisão é arbitrária porque não temos materiais sobre educação olímpica e há uma demanda nacional por parte dos educadores para tratar sobre o tema com alunos do ensino fundamental e médio. Esse é o público que desejo atingir com essa obra.


José CruzVocê, inclusive, usou uma linguagem mais de aprendizado, é isso?

Katia – Utilizei todo o meu conhecimento, decodificando da linguagem acadêmica para o grande público, para que esse livro alcançasse o máximo possível de pessoas pensando não apenas na divulgação do olimpismo, caminho que já trilho há mais de ma década dentro da universidade, mas na preparação dessa nação para receber os jogos, seja como voluntários, seja como pessoas ligadas aos diferentes serviços que trabalharão recepcionando turistas, atletas, árbitros, imprensa, etc.


José Cruz – E sua publicação se torna mais valorizada por ter o aval acadêmico...
Katia
– Como fiz meu pós-doutorado no Centro de Estudos Olímpicos da Universidade Autônoma de Barcelona sei o que é ter a universidade como parceira na promoção e divulgação dos estudos olímpicos em um país e cidade que serão sede olímpica. É algo emocionante entrar em uma biblioteca e ver diferentes autores, de diferentes abordagens teóricas e conceituais escrevendo sobre história, economia, sociologia, filosofia, educação, psicologia e tudo o mais que tiver relação com esse mega-evento.


José CruzE essa é uma das funções acadêmicas...

Kátia – Nossa função na universidade é essa: observar algo que ocorre na sociedade e analisá-lo, discuti-lo e buscar respostas, alternativas e soluções para as questões que serão levantadas a partir dele. Esse é o meu papel como pesquisadora. Essa é a intenção dessa obra."

Censura olímpíca


A coisa anda meio devagar por aqui esse ano.

Mas a carta da Profa. Kátia Rubio, da USP, publicada site Centro Esportivo Virtual e reproduzidos hoje no no Blog do Juca, sobre a grotesca censura sofrida sobre seu novo livro "Esporte, Educação e Valores Olímpicos".

O censor foi o COB, alegando que o termo "olímpico", e tudo relacionado a ele, são de propriedade exclusiva da entidade.

Nuzman e sua gangue não têm mais limites.

Haverá algum para a farra do Rio-2016?

"Proteste você também

PELO DIREITO OLÍMPICO DE SE ESTUDAR E PESQUISAR ESTUDOS OLÍMPICOS NO BRASIL

POR KATIA RUBIO, professora da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo

Desde que ingressei na Universidade de São Paulo como docente fui posta à prova em um processo seletivo, três concursos, além das bancas de mestrado, doutorado e livre docência.

Essa é a razão de ser da vida acadêmica. Sem contar na participação dos inúmeros editais que concederam auxílios ou bolsas aos projetos de pesquisa que desenvolvo. Com isso quero dizer que estou acostumada a ser avaliada e julgada de forma quase que ininterrupta há muitos anos.

Penso que aceitei o desafio da vida acadêmica porque fui criada e educada dentro do esporte. Aprendi ao longo da minha vida esportiva que o sucesso é o resultado de um processo que envolve dedicação, disciplina, determinação e que perder e ganhar faz parte do jogo. Nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar, já cantava Elis. Tive a felicidade de contar com excelentes professores e técnicos que apontavam a todo instante a fundamentação ética dessa atividade, sem necessariamente evocar essas palavras.

Talvez venha daí o meu compromisso como pesquisadora e educadora: tive grandes mestres que adotaram uma pedagogia mimética e me inspiraram a fazer o mesmo.

Quando me dediquei ao estudo, ensino e pesquisa da Psicologia do Esporte e dos Estudos Olímpicos os fiz porque tinha a convicção da importância que esse fenômeno representa para a sociedade. Isso não é nenhuma novidade, uma vez que Thomas Arnold, no século XIX já havia observado essa possibilidade na sociedade inglesa da época e pautando-se nessa convicção fundou a Rugby School. Dessa experiência pedagógica resultou a obra Tom Brown’s Schooldays. Hughes foi aluno de Thomas Arnold na escola de Rugby, marco da institucionalização do esporte nas escolas inglesas, e na obra Tom Brown’s relatou de forma romanesca e apaixonada o cotidiano e as preocupações de uma pedagogia pelo esporte. Essa foi uma das obras que inspirou o Barão Pierre de Coubertin a edificar seu ideário olímpico, tema central dessa manifestação.

O estudo do fenômeno olímpico me inspira de diferentes formas, seja por seus aspectos macro que envolve a história, bem como as questões sociais e filosóficas, até seu âmbito mais específico relacionado basicamente à psicodinâmica do atleta e das equipes esportivas. Entendo que reside na compreensão desse continun – sujeito-sociedade – o sucesso de uma intervenção que não é apenas clínica, mas essencialmente social.

Vejo "milagres" sociais serem operados por meio do esporte, e não apenas o olímpico, mas afirmo que é o esporte olímpico que fornece muitos grandes exemplos para que milhões de crianças desenvolvam o desejo do vir a ser. E é nisso que eu aposto minhas fichas, minha energia de vida e meu vigor acadêmico: no estudo do fenômeno olímpico e em suas reverberações em diferentes indivíduos, sejam eles crianças ou adultos, que se refletirão nos movimentos da sociedade de forma mais ampla.(...)

(...)Há anos estamos trabalhando na realização de projetos de educação olímpica em consonância com o pensamento de Pierre de Coubertin. Pensei que a realização dos Jogos Olímpicos no Brasil fosse o momento oportuno e privilegiado para multiplicarmos essas ações que já ocorrem dentro de uma perspectiva de educação não-formal e informal. Nós da área acadêmica temos essa estranha mania de ter fé na vida e acreditar em coisas improváveis ou mesmo impossíveis.

Na última quinta-feira, 28 de janeiro de 2010 tomei contato com um documento do Comitê Olímpico Brasileiro que me informa que devo recolher o livro Esporte, educação e valores olímpicos. Essa notícia além de me surpreender me causou enorme espanto por conta das alegações utilizadas para tal. Conforme o documento "o uso dos termos ‘olímpico’, ‘olímpica’, ‘olimpíada’, ‘Jogos Olímpicos’ e suas variações… são de uso privativo do Comitê Olímpico Brasileiro no território brasileiro."

Voltamos ao tempo da Inquisição onde apenas os iniciados poderiam fazer parte dos mistérios e os livros e publicações indexados deveriam ser expurgados impingindo aos descuidados o calor das chamas das fogueiras? É sempre bom lembrar que Hitler também fez suas escolhas de obras indexadas e termos permitidos.

O livro Esporte, educação e valores olímpicos foi gestado muito antes do anúncio da candidatura do Rio de Janeiro, uma vez que não tínhamos em nosso país nenhuma obra dedicada aos jovens para tratar do tema Olimpismo. Criei também um guia didático para uso dos professores em sala de aula apontando como usar o material como tema transversal, aproximando assim nossa tão desrespeitada educação física escolar de disciplinas "nobres" como a língua portuguesa, história, geografia, biologia etc.

Como diria Luther King "I have a dream" e continuarei a tê-lo, independente da ação do COB. Meu sonho continua vinculado ao país que tenho e ao país que desejo ter, e como o esporte pode contribuir para essa realização.

Publicar livros é dever de ofício de pesquisadores, principalmente das ciências humanas, e esse último é mais um entre os muitos que ainda pretendo publicar sobre o tema olímpico. Tenho um livro no prelo sobre as Mulheres Olímpicas Brasileiras. Que faço diante disso? Nomeio o inominável ou deixo que pisem as flores de meu jardim como no poema em homenagem a Maiakovsky?

"[...]
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
[...]"

Conto com o apoio de todos aqueles que estudam, pesquisam, ensinam e publicam sobre Olimpismo, Educação olímpica, Valores olímpicos, Ideais olímpicos, Imaginário olímpico, os deuses olímpicos não atletas, os heróis olímpicos de hoje e da Antiguidade para que essa forma de censura não se abata sobre nossas produções, para que prevaleça a liberdade de pesquisa e de expressão e para que o conhecimento possa chegar a toda a sociedade, saindo dos círculos restritos da universidade e contribuindo para uma sociedade mais justa e um país melhor.

Se de alguma forma essa notícia também lhe causa perplexidade escreva para:

carlos.nuzman@cob.org.br

andre.richer@cob.org.br

presidência@cob.org.br

e manifeste sua opinião.

A Família Olímpica

POR GUSTAVO PIRES, professor da Universidade Técnica de Lisboa

Há pessoas que no âmbito do Movimento Olímpico se julgam no direito de decidir quem pode e quem não pode dedicar-se ao estudo e à investigação das questões do Olimpismo. Na sua profunda ignorância e pesporrência estão convencidos que são proprietários de algo que os transcende. Quer eles queiram quer não, o Olimpismo é propriedade da Humanidade e não de uma qualquer casta que numa atitude profundamente xenófoba se gosta de chamar a si própria de "família olímpica".

Em Portugal, os dirigentes do Comité Olímpico de Portugal (COP) também se julgavam no direito de decidir quem podia ou não utilizar as palavras olímpico, Olimpismo ou, entre outras, Jogos Olímpicos, convencidos de que eram proprietários não só dos conceitos em si, como das próprias palavras que pertencem, como qualquer pessoa de bom senso sabe, à língua portuguesa e aos seus falantes.

Em conformidade, pretenderam acabar com uma organização de seu nome Fórum Olímpico de Portugal.

Para o efeito, contrataram um dos maiores escritórios de advogados do país mas o tiro saiu-lhes pela culatra.

Os Tribunais portugueses decidiram que a lei não lhes concedia o monopólio do uso das palavras pelo que o Fórum Olímpico de Portugal continua de boa saúde a produzir conhecimento na área do Olimpismo.

Entretanto, tomamos conhecimento que o Comité Olímpico Brasileiro (COB) quer obrigar uma investigadora da Universidade de São Paulo de seu nome Kátia Rúbio que investiga e publica há vários anos sobre a problemática do Olimpismo, a recolher o seu último livro intitulado "Esporte, Educação e Valores Olímpicos"! Tal como cá, os caras lá do Brasil também se julgam proprietários das palavras olímpico, olímpica, olimpíada, Jogos Olímpicos e suas variações...!!!

Há uns anos, tivemos a oportunidade de assistir no Rio de Janeiro a uma conferência sobre Olimpismo proferida precisamente pelo presidente do COB.

O que a generalidade das pessoas no fim da conferência comentou foi que o cara falou de dinheiro, de muito dinheiro, de marketing, de investimentos e de todos os termos possíveis e imaginários na área económica e financeira, contudo, ninguém o ouviu falar de Olimpismo, de valores do desporto, de educação ou de desenvolvimento humano.

O problema é que, como a generalidade dos dirigentes do Movimento Olímpico não fala sobre o Olimpismo e os seus valores, quer obrigar os outros a fazer o mesmo.

Não poderá Lula da Silva meter o sujeitinho na ordem.

Em Portugal foram os Tribunais através dos doutos acórdãos dos juízes que o fizeram.

O processo pode ser consultado em: www.forumolimpico.org

Veja mais em http://cev.org.br/, de onde este blog extraiu os dois escritos acima."

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Do Congresso em Foco

"05/01/2010 - 15h11

Zero de impostos para Fifa na Copa de 2014

Federação e empresas envolvidas na organização do Mundial terão isenção tributária total de 2011 a 2015

Mário Coelho

A Fifa e seus parceiros comerciais terão isenção tributária total para a organização da Copa do Mundo de Futebol de 2014, no Brasil. O projeto detalhando o benefício foi apresentado na manhã desta terça-feira (5) ao secretário-geral da instituição, Jerome Valcke, pelo ministro do Esporte, Orlando Silva. A intenção do governo federal é encaminhar o texto, que ainda sofrerá ajustes por parte da Fifa, ao Congresso em fevereiro, quando os parlamentares voltam do recesso.

A reunião com o secretário-geral da Fifa durou mais de duas horas. Silva, o secretário-executivo da Fazenda, Nelson Machado, o secretário de Futebol do Ministério do Esporte, Alcino Rocha, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, membros da Casa Civil e de outros órgãos do governo esperavam pela aprovação da entidade que rege o futebol mundialmente. Apesar da instituição ter gostado do que viu, ainda pediu um tempo para analisar a matéria.

O projeto de lei trata de isenção de taxas, impostos ou tributos concedida a estrangeiros para o exercício de atividades relacionadas às competições desempenhadas pela Fifa e por outras entidades que participarão da realização da Mundial de Futebol. A isenção tributária é uma das 11 garantias governamentais oferecidas pelo governo federal para cumprir as exigências da Fifa para a realização da Copa do Mundo no Brasil. Se o governo não cedesse, o país corria o risco de perder a organização da Copa.

Com o encaminhamento da matéria, a Fifa terá a isenção de impostos como PIS e Cofins, que incidem sobre faturamento; Imposto de Renda; contribuição previdenciária do empregador; IOF e imposto de importação, entre outros. Como o Congresso em Foco mostrou em outubro, a concessão do benefício à entidade causou uma saia justa entre as pastas do Esporte e da Fazenda. Enquanto a primeira defendia o cumprimento de todas as exigências, a segunda queria um meio-termo, como foi na Copa da Alemanha. Prevaleceu o que acontecerá este ano na África do Sul: a isenção tributária total.

A justificativa da entidade é que os produtos dos parceiros não são fabricados no Brasil. Por isso, não podem ser tributados. Caso das câmeras de transmissão da emissora de TV que ficará responsável pela geração das imagens, por exemplo. Ou os tênis calçado pelos voluntários. Outro exemplo é o ônibus usado para transportar as delegações nas cidades-sede da Copa. Porém, cabe a Fifa definir quem receberá isenção ou não. O governo, pelo o que o site apurou, não poderá contestar as indicações da entidade.

Mudanças técnicas

"Essa reunião fecha um ciclo que começou há dois anos entre o Brasil e a Fifa, muitas reuniões. Houve entendimento", disse o ministro do Esporte após a reunião, em entrevista coletiva. A expectativa do governo federal, neste momento, é pelo retorno do texto aos técnicos brasileiros. A Fifa pediu um tempo para examinar o projeto, e deve fazer "mudanças técnicas". "A nossa ideia é enviar o projeto em fevereiro ao Congresso", disse o virtual secretário de Futebol, Alcino Rocha.

Inicialmente, o governo mandará o texto como projeto de lei ordinário, sem regime de urgência. Até mesmo porque espera-se que ele seja alvo de uma discussão mais aprofundada dentro do Congresso. A pasta chefiada por Alcino ainda não está criada formalmente. Depende de um decreto assinado pelo presidente Lula. A expectativa do titular da secretaria que não existe é que a ordem seja publicada nas próximas semanas.

Período

Não foi apenas na isenção tributária que o Brasil teve que ceder para a Fifa. Inicialmente, os técnicos da Receita Federal e da Fazenda estipularam como prazo final para o benefício dezembro de 2014. Porém, a entidade pediu um prazo maior, que acabou estendido até dezembro de 2015. Se for aprovado neste ano, a Fifa e seus parceiros terão isenção de janeiro de 2011 até o fim do ano seguinte à Copa do Mundo.

O aumento do prazo, de acordo com o governo, é porque as empresas continuarão a fazer e receber pagamentos após os jogos. "A Copa não acaba após o último jogo", disse o ministro Silva. Além disso, outra questão colocada são as dificuldades para fechar uma empresa impostas pela legislação brasileira.

Além disso, o projeto também estende a isenção para empresas brasileiras que fabricarem produtos que possam interessar à Fifa na organização. Isso porque conceder para as estrangeiras e não para as brasileiras fere o princípio da isonomia previsto na Constituição Federal. Ainda, segundo pessoas próximas à confecção do projeto ouvidas pelo site, as indústrias nacionais não conseguiriam competir com as internacionais sem o benefício.

"Aí ficaria ao critério da Fifa escolher o produto nacional ou o importado", disse Alcino Rocha. Para compensar as perdas - o governo ainda não possui um número fechado de quanto deve abrir mão -, o governo acredita que a arrecadação no período vai aumentar por conta do movimento de turistas. Atividades turísticas não terão isenção.

Projetos

Após o envio do projeto de isenção ao Congresso, o Ministério do Esporte vai concentrar seus esforços na elaboração do projeto da Lei Geral da Copa. A Fifa exige, por exemplo, a facilitação de concessão de vistos de trabalho temporários, de imigração e exige direitos comerciais de exploração e proteção aos produtos da entidade. O governo estuda a criação de uma comissão específica só para fiscalizar a confecção e venda de produtos piratas.

O passo seguinte é fechar com os governos estaduais e municipais como ficará a divisão das responsabilidades nas obras para a Copa do Mundo. O governo federal garante que não investirá na construção de estádios de futebol, e que colocará verbas em obras de infraestrutura e na área de segurança. Aos locais ficarão previstos, inicialmente, investimentos em transportes e mobilidade urbana.

Ingressos

O ministro anunciou também que um acordo feito com a Fifa vai possibilitar que a venda dos ingressos seja feita mundialmente em reais. Normalmente, a entidade vende as entradas para os jogos em euros (nas competições situadas na Europa) e em dólar (para o resto do mundo). Eles terã uma carga tributária de 10%, na expectativa de que os preços não sejam excessivos. "Isso demonstra que o real é realmente forte", afirmou Orlando Silva."

http://congressoemfoco.ig.com.br/noticia.asp?cod_canal=1&cod_publicacao=31388