terça-feira, 28 de agosto de 2007

Extrapolaram


A cena foi lamentável. Após o jogo contra o Grêmio o Presidente do Fluminense, Roberto Hocardes, estava colérico contra a arbitragem do jogo que validara um gol irregular do time gaúcho nos últimos minutos, empatando a partida. Com Renato Gaúcho e Branco calados, parecendo dois garotos colegiais, o cartola dava socos na mesa e apontava a "arbitragem paulista" como grande culpada pelos erros contra o Tricolor carioca.

O episódio merece uma análise mais aprofundada, a qual me proponho agora a fazer.

Em primeiro lugar, e mais importante: nunca a arbitragem brasileira errou tanto como atualmente, interferindo diretamente nos resultados de várias partidas. Apenas na última rodada Fluminense, Vasco e Atlético-PR foram incontestavelmente prejudicados por erros grosseiros dos árbitros, que inclusive já motivaram duas punições. Algo concreto precisa ser feito, e logo. Deixar árbitros "na geladeira" por algumas rodadas, apenas para que não cometam erros por um curto período de tempo, não adianta nada. A incompetência passou dos limites.

Porém, deixando o bairrismo de lado, preciso falar uma coisa para o furioso Hocardes: não existe nenhum complô paulista contra times cariocas. A ruindade não é exclusividade nossa, é geral. O erro mais grave do ano foi cometido por um gaúcho, Simon, na Copa do Brasil. A não marcação de um pênalti claro tirou o Atlético-MG da competição, favorecendo o Botafogo... do Rio. O mesmo Botafogo que, por sua vez, seria prejudicado na semi-final, pela Ana Paula, "favorecendo" o Figueirense, de Santa Catarina. Portanto, todos acabam sendo favorecidos em ocasiões isoladas, mas no geral o futebol como um todo é prejudicado.

Agora, com relação a "esquemas" regionais, não custa nada relembrarmos a história. Campeonato Brasileiro de 1996. O Fluminense foi rebaixado para a Segunda Divisão e, sem nenhum motivo, reintegrado à Série A no ano seguinte - o que não impediu outros dois rebaixamentos do time, que acabou na Série C. Já em 1999, seria a vez do Botafogo ser rebaixado, mas o "gato" Sandro Hiroshi permitiu uma manobra jurídica e inversão dos pontos em um jogo contra o São Paulo (o qual havia perdido por 6x1). Foi a salvação da Estrela Solitária, trocando de lugar com o Gama. Mas o pior ainda estava por vir. O Gama foi à justiça, e para evitar a não-realização da edição de 2000, a CBF abortou a Copa João Havelange, com dezenas de times, algumas divisões e o Fluminense de volta à elite... sem sequer ter disputado a Série B!

Complô paulista? Não, Hocardes, isso não existe e nem é necessário. Se nos últimos anos os times cariocas estiveram abaixo da média, foi por culpa exclusiva deles mesmos.

Aproveito para falar que não tenho nada contra times de qualquer Estado. Já falei bem dos times gaúchos, sou fã do Zico, invejo a beleza do clássico Cruzeiro x Atlético e torço para que os times do Nordeste venham à Série A mais competitivos. Mas não aceito a pilantragem, tão presente no Rio, São Paulo e em qualquer outro lugar. Edílson Pereira de Carvalho, Luis Zveiter e Márcio Rezende que o digam...

Os dirigentes dos clubes brasileiros, ao invés de apontarem a arbitragem como a culpada por todos os seus males, deveriam, juntos, pressionar a CBF para e exigir uma melhora efetiva nesse catastrófico cenário. Se a entidade máxima do esporte não dá a atenção devida ao fato, é obrigação dos clubes fazê-la cumprir suas obrigações. Afinal, com a tal da Copa 2014, a tendência é cada vez mais o Genro Pródigo se preocupar com contratos e verbas do que com o futebol brasileiro.

E no caso de Hocardes, mais uma dica: poupe suas energias com chiliques e use-as em estruturar seu time para 2008, caso contrário teremos um vexame brasileiro certo na Libertadores.

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