Alexandre Pato tem 17 anos, atuou em exatos 27 jogos e fez 12 gols pelo Internacional-RS, e antes de virar ídolo já é do Milan. Ilsinho, bem menos talentoso que Pato, foi encostado no Palmeiras e aproximadamente um ano após estrear no São Paulo já arrumou as malas para a Ucrânia. Nada disso assusta mais. O que assusta é a passividade de quem dirige nosso futebol.
Há como impedir que jogadores com 20 anos ou menos saiam do Brasil? Não, mas deve haver um meio de dificultar isso ou minimizar os seus impactos. Com gestões mais profissionais e competentes os clubes teriam mais dinheiro em caixa, conseguindo assim oferecer melhores salários aos seus jogadores. Com um calendário adequado ao europeu, essas saídas não desmontariam times no meio do Brasileirão, dando tempo aos técnicos em reorganizar a casa para a disputa. Não sei se algo pode ser feito com relação à legislação (acho que não). Enfim, dá para fazer alguma coisa. Se a casa já pegou fogo, que se salve ao menos os móveis.
Com toda essa zona, temos três grandes consequências:
1) Um Campeonato Brasileiro de baixo nível técnico: nenhum futebol perde mais de 800 jogadores em um ano e sai ileso. Não perdemos apenas craques, mas jogadores médios que fariam grande diferença na atual conjuntura. Renato, do Flamengo, e Dênis Marques, do Atlético-PR, são exemplos disso.
2) Surgimento de bons jogadores vindos do nada: antigamente, a ordem natural das coisas era um jogador despontar em algum time de um centro periférico do Brasil, se transferir para um grande clube e só mais tarde ser finalmente vendido para a Europa. Hoje, a etapa do meio desapareceu. Empresários já vendem seus atletas, ainda jovens, direto de um Vitória-BA para algum time pequeno da França. Claro que o jogador não tem maturidade para encarar o desafio, e após um ano tanto ele como o time querem seu empréstimo de volta para o Brasil. Miranda, do São Paulo, ilustra bem isso. Ou pior: se o jogador dá certo, fica por lá mesmo sem ter nenhuma história por aqui. Que o digam Pepe, Deco, Kuranyi...
3) Uma seleção de apátridas: a primeira nação de um jogador de futebol é o seu clube. É lá que ele conhece o mundo do futebol, apresenta o seu talento e encanta multidões. É impossível falar que Alexandre Pato é ídolo no Inter, assim como o Kaká é no São Paulo e o Gaúcho no Grêmio. Não tiveram tempo para ser. Com isso, a tendência é termos no futuro uma Seleção em uma Copa sem ídolos nacionais. Já não estávamos muito longe disso na Alemanha.
E não dá para culpar os jogadores de falta de amor à camisa ou precipitação. Um argumento - válido - é que com um pouco de paciência, o destino dele poderia ser Milão ou Munique, e não Zagreb ou Kiev. Mas para quem não tem nada, é justo querer se agarrar à primeira boa chance de mudar de vida. Alguns milhões de reais, para quem veio da periferia, compensam o frio polar e o esquecimento proporcionados por esses centros obscuros.
Estamos assistindo de camarote à prostituição do futebol brasileiro, a um ritmo desenfreado. E quem ganha mais com isso não são nem as putas ou os clientes da zona, mas sim os cafetões.
Um comentário:
Falou e disse! E ainda tem a lavagem de dinheiro. Ou você acha que um time como o Milan teria os milhões em caixa pra levar um menino de 17 anos do Brasil que só tem 27 jogos como profissional, se não fosse lavanderia?
Gabriel - BH, MG
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