Abel deveria ter deixado o Inter em alta após a final do Mundial, pois a cobrança sobre um time que ganhou tudo é acima do normal, e geralmente não compatível com a vontade de vencer do time. Não saiu e acabou demitido. Teoricamente não deveria ter problemas para encontrar outro time, inclusive do exterior, pois não é qualquer técnico que consegue parar um time extraordinário com um elenco apenas comum. Mesmo assim, não conseguiu emprego nem no mediano Campeonato Português - ou, pelo menos, uma proposta que o interessasse - e a volta ao Beira-Rio acabou sendo boa para ambas as partes. Abel volta ao mercado para um clube ao qual está acostumado e valorizado, e o Inter contrata um profissional competente para tirá-lo da posição atual no Campeonato Brasileiro.
Seleções inexpressivas à parte, o futebol internacional não dá a mínima para técnicos brasileiros. Vanderley Luxemburgo foi e voltou rápido do Real Madrid, sem deixar saudades. Zico está muito bem, mas ainda em uma liga de escalão mais baixo. A exceção é Felipão, na Seleção Portuguesa. Mas os exemplos são poucos para a grandeza do nosso futebol.
Em uma entrevista à revista Trivela, o jogador do Inter Fernandão disse que os técnicos brasileiros são muito menos preparados do que os estrangeiros, estando "anos-luz atrás dos europeus". Pode ser. É estranho mesmo que os grandes times europeus não tenham brasileiros no comando. Talvez seja um reflexo da própria cultura futebolística brasileira, a qual prega que basta o talento nato do jogador para se resolver uma partida. Esquemas táticos ficam em segundo plano. Com isso, cria-se uma legião de profissionais preocupados em falar a língua dos jogadores e da torcida, mas sem o conhecimento necessário para fazer a leitura de um jogo de futebol. Os que sabem, como o Luxemburgo, se destacam.
Essa idéia, porém, está cada vez mais ultrapassada, e a tática ganha jogo hoje em dia sim. Basta ver a Itália campeã de 2006, e os atuais times do Campeonato Brasileiro. Com elencos pobres e nivelados, aquele que conseguir extrair o máximo da qualidade de cada atleta, encaixando-a em um esquema bem definido, tem maiores chances de sucesso. O lance genial do craque é cada vez mais raro, até porque os próprios craques também são.
Ainda acredito que o jogador brasileiro é, na média, mais genial que os demais. Mas nossos técnicos têm que entender que o futebol muda com o passar do tempo, e adaptações são necessárias para se viver melhor ou, até, sobreviver (não sou eu quem fala isso, mas Darwin). E nesse contexto entra um maior conhecimento tático do jogo, além de noções gerais de cultura que fazem a diferença num ambiente estrangeiro. Caso contrário, não são apenas esses profissionais que sairão perdendo, mas o próprio futebol brasileiro.
2 comentários:
Não acho que o fato de não haver técnicos brasileiros no exterior seja por que os daqui são piores ou muito piores que os outros. O brasileiro, de forma geral, além de jogar bem, também entende bem o esporte. E essa de dizer que aqui são tantos craques que os técnicos relaxam na hora de organizar time não cola, já que os maiores (pra não dizer todos) os craques brasileiros estão na Europa. Acho que, no futebol de um modo geral, a atuação do técnico é mais ou menos que relegada a segundo plano mesmo. O técnico raramente recebe o mérito devido pelas vitórias, mas é sempre o culpado pelas crises, como se ele nunca pudesse fazer um time decolar, mas como se pudesse ser aquele que pode atrapalhar os astros do esporte, que são os jogadores. Acho que é por aí. Por isso, a falta de interesse de se pegar técnicos de um outro continente. O Brasil também raramente importou técnicos de fora. Só vejo isso acontecer naqueles países onde o futebol é muito primário e sabe-se pouco ou quase nada do jogo, como algumas nações asiáticas ou africanas.
Gabriel Rocha, Belo Horizonte, MG
A ídéia da genialidade suprema do jogador brasileiro não é exclusiva dos técnicos, é cultural mesmo. Basta ver os comentários que a imprensa e o povo em geral fazem a cada conquista do futebol brasileiro.
Lá fora o técnico é mais valorizado, são vários exemplos de trabalhos que duram anos - na Inglaterra, chegam a décadas. Mas para ter sucesso na Europa, além de um conhecimento tático muito grande do futebol - já que essa é a base do futebol europeu - é necessário um conhecimento de mundo muito grande, para saber se adaptar a um novo país e lidar com jogadores de diversas nacionalidades. Se conta nos dedos o número de técnicos brasileiros que, na melhor das hipóteses, arranham um 'portunhol'.
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