sábado, 22 de setembro de 2007

Desemprego na Europa

Muito se fala sobre a revoada de jogadores brasileiros para o exterior, sobre como isso deixa o Brasil privado de seus melhores craques e a falta de iniciativa de dirigentes para tentar, ao menos, reduzir o processo. Costumamos nos colocar no papel de vítimas nessa situação, pois vemos nossos craques ainda imberbes serem arrancados de seus berços, seduzidos por algumas centenas de milhares de euros.

Porém, na verdade, não somos as vítimas. Somos os vilões da história, responsáveis por causar de uma grave crise social na Europa: o desemprego de jogadores de futebol.

Vamos aos números, pois contra eles não há argumento. Segundo o site da CBF, 2349 jogadores de futebol deixaram o país desde 2005, e no mesmo período 1177 deles regressaram. Isso ainda deixa a considerável soma de 1172 atletas que foram para não voltar. Seja na Espanha, na Bósnia ou no Suriname, temos jogadores brasileiros dando suas pedaladas e carrinhos.

A maioria destes, como sabemos, não está em um país europeu, o que derrubaria a minha polêmica teoria proposta no título. Mas, considerando apenas uma amostragem - embora relevante - de times europeus, vejamos quantos brasileiros estão disputando a Champions League, iniciada esta semana:

Arsenal: Gilberto Silva, Denílson, Eduardo Silva**
Barcelona: Edmilson, Sylvinho, Deco**, Ronaldinho
Benfica: Edcarlos, Luisão, Léo
Besiktas: Ricardinho, Bobô
Celtic: nenhum
Chelsea: Alex e Belletti
CSKA Moscou: Ramón, Daniel Carvalho, Dudu, Eduardo, Vágner Love, Jô
Dynamo Kiev: Rodrigo, Kléber, Michael
Fenerbache: Roberto Carlos, Edu Dracena, Alex, Deivid
Internazionale: Júlio César, Maxwell, Maicon, César*, Adriano*
Lazio: nenhum
Liverpool: Fábio Aurélio, Lucas
Lyon: Cris, Anderson, Juninho Pernambucano, Fred
Milan: Dida, Cafu, Serginho, Emerson, Kaká, Ronaldo, Digão*, Pato*
Manchester United: Ânderson
Olympiacos: Júlio Cézar
Olympique Marselha: nenhum
Porto: Hélton, Leandro Lima, Adriano, Edgar, Lino
PSV: Cássio, Fágner, Jonathan, Alcides
Rangers: nenhum
Real Madrid: Pepe**, Marcelo, Robinho
Roma: Doni, Julio Sérgio, Cicinho, Juan, Taddei, Mancini
Rosenborg: nenhum
Schalke 04: Rafinha, Bordon, Kuranyi**
Sevilla: Daniel Alves, Renato, Luis Fabiano, Adriano
Shaktar Donetsk: Ilsinho, Jadson, Willian, Luiz Adriano, Brandão, Fernandinho
Slavia Praga: nenhum
Sporting: Liedson, Gladstone, Ronny, Celsinho, Anderson Polga
Steaua Bucareste: nenhum
Stuttgart: Gledson, Ewerthon, Cacau
Valencia: Edu
Werder Bremen: Naldo, Diego, Carlos Alberto
* jogadores não-inscritos no torneio
** jogadores naturalizados

Nada menos que 90 brasileiros (um ou outro pode ter escapado à minha consulta) disputam o mais importante torneio de clubes do mundo. Se cada time tiver por volta de 30 jogadores inscritos, dariam três times completos formados por jogadores brasileiros!

Antigamente isso não acontecia, o que nos leva à minha primeira óbvia conclusão: estamos tirando o emprego de jogadores europeus, ou relegando-os a sub-empregos em times de divisões inferiores. Quem diria que filhos legítimos de linhagens seculares, que outrora reinaram em sacros-impérios do Velho Continente, teriam de se sujeitar à humilhação de ver bárbaros indígenas tomando os lugares que lhes eram devidos! É preciso que autoridade competentes tomem providências enérgicas para coibir essa prática, caso contrário podemos presenciar uma crise social nunca antes vista em terras européias.

Agora, imaginem se todos esses craques, ao invés de se espalharem por países de toda a Europa, fossem reunidos em times de um só país. Sem dúvida esse felizardo Estado teria, se não o mais belo, um dos campeonatos mais atraentes do mundo. Isso seria impossível de acontecer, pois é legalmente impossível que todos os brasileiros fossem jogar em um só país. Isso só poderia acontecer em um lugar: no Brasil. Lugar esse que, por muito tempo, antes da "abertura dos portos", reunia todos esses jogadores. O que nos leva à minha segunda óbvia conclusão do dia: tivemos, por anos, o melhor campeonato de futebol do mundo.

Éramos felizes e não sabíamos.

Mas tudo bem. Os jogadores europeus terão o troco, amargando horas na fila de agências de emprego, juntando trocados para aliementar suas proles. Ou se juntando aos demais torcedores em frente à TV para acompanhar os jogos de futebol.

2 comentários:

PJ disse...

Faltou o Belletti no Chelsea e o Cesar na Inter... que eu lembre!
Abraço!
PJ

Fabio Pimentel disse...

Pois é, são tantos que sabia que alguém tinha ficado de fora. Mas o César é outro que, pelo menos segundo o site da UEFA, nãi está inscrito na Champions League.
Abs!