sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

O Quênia é Galo... e daí?

Robert Cheruiyot e Alice Timbilili, vencedores da 83a São Silvestre, comemoraram o título com uma bandeira do Atlético-MG. O próprio queniano deixou claro que não sabe direito o que é o clube. Talvez nem saiba onde fica Belo Horizonte.

Segundo Ziza Valadares, a surpresa foi uma ação de marketing para dar início às comemorações do centenário do clube mineiro. Ação que mais parece provocação barata ao rival.

Não conheço o programa de atletismo do Cruzeiro, mas já é impossível ignorar o investimento celeste na modalidade. Se a proposta for séria, compreendendo um real e contínuo apoio aos atletas, a atitude é louvável. Mas vendo de fora, e conhecendo a personalidade egocêntrica dos irmãos Perrella, fica difícil não lembrar do "Programa Olímpico" que o Vasco lançou no final da década passada. Num primeiro momento, tornou o Gigante da Colina uma potência pan-americana; o fim da história, porém, representou atletas dispensados do dia para a noite, sem receber, e milhões de reais torrados do patrocinador a fundo perdido.

Que a história não se repita na Toca da Raposa.

O fato ocorrido no último dia de 2007 serve também para outra análise, que em particular eu sempre gosto de fazer: a comparação entre o futebol de Belo Horizonte e Porto Alegre. As duas cidades são capitais relativamente ricas e desenvolvidas, de tamanho e população mais ou menos semelhante, com a torcida dividida basicamente em dois grandes blocos. Defendo a tese que o comportamento - e, consequentemente, os resultados - de um dos times tem impacto direto, quase sempre, no rival. Para o bem e para o mal.

Nas Gerais, o último título de expressão veio em 2003. Depois disso, só decepções. Cruzeirenses amargam anos de maus resultados nacionais e ainda vêem seu time ser transformado em balcão de negócios dos Perrella. A venda prematura e constante troca de jogadores impede a formação de um time competitivo. Atleticanos tiveram de frequentar por um ano a Série B, e ano passado só se livraram de voltar a ela no final do campeonato. Nem a classificação do Cruzeiro pode ser muito comemorada, já que ela veio de uma improvável derrota do Palmeiras - e com o time montado para a competição, até o mais fanático cruzeirense duvida das chances do time.

Nenhum dos times tem estádio próprio (apesar de terem bons centros de treinamento), insistem em parcerias de ética duvidosa com times do interior e se vêem envolvidos em episódios como a súbita aparição da bandeira alvi-negra no pódio de uma corrida de rua em São Paulo. Que, de prático, não tem efeito nenhum.

No Sul, Internacional e Grêmio também passaram por maus bocados no início da década. O Colorado quase caiu para a Série B em 2002, feito conquistado pelo Tricolor em 2004. Diante da crise, surgiu a necessidade de uma reestruturação eficiente, sem enganar a torcida ou se envolver com parceiros milagrosos. Depois de alguns anos, o primeiro conquistou a América e o Mundo; o outro, voltou forte da Segundona direto para uma final de Libertadores. Os dois têm estádio próprio e discutem a modernização dos mesmo visando a Copa de 2014, além de um programa de sócios de sucesso, que rende aos clubes renda extra e casa cheia.

Se o ano de 2007 não foi dos melhores, tudo indica que ambos têm plenas condições de voltarem à Libertadores em 2009. Além de brigarem pelos principais campeonatos que disputarem em 2008.

Enquanto os times do Sul tornam-se cada vez mais internacionais, os de BH resumem-se a disputas provincianas.

5 comentários:

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

Caro amigo Bola,

Há tempos devia uma mensagem neste blog que está cada dia melhor. Parabéns pelas excelentes análises. E é em cima desta última que digo... Não é à toa que Atlético e Cruzeiro disputam dentro de Minas Gerais o título de maiores clubes junto com Flamengo e Botafogo. No sul, ninguém nem sonha com "time de fora". Eu tenho um primo, natural de Uberlândia, que é Flamengo doente! Passa final do campeonato mineiro ou Flamengo e Volta Redonda e o cara se isola pra ver a cariocada! Uma pensa, pois acho que os dois times têm um enorme potencial, mas continuam sendo regionais demais...Enquanto isso, o Galo será o segundo time de muitos...inclusive o meu...hehe Grande Abraço, Cris

Fabio Pimentel disse...

Além de potencial, Cruzeiro e Atlético fazem o clássico mais bonito do Brasil. Mas se continuarem com o pensamento e atitudes pequenos, vão perder cada vez mais espaço no cenário nacional.

Anônimo disse...

Fala Bola,
meu nome é Fábio, sou tesoureiro da AAAVC-2008. Depois que o 18 passou o seu endereço na internet leio quase todos seus textos e, sendo fanatico por futebol, me senti no direito de comentar esse texto.
Acho que a comparação que fez entre os clubes mineiros e gauchos pode ser ampliada para todo o país. Penso que talvez nosso futebol caminhe para um resultado semelhante aos grandes campeonatos europeus, aonde 3 ou 4 clubes (sempre os mesmo) disputam os maiores titulos do ano, sendo que cada temporada separa espaço para 1, no máximo 2, surpresas.
Acredito que os 4 grandes do nosso país já começam a se desenhar.
abraços, Fábio

Fabio Pimentel disse...

Essa também é uma das minhas teorias, até por isso tenho costume de escrever "grandes" clubes entre aspas. Não tenho dúvidas de que em se mantendo o sistema de pontos corridos, veremos uma mudança nas relações de forças no futebol brasileiro. Não dá mais para achar que um clube que tenha feito seu nome vencendo apenas torneios regionais no início do século XX - que tinham sua importância na época - ainda podem ser considerados forças do futebo brasileiro.
Só o tempo dirá.
Um abraço.