segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A arbitragem eletrônica

Estava conversando com uns amigos meus ontem sobre a arbitragem eletrônica no futebol, assunto polêmico e cada vez mais recorrente no meio futebolístico. Já tinha pensado em escrever algo a respeito, ainda mais depois dos casos Simon e Henry do último mês. Então vamos lá ao que penso.

Em primeiro lugar, temos um ponto incontestável: a arbitragem brasileira é muito fraca. Enquanto não encararmos o problema no seu ponto principal, nunca o resolveremos. Maior qualificação para árbitros, através de uma CBF que assuma de vez a responsabilidade pelo assunto - que é dela mesma - é o primeiro passo. Não adianta nada querer apitar o jogo pela TV com um árbitro in loco despreparado, pois estaríamos apenas criando mais um motivo para confusão. Um STJD que se limitasse a questões disciplinares, de forma imparcial, e sem querer rever decisões tomadas pela autoridade máxima da partida também é um imperativo. Pois um "ente superior" que tem por costuma alterar o juízo do árbitro conseguem apenas desmoralizá-lo ainda mais.

Mas aí você vem e argumenta: "Mas a arbitragem erra em todo lugar! Olha só o lance do Henry, tirou a Irlanda da Copa! A arbitragem eletrônica é a única solução!"

Não tenho dúvida de que erros desse tipo acontecem - e continuarão acontecendo - em qualquer lugar, apesar de ter a sensação de que aqui eles são mais recorrentes. Então, para chegarmos ao nível da arbitragem do exterior, primeiro temos de pensar no que escrevi no segundo parágrafo.

Depois disso, e ANTES de se pensar na arbitragem eletrônica, acho que deve-se estudar mais a fundo a possibilidade da inclusão de mais árbitros em campo. E não árbitros meramente consultivos/decorativos, mas com real poder de decisão. Alguém tem alguma dúvida de que, se existisse um árbitro postado atrás do gol da Irlanda, o fatídico gol francês teria sido invalidado?

O basquete, com seu campo de jogo muito menor que o futebol, tem três árbitros; o vôlei também, mais quatro juízes de linha. Porque temos de continuar mantendo apenas um árbitro no campo de futebol que geralmente tem mais de 6000 m2, auxiliado por dois bandeirinhas com autoridade reduzida? Se este enorme espaço fosse mais racionalmente dividido, cada árbitro estaria sempre (em tese) mais próximo do lance, com maior chance de ver o que realmente aconteceu e com seus reflexos mais apurados, devido ao menor desgaste físico.

Atualmente, temos dois grandes exemplos da influência de aparatos tecnológicos que auxiliam na arbitragem de modalidades esportivas: o tênis e o futebol americano. A utilização destes recursos ajudou bastante a solucionar dúvidas em momentos importantes das partidas. Mas algumas ponderações devem ser feitas.

A introdução destes recursos é relativamente recente. E antes de sua adoção, ambos os esportes já contavam com diversos árbitros em campo. Ou seja, a tecnologia veio suprir uma lacuna que o homem provavelmente não conseguiria mais preencher - exatamente o que sugiro neste texto.

O uso deste aparato é regulado, pois seria inviável recorrer às imagens gravadas para solucionar todo e qualquer lance. Mesmo o tênis e o futebol americano, que já têm suas disputas sistematicamente interrompidas, pela própria natureza das modalidades, limitam o uso das imagens a momentos e circunstâncias específicas. Como fazer isso no futebol, um jogo que não tem tempos técnico ou seu cronômetro pausado em nenhum momento? Essa mesma limitação na utilização da tecnologia também impede que 100% das dúvidas sejam sanadas - portanto, o problema não é totalmente eliminado.

Por fim, temos que tanto o tênis como o futebol americano são esportes mais "restritos" que o futebol; o primeiro por sua áurea elitista, e o segundo por ser praticado em grande escala em basicamente um só país, tratado primordialmente como um negócio, o que torna mais fácil a implantação de novidades ou a alteração de regras. Como implantar a arbitragem eletrônica no futebol em uma escala mundial, o mais democrático dos esportes, mesmo que restrita às grandes competições?

E como fazer com as interrupções do jogo? No tênis, o 'hawk-eye' pode ser utilizado em duas ocasiões: em final de ponto ou se o atleta interrompe imediatamente sua disputa. Ou seja, o jogo já está parado, o que também é recorrente durante o jogo. No futebol americano, mesmo com o lançamento de vários lenços amarelos em campo a jogada continua, para ser interrompida apenas no seu término previsto na regra. Já no caso do nosso futebol, quando o juiz apita, o jogo pára (exceto em alguns jogos no Palestra Itália...); se não, o jogo segue. E aí, em que momento parar o jogo para olhar na TV o que realmente ocorreu? Pior: se o juiz apitou o impedimento, a jogada parou e pela imagem da TV constatou-se que não havia impedimento, o que fazer? Voltar a jogada?

Enfim, essas e outras questões poderiam ser resolvidas com discussões envolvendo especialistas no assunto.

Mas, antes de se criar esse problema, temos outros a serem resolvidos, com soluções mais fáceis e baratas.

Basta querer.

domingo, 29 de novembro de 2009

O campeonato dos improváveis


O PVC já havia dito que esse Brasileirão teria o campeão definido pelo número de vitórias improváveis obtidas por cada um.

Acertou. E eu vou mais além. Esse foi o Brasileirão de eventos mais improváveis que já vi nas minhas três décadas de vida.

O Flamengo fez tudo errado. Começou o ano quebrado, tendo problemas com diversas modalidades olímpicas. Um racha interno o deixou sem Presidente. A instabilidade de Cuca o deixou sem técnico. Para solucionar os problemas do time, efetivou o interino Andrade - mesmo contra todos os prognósticos -, acertou com o imprevisível Adriano e, para solucionar problemas jurídicos, trouxe de volta Petkovic; Andrade acertou o time, Adriano virou artilheiro e Pet o craque do Brasileirão. E será Campeão Brasileiro (Hexa) no domingo que vem.

O Palmeiras fez tudo certo. Evitou um racha da oposição no começo do ano, que poderia trazer de volta ao poder a turma do Mustafá, e elegeu uma personalidade acima de qualquer suspeita para Presidente. Mostrou mudança de mentalidade ao demitir Luxemburgo e se esforçar para trazer o Tri-campeão Muricy Ramalho. Peitou a "parceira" e segurou jogadores importantes na janela do meio do ano. Tudo para ser campeão. Mas Muricy não foi o mesmo dos últimos anos (ou foi exatamente o mesmo, mas essa é outra discussão), os tais jogadores não corresponderam à altura e o clube sucumbiu ao próprio descontrole, ilustrado pelo "caso Belluzzo" e a briga no Olímpico.

O São Paulo não se mostrou disposto a ser novamente campeão desde o começo do ano, com jogadores mais preocupados em derrubar Muricy Ramalho e a Diretoria mais interessada nas reformas para a Copa-2014. Só que os rivais vacilaram e o Tricolor chegou. E quando todos disseram que não vacilaria mais, até pelo retrospecto recente... vacilou. Tomou sete gols em dois jogos, não somou nenhum ponto e terá que se contentar com uma vaga na Libertadores - tendo que encarar, talvez, a fase preliminar na altitude boliviana.

O Internacional, em seu frustrante Centenário, montou um belo time que começou o torneio com um dos favoritos; depois saiu da briga, para mais à frente figurar novamente entre os favoritos. Só não será campeão porque precisa da ajuda do arquiinimigo mortal Grêmio, e aí já seria improvável DEMAIS.

O Fluminense estava rebaixado. Escapar da Série B era impossível com a campanha do 1o turno. Mas com uma reação sem precedentes o Tricolor chega à última rodada fora da zona de rebaixamento, apesar do difícil confronto em Curitiba. Mas poucos duvidam que escape.

Reação parecida teve o Cruzeiro, que após amargar a depressão pós-Libertadores deixou as últimas posições para brigar, com boas chances, por uma vaga no próximo torneio continental.

Já o Sport, que depois do brilhante 2008 fez bonito no primeiro semestre, desandou e terminará o Brasileirão como o pior dentre os 20 participantes.

E não pára por aí.

Geralmente, os times que brigam pelo título se diferenciam dos demais pela organização; o que, dentre outros indicadores, é definida pela manutenção da comissão técnica ao longo da competição. Pois bem, dos quatro times que chegam à última rodada com chances matemáticas de título - o que por si só já é improbabilísimo - todos trocaram de técnico ao longo do campeonato.

Quanto aos talentos individuais, outras surpresas.

Mesmo já tendo sido o Imperador, acho que poucos acreditavam que Adriano seria o que foi: o principal e mais decisivo jogador do Flamengo (mesmo que suas constantes ausências de treinos e a queimadura do final da semana mostrem que profissionalismo não é mesmo seu forte). Petkovic, então, provavelmente surpreendeu até ele próprio. De quase-aposentado a quase-Bola de Ouro, as atuações do sérvio foram impressionantes. Outros veteranos, como Marcelinho Paraíba e Paulo Baier, mesmo brigando contra o rebaixamento até o final, foram os pricipais jogadores de seus respectivos times.

Tudo isso fez do Brasileirão-09 o mais emocionante - e, porque não, o MELHOR - Campeonato Brasileiro dos últimos anos, e provavelmente será lembrado como um dos mais legais da história.

Até porque será vencido por uma multidão de milhões de rubro-negros que deixará sempre viva as lembranças desta conquista. A não ser que outro improvável, quase impossível, aconteça no próximo dia 5.

Aí sim, seremos surpreendidos novamente.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Em nome do Pai

Para mim, a ESPN é o melhor canal de esportes da TV brasileira. Eles podem até ficar um pouco atrás do Sportv em matéria de eventos ao vivo, mas seu time de comentaristas é incomparavelmente melhor, além de não encontrarem as limitações impostas pela Rede Globo - de tempo e de opinião.

Mas foi ridícula a cobertura excessiva que o canal fez da Segunda Divisão do Campeonato Carioca, vencida pelo "grande" América. Time do Todo-Poderoso José Trajano, Diretor de Jornalismo da emissora.

A desculpa de que Romário era uma notícia relevante não cola, já que a campanha americana vem sendo acompanhada desde a queda, ano passado, e a presença do Baixinho em campo limitou-se a 20 minutos do último jogo.

Trajano usou o poderoso meio de comunicação que tem em mãos para satisfação de necessidades pessoais; além disso, obrigou a todos do canal a exaltar a glória e a importância do título do Mequinha.

Ridículo, pois nada poderia ser mais inexpressivo do que esse título, vencido por um time que perdeu sua pouca relevância décadas atrás.

Será que os canais também farão tal cobertura para a Segundona do Paulistão, acompanhando a provável volta do Guarani?

Porque, se é para comparar, o Bugre dá de 10 x 0 no América.

domingo, 8 de novembro de 2009

Mistério

Carlos Eugênio Simon é um mistério.

É difícil de saber se ele é ruim, covarde ou safado.

O gaúcho deve estar na Copa de 2010, a terceira de sua carreira. Mas sua coleção de erros - graves - é impressionante. De todos os tipos, contra todos os times, em todos os campeonatos. Como pode um árbitro com um currículo como o dele ter tanto prestígio?

Hoje, no jogo do Maracanã, ele errou absurdamente duas vezes no mesmo lance. Na bola alçada na área, Obina cabeceou para fora; foi marcado escanteio para o Palmeiras.

Na sequência do lance, gol. Seja por peso na consciência pelo primeiro erro, seja por pura ruindade, Simon anulou o gol legal. Tão bisonho quanto o pênalti não marcado para o Atlético-MG na Copa do Brasil de 2007 - no mesmo Maracanã, no mesmo gol, praticamente no mesmo lugar do gol de hoje.

Para o bem do futebol brasileiro, seria bom que Simon investisse em sua carreira internacional.

E nunca mais apitasse no Brasil.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Mais do mesmo

Quase tudo o que foi dito abaixo sobre o Palmeiras, com pequenas diferenças, se aplica ao São Paulo.

O empate no Sul, na quarta-feira, pode não ter sido um mau resultado. O Grêmio está imbatível em seus domínios nesse Brasileirão, e o ponto conquistado pode, em tese, ser comemorado.

Porém, cada ponto perdido a essa altura pode comprometer o título.

E o "luxo" de ter três expulsos num jogo como esse - sendo dois atacantes, em lances grotescos - sugere que, ao contrário de um ponto ganho, pode ter representado dois pontos perdidos em Porto Alegre, e não um ganho.

A comemoração Tricolor pelo empate terá de esperar mais três rodadas, quando será a vez do Palmeiras viajar a Porto Alegre.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Estranha comemoração


O Palmeiras comemorou o empate contra o Corinthians como vitória.

Pela história do jogo, até faz sentido. Tiveram Marcos expulso já no 1o tempo, só não ficaram com nove em campo porque o Héber Roberto Lopes - que vem tendo um bom ano - se acovardou e foi buscar duas vezes o resultado adverso, debaixo de um sol saariano. Um ponto na raça, digno de campeão.

Mas a história pode ser vista sob outro prisma.

O Palmeiras, que já teve cinco confortáveis pontos de diferença para o vice-líder, gastou toda a gordura. E os últimos dois pontos de vantagem se foram justamente no empate em Presidente Prudente. Faltam cinco rodadas, e analisando a tabela dos dois primeiros colocados, a situação do Verdão não me parece ser tão tranquila.

Palmeiras e São Paulo têm três confrontos iguais: Grêmio no Olímpico, Botafogo no Engenhão e Sport em casa. O jogo no Sul será dificílimo para ambos, mas vejo uma ligeira vantagem para o Palmeiras, pois na atual rodada o Tricolor gaúcho ainda sonha com uma vaga na Libertadores; daqui três rodadas, quando teremos Grêmio x Palmeiras, esse sonho já deve ter acabado, e a vontade gremista de vencer, diminuído.

Mas nos outros dois confrontos, acho que o Tricolor terá menos dificuldade. Enquanto o Sport visita o Palestra na 35a rodada, ainda com possíveis matemáticas chances de escapar do rebaixamento, sua vinda ao Morumbi já será acompanhada do acesso à Série B 2010 - motivação zero. O Botafogo terá ótimas razões para vencer tanto um quanto outro, mas um possível desespero na última rodada, quando receberá o alvi-verde, pode tornar o jogo ainda mais dramático - lembrando que, no mesmo horário, o São Paulo estará jogando no Morumbi contra o rebaixado Sport.

Ou seja: o Palmeiras terá de definir a parada antes da última rodada - a não ser que a mala branca para os pernambucanos seja gorda...

Quanto aos outros dois jogos de cada, temos o Palmeiras indo ao Maracanã encarar um embalado Fluminense, que em nada lembra aquele Flu que fez merecer o provável rebaixamento. O que, há algumas rodadas, eram três tranquilos pontos na conta, transformou-se em batalha; e, na penúltima rodada, receberá o Atlético-MG, que se não estiver ainda brigando pelo título estará vivíssimo na luta por uma vaga na Libertadores. Nada fácil.

Já o Tricolor recebe o Vitória na 35a rodada - vitória perfeitamente possível - e na penúltima visita o Goiás, time que não assusta mais ninguém. Além do mais, a torcida paulista em Goiânia é muito grande, e teremos pelo menos metade do estádio vestida de vermelho, preto e branco.

Para finalizar, temos o momento de cada um. Enquanto o Palmeiras conquistou quatro dos últimos 9 pontos, o São Paulo tem 100% de aproveitamento. Nenhum dos dois vêm apresentando um bom futebol - exceção feita ao 2o tempo do Palmeiras contra o Goiás - mas o menor fraquejo que seja a essa altura pode ser fatal.

Está tudo aberto. Até o Galo pode chegar, embora, com dois pontos a menos e uma tabela bem mais complicada, a tarefa seja difícil.

Mas a comemoração palestrina do último domingo deve se transformar, rapidamente, em trabalho.

Do jeito que o Muricy gosta.