sexta-feira, 21 de maio de 2010

Isso é Libertadores


A Libertadores desse ano está sensacional. Me arrisco a dizer que é a melhor dos últimos tempos, se não em nível técnico, pelo menos em emoção. Basta lembrarmos de alguns confrontos que tivemos até agora:

Chivas x Vélez: os mexicanos fizeram 3x0 na ida, e na volta quase que os centenários argentinos devolvem o placar, com direito a gol no fim do jogo.

Universitário x São Paulo: confronto de nível técnico sofrível, mas a decisão por pênaltis no Morumbi encerrou dramaticamente o confronto.

Banfield x Inter: com jogador expulso e desvantagem de 1x3, o Colorado conseguiu reverter o resultado em Porto Alegre.

Flamengo x Corinthians: quase 50 milhões de torcedores pararam para assistir o duelo que teve final épico.

Alianza Lima x Universidad Chile: mesmo perdendo em casa, os peruanos quase conquistaram a vaga no Chile, com direito a gol polêmico no final.

E isso foi só as oitavas de final. Nas quartas, o São Paulo recuperou a autoridade perdida nos últimos anos e se vingou do Cruzeiro com sobras; e o Chivas repetiu as oitavas, em um 3x2 agregado contra o Libertad.

Mas foi a noite de ontem que mostrou, de verdade, o que é Libertadores.

Em dois confrontos memoráveis, com frio, pressão da torcida e indecisão até os últimos minutos, Inter e Flamengo tiveram destinos opostos na competição. Os gaúchos, com inteligência, souberam administrar a partida e com um golpe mortal aos 43 do 2o tempo, eliminaram os atuais campeões Estudiantes, do monstro Verón. Como é típico de nossos hermanos, o jogo terminou em pancadaria, tornada ainda mais medíocre devido ao goleiro reserva do Inter, Lauro. Briga entre atletas profissionais é lamentável, mas a covardia é pior ainda. O cara sai do banco, acerta o Desábato pelas costas e sai correndo pro vestiário. Se é macho pra bater, que seja macho pra apanhar também. E a imprensa brasileira, mais ufanista ainda em ano de Copa, cansou de condebar o zagueiro argentino, sem dar muita bola ao goleiro. Ridículo.

Agora, o Inter terá novamente o São Paulo pela frente, mas com Fernandão do outro lado. Imperdível.

Em Santiago, o acanhado e orgânico estádio de Santa Laura pulsava. E o Flamengo que parecia morto ficou vivo até os segundos finais. A festa chilena no golaço de Montillo foi daquelas coisas que te fazem levantar do sofá (exceto rubro-negros, claro), enquanto o silêncio após o gol do Adriano levou as unhas à boca. A chuva de pedras, pilhas e bolas de golfe, ao contrário, dão vergonha até em nós brasileiros, por fazermos parte de um torneio que consegue ser tão sensacional e medieval ao mesmo tempo.

Chivas, Universidad de Chile, Inter e São Paulo seguem na briga.

Uma "pena" que, antes do grand finale, temos toda uma Copa do Mundo pela frente...

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Do blog do Mauro Cezar Pereira

Mauro Cezar Pereira, da ESPN, é o jornalista esportivo mais ranzinza do Brasil - e por isso mesmo, um dos meus favoritos. Abaixo, um post dele publicado hoje em seu blog (grifos meus):

"Dunga sorri na Globo. Coerente ou subserviente e intransigente?

Não vou discutir nomes, afinal, Dunga é "coerente". Tanto que não chamou Paulo Henrique Ganso e Neymar por terem sido reservas no Santos em jogos no Brasileirão 2009. Mas convocou Doni, Júlio Baptista e Kléberson, que são suplentes hoje! Tão "coerente" que alegou não poder levar os santistas porque não foram testados. Mas incluiu o meia na lista de espera. E chamou Grafite, que atuou só 26 minutos em sua equipe.

Bobagem discutir nomes quando o aspecto técnico não importa tanto. Para Dunga, o que vale é "paixão", "emoção", "o sonho de vestir a camisa da seleção", "ser patriota". Opa, alto lá. Patriota? Então quem não torce loucamente pelo time da CBF é menos brasileiro do que aqueles que se descabelam pelo dunguismo? Não, essa eu não aceito, professor.

Se a turma do panetone passar a Copa vestida de amarelo e festejando cada gol, isso não fará desses elementos bons brasileiros. Pátria de chuteiras em pleno século 21? O mesmo discurso quatro décadas depois? Não, obrigado. Seleção é apenas um time de futebol. Ninguém é obrigado a torcer por ela, tampouco pode ser atacado por não adotar tal comportamento. Jornalistas devem informar e analisar. Imprensa não existe para apoiar nada, e ninguém dá resposta aos críticos.

A seleção da CBF não é "a" favorita ao título, mas apenas uma das equipes com chances. As escolhas de Dunga foram pela dedicação, que em alguns casos pode ser entendida como subserviência. Sim, prioridade para os cordatos que se deixam levar pelo discurso tacanho do técnico que a CBF criou. Falta talento. Com Ronaldinho Gaúcho e Ganso nos lugares de Michel Bastos e Kléberson, por exemplo, ele poderia mudar os rumos de uma partida.

Mas a inflexibilidade impede Dunga de rever conceitos. Não em todos os terrenos. Quando assumiu a seleção da CBF, ele assegurou que não haveria privilégios a jogadores, tampouco a veículos de comunicação. Dunga esteve no Bola da Vez da ESPN Brasil. Chamado a retornar, recusou. Outras TVs, rádios, jornais, revistas e sites gostariam de entrevistá-lo com mais tempo. Nada feito.

Mas concedeu uma exclusiva ao canal Sportv há alguns meses, e após a convocação apareceu no Jornal Nacional. Durante sete minutos, respondeu perguntas. Deu mais ênfase às reações emocionais dos jogadores do que ao desempenho técnico. E sorriu. Dunga estava em casa. Claro, sabia que ali ninguém lhe faria questionamentos de difícil resposta e com chance de réplica, algo que não acontece nas coletivas organizadas pela CBF.

O treinador parece viver num universo paralelo, só dele. Fala sobre uma volta da paixão do torcedor e de um desejo dos atletas de jogarem pela sua seleção como se isso fosse algo novo. Quantos renunciaram à convocação de Parreira em 2006? Todos os por ele chamados estiveram na Alemanha. O que houve foi bagunça há quatro anos, graças à permissividade geral, inclusive de Américo Faria e Ricardo Teixeira, até hoje na CBF, ao lado de Dunga, que ignora tal "detalhe".

Jogadores de nível técnico discutível veem a seleção como algo distante e, quando dentro dela, aceitam o que lhes é imposto, seja o que for. A lista de Dunga está cheia de gente assim, daí o comportamento tão elogiado. Até porque, para ele, jogar bola não é o mais importante. Pesa mesmo a capacidade de aceitar o discurso que parece extraído de um livro de auto-ajuda.

Coerência? Não me parece esta a palavra que marque a atual 'Era'. Que tal contradição, subserviência e intransigência?"

Nota Esporte Brasilis: Dunga é mesmo brasileiro. Como é comum entre os nossos, segue à risca a postura do "tudo ou nada", "certo ou errado", como se não pudesse haver um meio-termo nas coisas, e com a sua intransigência não admite uma revisão de seus pontos de vista. Dessa forma, reinventa à sua maneira o termo "comprometimento" e exclui dele qualquer possibilidade de combinação com talento. Joga para a torcida, covenientemente "patriota" em ano de Copa do Mundo.

E como foi chata sua entrevista ao Jornal Nacional...

terça-feira, 11 de maio de 2010

Convocação comparada



Com a convocação de Dunga para a Copa-2010, volto aos trabalhos aqui no Esporte Brasilis.
Fazer uma análise dos selecionados, nome por nome, indicando limitações e variações possíveis, será ficar no lugar-comum. Todo mundo já imaginava que a lista viria desse jeito, com a transpiração encobrindo o talento, sacramentando a "seleção-monobloco" que veremos na África, com pouco espaço para surpresas - a não ser, claro, a convocação de Grafite, e as quase certas ausências de Ganso e Neymar.

Vou fazer algo diferente, ou pelo menos uma análise que ainda não vi por aí.

O futebol brasileiro vive uma entre-safra de jogadores, algo normal ao final de um período vitorioso, repleto de craques, como foi a geração 98-06. Por mais que Dunga tenha deixado nomes interessantes de fora da Copa, as opções realmente não eram muitas. A última vez que vivenciamos fase semelhante foi, na minha opinião, nas Copas de 90-94. Naquela época, vimos a aposentadoria de uma geração absurda que, mesmo não tendo vencido uma Copa, tinha uma qualidade indiscutível. Após as derrotas de 82 e 86, tivemos a atuação melancólica em 1990, com uma das piores Seleções Brasileiras de todos os tempos (em uma das piores Copas de todos os tempos); e, quatro anos depois, vencemos nos EUA, com boa parte do elenco pertencente à "Era Dunga", e outra mais nova que integraria a futura geração.

Sim, o time de 94 foi campeão, com méritos, não se discute; mas, que dentre todos os campeões mundiais, o time do Parreira foi um dos menos brilhantes, também é ponto pacífico. E, exceção feita a alguns grandes nomes daquele time, também o considero parte da entre-safra 90-94. Com a coincidência fundamental de ambos terem em Dunga um líder, a comparação entre os dois elencos acaba sendo um exercício interessante.


No gol, Júlio César é incomparavelmente melhor que Taffarel. Por mais que falem que o gaúcho era um craque, principalmente em sua fase de Internacional, eu cansei de sofrer com sua inconstância. Porém, na reserva, Gilmar e Zetti também estavam alguns níveis acima de Gomes e Doni (!!!!).

Na lateral direita, a briga é mais dura. Jorginho e Cafu têm mais nome e história, mas Maicon e Daniel Alves têm potencial para fazer bonito com a camisa da Seleção. Para não deixar o saudosismo influenciar a análise, dá empate. Já na esquerda, 94 fica na frente de novo. Prefiro Branco e Leonardo a Michel Bastos e Gilberto, e a maioria deve ter a mesma opinião.

A zaga também tem boa disputa. Depois dos cortes, a Seleção do Tetra contava com Ricardo Rocha, Aldair, Márcio Santos e Ronaldão, e mesmo a com a dupla titular formada às vésperas da Copa, tivemos uma excelente defesa. Seria fácil deixar Lúcio, Juan, Luisão e Thiago Silva um pouco atrás, mas de novo concedo empate aos dois grupos.

Até agora, comparando as duas defesas, temos um empate técnico. O problema aparece do meio pra frente.

Os três volantes de 94 (foram convocados 22 jogadores) - Dunga, Mauro Silva e Mazinho - tinham estilo parecido aos quatro de 2010 - Gilberto Silva, Felipe Melo, Josué e Kléberson. Mas eram melhores. Por mais que Dunga tenha estigmatizado negativamente toda uma geração de jogadores, sua evolução de 90 para 94 foi notável, e sua importância para o título, incontestável. Mauro Silva era outro volante pesadão, compensado pela maior mobilidade de Mazinho (grande jogador). Gilberto e Felipe, além de não terem os mesmo recursos, estão em péssima fase, e Josué, mesmo tendo brilhado no São Paulo e na Alemanha, não me parece à altura - sem trocadilho - de uma Copa do Mundo. Kléberson brilhou em 2002, e só. Nunca mais mostrou bom futebol, onde quer que tenha jogado. Ponto para 94.

Os meias de 94 foram Zinho, Raí e Paulo Sérgio. Como Zinho foi mal aproveitado no esquema retranqueiro daquele ano e Raí chegou em má fase, a impressão que passa é de pouca qualidade no setor. Mas quem se lembra dos dois jogadores jogando em sues clubes sabe que não era bem assim. Kaká tem mais futebol que Raí, mas também chega em má fase. Ramires joga muita bola, mas deixo para os cruzeirenses decidirem se é melhor que Zinho. E Elano e Júlio Baptista nem meias são. A meu ver, 2010 tem ainda menos opções que 94, ainda mais se considerarmos o próximo parágrafo.

Chega a ser covardia comparar os cinco atacantes do Tetra com os quatro do Hexa (será?). Afinal, os fenômenos Romário e Ronaldo, os incríveis Bebeto e Muller e o gozador Viola dão de goleada no "mamãe-quero-ser-grande" Robinho, nos bons Luis Fabiano e Nilmar e no inexplicável Grafite.

Se nos outros setores os dois times chegam a se equivaler, o ataque desfaz qualquer dúvida e desempata a disputa - com certa folga, até - em favor da Seleção de 1994.

Joga a favor de Dunga o fato de que os jogadores à disposição não permitiam a ele montar um time espetacular; mas sua teimosia, falta de conhecimento de futebol e "critérios" tornaram a Seleção de 2010 um time ainda pior do que teria sido em condições normais.

A Copa fica mais perto, palpável, a cada dia.

O Brasil é um dos grandes favoritos ao título na África do Sul.

Mas vai ser duro.

E feio.