No Campeonato Paulista de 2000, os quatro grandes de São Paulo chegaram à semi-finais. São Paulo x Corinthians, Palmeiras x Santos, e os classificados foram o Tricolor e o Peixe.
Não podia ser diferente. Mesmo com times inferiores aos rivais, tinham quase que a obrigação de vencer - e a tranquilidade para tal. Apenas três dias após serem eliminados do torneio regional, Palmeiras e Corinthians voltariam a campo para, talvez, o jogo mais importante da história da cidade: a semi-final da Libertadores, o épico jogo decidido nos pênaltis.
Impossível esperar que, numa situação dessas, os dois rivais pudessem se concentrar no Paulista. E nem é questão de condições físicas, mas psicológicas. Além de treinar os músculos, os atletas têm de preparar a mente para jogos decisivos, para, assim, terem condições de superar seus adversários.
Ou, ainda, querer superá-los.
Isso não é desculpa esfarrapada para o que aconteceu neste fim de semana, quando os quatro grandes voltaram a se encontrar, juntos, e com os mesmos confrontos, nas semis do Paulistinha (hoje já rebaixado ao sufixo diminutivo). E, ainda, com dois deles disputando a Libertadores.
É claro que tanto palmeirenses como tricolores quiseram ganhar, e, dentro de campo, se esforçaram para isso. Ninguém tirou o pé ou fez corpo mole.
Mas santistas e corintianos se esforçaram mais, se concentraram mais, quiseram mais. Pois sabem que este título será, agora, importante. Ao passo que os rivais eliminados têm outras - e maiores - preocupações.
Sem o "estorvo" da disputa do Paulista, terão mais tranquilidade para a Libertadores. E isso faz uma diferença brutal.
Se fosse só isso, tudo estaria ótimo. Mas as coisas não vão às mil maravilhas pros lados da Barra Funda.
O Palmeiras sentiu o peso das decisões de abril, e não só perdeu o Paulista como se encontra em situação complicada no torneio continental. O difícil grupo em que caiu (por culpa da própria incompetência na última rodada do Brasileirão do ano passado) ficou ainda mais complicado por tropeços dentro da própria casa. A classificação para as oitavas está mais longe do que perto, e outra desclassificação fará com que mais do que cascas de amendoim voem no Palestra.
Aliás, acho que é uma boa hora para a Diretoria Palestrina repensar a parceria com a Traffic. Esse, modelo, que a princípio parece ser excelente - custo zero e contratações bombásticas - acaba por se mostrar um tanto quanto ineficaz na montagem de times competitivos. O que o parceiro busca é a revelação, a jovem promessa, uma possibilidade de milhões de dólares a curto prazo. Como é o caso de Keirrison. Com isso, o elenco não ganha a força e o equilíbro necessários às conquistas, pois a lógico do lucro alto e rápido não comporta a contratação de jogadores sem nome, de mais idade, sem tanto brilho mas fundamentais na armação de um time. Principalmente na atual realidade do futebol brasileiro. O Departamento de Futebol do clube se acomoda, já que é o parceiro quem deve trazer jogadores, e o elenco fica enfraquecido.
O Palmeiras, hoje, tem o técnico mais caro do Brasil, a maior promessa e uma defesa de dar dó. E Luxemburgo não tem em seu banco de reservas jogadores à altura daqueles que estão em campo. Desse jeito, será difícil ir longe tanto na Libertadores como no Brasileirão, que já bate à porta.
Do outro lado do muro, no São Paulo, as coisas estão um pouco melhor. Um pouco.
Se por um lado o time já está classificado para as oitavas da Libertadores, praticamente perdeu a chance de ter uma das melhores campanhas. E isso porque, na última semana, o clube resolveu priorizar a disputa estadual - a mesma que, meses atrás, ameaçou disputar com um time júnior. O auto-proclamado maior time do Brasil, com a melhor estrutura e o melhor planejamento, jogou isso no lixo ao dar importância às provocações do rival.
O resultado: foi eliminado com duas derrotas para o maior rival/inimigo, terá de decidir fases da Libertadores fora de casa - fato que motivou as últimos três eliminações do time na competição - e se rebaixou ao nível daqueles que julga estarem em patamar inferior. Mais uma vez, os "profissionais" tricolores se comportam como meros torcedores. E prejudicam o time.
As derrotas de São Paulo e Palmeiras não representam o fim do mundo. Longe disso. Mas as próximas semanas definirão muito o resto do ano para ambos.
Os méritos, assim como em 2000, ficam com os lados teoricamente mais fracos. Mas que mereceram, e devem aproveitar o momento.
Quem será o campeão?
Para achar a resposta, recorro mais uma vez à história.
Em 2005, o São Paulo precisava vencer o Paulista. Tinha um bom time, com uma base já montada e que vinha de bons resultados nos anos anteriores - mas sem títulos. O Paulista serviria para dar confiança a uma temporada que prometia. E que acabou sendo uma das mais vitoriosas da história do clube. Deu Tricolor.
Em 2006, o Santos contava com pesados investimentos, e não vencia um Paulista há mais de 20 anos. Luxemburgo carregava alguns fracassos recentes. Os outros três grandes de São Paulo disputavam a Libertadores. Deu Peixe.
Em 2008, foi a vez dos dólares baixarem no Palestra. Contratações peso e uma fila que se aproximava de uma década aumentaram o peso do título estadual. Deu Verdão.
Nos três casos acima, os vencedores quiseram ganhar o Paulista mais do que os outros. Precisavam mais.
Tinham mais "fome".
Em 2009, temos a volta do Corinthians à Primeira Divisão. Com uma série respeitável de invencibilidade. E a contratação do Fenômeno. Mesmo com a raça mostrada pelos santistas, não acho que impedirão o título corintiano.
Afinal, ninguém precisa mais deste título do que o Corinthians.
domingo, 19 de abril de 2009
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