Com a convocação de Dunga para a Copa-2010, volto aos trabalhos aqui no Esporte Brasilis.
Fazer uma análise dos selecionados, nome por nome, indicando limitações e variações possíveis, será ficar no lugar-comum. Todo mundo já imaginava que a lista viria desse jeito, com a transpiração encobrindo o talento, sacramentando a "seleção-monobloco" que veremos na África, com pouco espaço para surpresas - a não ser, claro, a convocação de Grafite, e as quase certas ausências de Ganso e Neymar.
Vou fazer algo diferente, ou pelo menos uma análise que ainda não vi por aí.
O futebol brasileiro vive uma entre-safra de jogadores, algo normal ao final de um período vitorioso, repleto de craques, como foi a geração 98-06. Por mais que Dunga tenha deixado nomes interessantes de fora da Copa, as opções realmente não eram muitas. A última vez que vivenciamos fase semelhante foi, na minha opinião, nas Copas de 90-94. Naquela época, vimos a aposentadoria de uma geração absurda que, mesmo não tendo vencido uma Copa, tinha uma qualidade indiscutível. Após as derrotas de 82 e 86, tivemos a atuação melancólica em 1990, com uma das piores Seleções Brasileiras de todos os tempos (em uma das piores Copas de todos os tempos); e, quatro anos depois, vencemos nos EUA, com boa parte do elenco pertencente à "Era Dunga", e outra mais nova que integraria a futura geração.
Sim, o time de 94 foi campeão, com méritos, não se discute; mas, que dentre todos os campeões mundiais, o time do Parreira foi um dos menos brilhantes, também é ponto pacífico. E, exceção feita a alguns grandes nomes daquele time, também o considero parte da entre-safra 90-94. Com a coincidência fundamental de ambos terem em Dunga um líder, a comparação entre os dois elencos acaba sendo um exercício interessante.
No gol, Júlio César é incomparavelmente melhor que Taffarel. Por mais que falem que o gaúcho era um craque, principalmente em sua fase de Internacional, eu cansei de sofrer com sua inconstância. Porém, na reserva, Gilmar e Zetti também estavam alguns níveis acima de Gomes e Doni (!!!!).
Na lateral direita, a briga é mais dura. Jorginho e Cafu têm mais nome e história, mas Maicon e Daniel Alves têm potencial para fazer bonito com a camisa da Seleção. Para não deixar o saudosismo influenciar a análise, dá empate. Já na esquerda, 94 fica na frente de novo. Prefiro Branco e Leonardo a Michel Bastos e Gilberto, e a maioria deve ter a mesma opinião.
A zaga também tem boa disputa. Depois dos cortes, a Seleção do Tetra contava com Ricardo Rocha, Aldair, Márcio Santos e Ronaldão, e mesmo a com a dupla titular formada às vésperas da Copa, tivemos uma excelente defesa. Seria fácil deixar Lúcio, Juan, Luisão e Thiago Silva um pouco atrás, mas de novo concedo empate aos dois grupos.
Até agora, comparando as duas defesas, temos um empate técnico. O problema aparece do meio pra frente.
Os três volantes de 94 (foram convocados 22 jogadores) - Dunga, Mauro Silva e Mazinho - tinham estilo parecido aos quatro de 2010 - Gilberto Silva, Felipe Melo, Josué e Kléberson. Mas eram melhores. Por mais que Dunga tenha estigmatizado negativamente toda uma geração de jogadores, sua evolução de 90 para 94 foi notável, e sua importância para o título, incontestável. Mauro Silva era outro volante pesadão, compensado pela maior mobilidade de Mazinho (grande jogador). Gilberto e Felipe, além de não terem os mesmo recursos, estão em péssima fase, e Josué, mesmo tendo brilhado no São Paulo e na Alemanha, não me parece à altura - sem trocadilho - de uma Copa do Mundo. Kléberson brilhou em 2002, e só. Nunca mais mostrou bom futebol, onde quer que tenha jogado. Ponto para 94.
Os meias de 94 foram Zinho, Raí e Paulo Sérgio. Como Zinho foi mal aproveitado no esquema retranqueiro daquele ano e Raí chegou em má fase, a impressão que passa é de pouca qualidade no setor. Mas quem se lembra dos dois jogadores jogando em sues clubes sabe que não era bem assim. Kaká tem mais futebol que Raí, mas também chega em má fase. Ramires joga muita bola, mas deixo para os cruzeirenses decidirem se é melhor que Zinho. E Elano e Júlio Baptista nem meias são. A meu ver, 2010 tem ainda menos opções que 94, ainda mais se considerarmos o próximo parágrafo.
Chega a ser covardia comparar os cinco atacantes do Tetra com os quatro do Hexa (será?). Afinal, os fenômenos Romário e Ronaldo, os incríveis Bebeto e Muller e o gozador Viola dão de goleada no "mamãe-quero-ser-grande" Robinho, nos bons Luis Fabiano e Nilmar e no inexplicável Grafite.
Se nos outros setores os dois times chegam a se equivaler, o ataque desfaz qualquer dúvida e desempata a disputa - com certa folga, até - em favor da Seleção de 1994.
Joga a favor de Dunga o fato de que os jogadores à disposição não permitiam a ele montar um time espetacular; mas sua teimosia, falta de conhecimento de futebol e "critérios" tornaram a Seleção de 2010 um time ainda pior do que teria sido em condições normais.
A Copa fica mais perto, palpável, a cada dia.
O Brasil é um dos grandes favoritos ao título na África do Sul.
Mas vai ser duro.
E feio.
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