Estava conversando com uns amigos meus ontem sobre a arbitragem eletrônica no futebol, assunto polêmico e cada vez mais recorrente no meio futebolístico. Já tinha pensado em escrever algo a respeito, ainda mais depois dos casos Simon e Henry do último mês. Então vamos lá ao que penso.
Em primeiro lugar, temos um ponto incontestável: a arbitragem brasileira é muito fraca. Enquanto não encararmos o problema no seu ponto principal, nunca o resolveremos. Maior qualificação para árbitros, através de uma CBF que assuma de vez a responsabilidade pelo assunto - que é dela mesma - é o primeiro passo. Não adianta nada querer apitar o jogo pela TV com um árbitro in loco despreparado, pois estaríamos apenas criando mais um motivo para confusão. Um STJD que se limitasse a questões disciplinares, de forma imparcial, e sem querer rever decisões tomadas pela autoridade máxima da partida também é um imperativo. Pois um "ente superior" que tem por costuma alterar o juízo do árbitro conseguem apenas desmoralizá-lo ainda mais.
Mas aí você vem e argumenta: "Mas a arbitragem erra em todo lugar! Olha só o lance do Henry, tirou a Irlanda da Copa! A arbitragem eletrônica é a única solução!"
Não tenho dúvida de que erros desse tipo acontecem - e continuarão acontecendo - em qualquer lugar, apesar de ter a sensação de que aqui eles são mais recorrentes. Então, para chegarmos ao nível da arbitragem do exterior, primeiro temos de pensar no que escrevi no segundo parágrafo.
Depois disso, e ANTES de se pensar na arbitragem eletrônica, acho que deve-se estudar mais a fundo a possibilidade da inclusão de mais árbitros em campo. E não árbitros meramente consultivos/decorativos, mas com real poder de decisão. Alguém tem alguma dúvida de que, se existisse um árbitro postado atrás do gol da Irlanda, o fatídico gol francês teria sido invalidado?
O basquete, com seu campo de jogo muito menor que o futebol, tem três árbitros; o vôlei também, mais quatro juízes de linha. Porque temos de continuar mantendo apenas um árbitro no campo de futebol que geralmente tem mais de 6000 m2, auxiliado por dois bandeirinhas com autoridade reduzida? Se este enorme espaço fosse mais racionalmente dividido, cada árbitro estaria sempre (em tese) mais próximo do lance, com maior chance de ver o que realmente aconteceu e com seus reflexos mais apurados, devido ao menor desgaste físico.
Atualmente, temos dois grandes exemplos da influência de aparatos tecnológicos que auxiliam na arbitragem de modalidades esportivas: o tênis e o futebol americano. A utilização destes recursos ajudou bastante a solucionar dúvidas em momentos importantes das partidas. Mas algumas ponderações devem ser feitas.
A introdução destes recursos é relativamente recente. E antes de sua adoção, ambos os esportes já contavam com diversos árbitros em campo. Ou seja, a tecnologia veio suprir uma lacuna que o homem provavelmente não conseguiria mais preencher - exatamente o que sugiro neste texto.
O uso deste aparato é regulado, pois seria inviável recorrer às imagens gravadas para solucionar todo e qualquer lance. Mesmo o tênis e o futebol americano, que já têm suas disputas sistematicamente interrompidas, pela própria natureza das modalidades, limitam o uso das imagens a momentos e circunstâncias específicas. Como fazer isso no futebol, um jogo que não tem tempos técnico ou seu cronômetro pausado em nenhum momento? Essa mesma limitação na utilização da tecnologia também impede que 100% das dúvidas sejam sanadas - portanto, o problema não é totalmente eliminado.
Por fim, temos que tanto o tênis como o futebol americano são esportes mais "restritos" que o futebol; o primeiro por sua áurea elitista, e o segundo por ser praticado em grande escala em basicamente um só país, tratado primordialmente como um negócio, o que torna mais fácil a implantação de novidades ou a alteração de regras. Como implantar a arbitragem eletrônica no futebol em uma escala mundial, o mais democrático dos esportes, mesmo que restrita às grandes competições?
E como fazer com as interrupções do jogo? No tênis, o 'hawk-eye' pode ser utilizado em duas ocasiões: em final de ponto ou se o atleta interrompe imediatamente sua disputa. Ou seja, o jogo já está parado, o que também é recorrente durante o jogo. No futebol americano, mesmo com o lançamento de vários lenços amarelos em campo a jogada continua, para ser interrompida apenas no seu término previsto na regra. Já no caso do nosso futebol, quando o juiz apita, o jogo pára (exceto em alguns jogos no Palestra Itália...); se não, o jogo segue. E aí, em que momento parar o jogo para olhar na TV o que realmente ocorreu? Pior: se o juiz apitou o impedimento, a jogada parou e pela imagem da TV constatou-se que não havia impedimento, o que fazer? Voltar a jogada?
Enfim, essas e outras questões poderiam ser resolvidas com discussões envolvendo especialistas no assunto.
Mas, antes de se criar esse problema, temos outros a serem resolvidos, com soluções mais fáceis e baratas.
Basta querer.
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
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