segunda-feira, 12 de julho de 2010

2010 em 2040

A Espanha sagrou-se campeã do mundo e provou que artistas podem - e geralmente conseguem - vencer guerreiros.

A Holanda perdeu sua terceira final de Copa e não tirou o gosto amargo da boca.

A Alemanha renovou-se e, a princípio, apresentou uma nova geração de jogadores.

E o Uruguai, mesmo que momentaneamente, voltou a ser grande e escreveu uma das páginas mais bonitas de seu futebol.

Cada país guarda em sua memória lembranças particulares de cada Copa, diretamente relacionada ao resultado alcançado. Nós brasileiros, com uma rica história nesse campo, temos inúmeras, boas e más. E como eu não resisto a colocar as coisas em uma perspectiva histórica, faço e pergunta: como veremos a Copa de 2010 daqui 30 anos?

Para começar, explico porque 30 anos, e não 20 ou 40. Eu tenho 31 anos, então escolhi esse número por representar a minha idade e, consequentemente, a idade que terão, em 2040, aqueles que nasceram na época atual. Existe outro motivo, porém: na minha opinião, as Copas de 2006 e 2010 têm muitas semelhanças com aquelas disputadas em 1974 e 1978, aproximadamente 30 anos atrás.

Então vamos lá.

Quem gosta de futebol e é da minha geração conhece bem o que aconteceu em cada uma das cinco Copas que ganhamos - nada mais que o óbvio, pois é bom lembrarmos de coisas boas. Sabemos de cor todos os gols de 58, 62 e 70; sentimos até hoje a emoção da primeira conquista assistida ao vivo, em 94, e não reclamamos de viver tudo de novo em 2002. Além disso, claro, nos lembramos das outras Copas que não ganhamos. A minha primeira foi em 86, para aqueles alguns anos mais velhos foi 82, mas para ambos a derrota foi dura. 90, 98, 06 e 10 têm, cada qual à sua maneira, a sua imagem gravada na memória.

Das Copas que não assistimos, como já dito, conhecemos bem as que ganhamos e as duas grandes tragédias de 50 e 82; as "pré-diluvianas" (a expressão não é minha, não lembro nde li isso, mas adorei) de 30, 34 e 38 têm poucas - ou nenhuma - imagens, e até as de 54 e 66, que ainda não eram transmitidas ao vivo para o Brasil, não foram impregnadas no imaginário coletivo.

Sobraram duas: 74 e 78. Confesso que aquilo que sei dessas Copas foi aprendido em livros e revistas. Vi poquíssimas imagens desses torneios, e é inegável que pouco se fala a respeito. E, para mim, isso tem um motivo: foram Copas quase insignificantes para nós.

Sim, grandes jogadores as disputaram: Rivelino, Jairzinho, Nelinho, Luis Pereira, dentre outros. Até não fomos tão mal assim, visto que terminamos respectivamente em 3o e 4o lugares. Mas foram Copas em que o Brasil não foi tão Brasil, ainda mais vivendo a ressaca do nosso período mais vitorioso. Tínhamos acabado de vencer três Copas em quatro disputadas, encerrando a sequência com a espetacular seleção de 70. Era natural que o nível caísse um pouco, com a mistura do final de uma excelente geração com outra que ainda dava os primeiros passos.

Imagino que, em 2040, os trintões de então terão poucas informações das Copas de 06 e 10, basicamente pelas mesmas razões. O período antecessor foi formidável, com três finais disputadas e dois títulos; também tivemos uma geração se aposentando e outra, um tanto quanto incerta, assumindo; e, de novo, não tivemos desempenhos desastrosos. Bom não foi, mas ao menos ficamos entre os oito melhores.

Até os vilões deverão ser esquecidos. O dunguismo é irrelevante desde já, e o "dia de fúria" de Felipe Melo ficará, calado, ao lado da expulsão de Luis Pereira contra a Holanda, ou da briga no vestiário entre Leão e Marinho Chagas - lembra quem viu, quem só ouviu falar não dá muita bola.

Uma última coincidência. Logo após as duas Copas "esquecidas", tivemos algo especial. No início dos anos 80, a Copa da Espanha tem até hoje o nosso carinho - mesmo com a derrota. Nem a 5a colocação mudou o fato que a Seleção de 82 foi fantástica. E não custa lembrar que a primeira Copa da próxima década será no Brasil. O que a torna, indepemdentemente do resultado, especialíssima.

Tomara que os resultados de 1982 e 2014 não sejam outra coincidência histórica.

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