segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Vexame no Sul

Os comentaristas vão dizer que o desafio era mesmo complicado; os jogadores, que não faltou luta. Mas não há desculpa que justifique a eliminação da equipe brasileira na Copa Davis para o Equador - talvez, o maior vexame da história do tênis nacional.

Desde a aposentadoria forçada de Guga, o Brasil voltou a ocupar um papel irrelevante no cenário do esporte. Assim como ocorrera com o fim da carreira de Maria Esther Bueno, saímos da condição de estrelato para um vácuo que, mais uma vez, levará décadas para ser preenchido. Como não há política consistente no esporte, dependemos de fenômenos que não surgem com tanta frequência.

Mesmo assim, conseguimos montar uma equipe interessante para o confronto que poderia nos levar de volta à elite do tênis mundial. Nossos dois tenistas de simples figuravam no Top 70 da ATP (as colocações sofreram pequenas mudanças a partir de hoje, mas aqui serão consideradas as posições da semana passada); a dupla joga junta há anos, com a vantagem adicional de não utilizar os mesmo tenistas das partidas de simples. Pelo menos em teoria, uma formação consistente para um duelo de Copa Davis.

Enquanto isso, o Equador não tinha uma equipe - apenas um "catado". Os irmãos Lapentti deveriam jogar tanto as partidas de simples com as duplas.

Na sexta, Marcos Daniel (ATP 56) enfrentou Giovanni Lapentti (ATP 250). A diferença brutal de ranking e a maior experiência do brasileiro sugeririam um confronto tranquilo, mas os complicados 3x1, em mais de 3h30 de jogo desmentiram os números. Mas, até aí, tudo bem: sabemos que jogos de Copa Davis são diferentes dos jogos regulares do circuito, e o que importa mesmo é o ponto conquistado.

Logo depois, Thomas Bellucci (ATP 65) encarou o conhecido Nicolás Lapentti (ATP 144). De fato, um jogo complicado, já que o equatoriano - grande amigo de Guga - é um nome conhecido no circuito, já tendo ocupado o 6o lugar no ranking da ATP. Nessas horas, experiência vale muito, e ele soube se impor sobre o brasileiro. Mas 3x0 talvez tenha sido demais.

Agora, o que aconteceu no sábado foi inacreditável. A dupla brasileira André Sá e Marcelo Melo (ATP 15) enfrentaram os irmãos Lapentti... que não são uma dupla. Sá/Melo jogam juntos há anos, já tendo conquistado importantes resultados (incluindo uma semi em Wimbledon), e entraram em quadra descansados, para enfrentar dois tenistas que, além de não jogarem normalmente como duplas, vinham de dois jogos desgastantes da sexta.

E conseguimos perder. Não vi o jogo todo, só o último set, mas a atuação da dupla brasileira - principalmente no saque de Marcelo Melo - foi patética. Não preciso nem dizer a importância do ponto nas duplas em um confronto de Davis, e dessa vez tínhamos uma vantagem brutal sobre o adversário. A impensável e indesculpável derrota jogou a moral brasileira na lama, e delineou a tragédia que, por fim, ocorreria no domingo.

Marcos Daniel, descansado, precisava vencer Nico Lapentti para deixar tudo para o último jogo. O equatoriano, 33 anos, vinha de mais de 7 horas de tênis nos dois dias anteriores, mas mesmo assim abriu 2x0. O brasileiro empatou, mas perdeu um 5o set por 8-6, em quase 5 horas de jogo. Nem o cansaço do adversário serviu de vantagem. O Equador vai para o Grupo Mundial da Davis.

Como se não bastassem todas as vantagens brasileiras já listadas acima, existia uma a mais, deixada propositadamente para o final: jogávamos em casa - a maior vantagem possível na Copa Davis. A torcida, incomum em um jogo de tênis, catalisa os trunfos do time da casa e suaviza os do adversário.

Nem isso foi suficiente.

Depois deste fim de semana trágico em Porto Alegre, o Brasil continuará ocupando o lugar que merece: a Segunda Divisão do tênis mundial.

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