quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Brasil: ontem, hoje e amanhã

Só costumo falar da Seleção Brasileira quando tem jogo, como seria o normal. Num momento como esse, de início das Eliminatórias e da primeira partida no Maracanã em sete anos, não poderia ser diferente, então vou abusar mesmo. Apoveito também que (para variar) o jogo está chato para sentar à frente do computador.

Estava pensando esses dias sobre como mudamos de opinião sobre a situação atual do futebol brasileiro e da Seleção desde o início da Copa de 2006. Antes da Copa da Alemanha, ainda com com lembranças da final de 2002 e do baile na Argentina na Copa das Confederações, éramos imbatíveis. Impossível seria o "Quarteto Mágico" ser derrotado. Se marcarem o Kaká, Ronaldinho Gaúcho acaba com o jogo, e vice-versa. Se, por algum milagre, anularem os dois, Ronaldo e Adriano sobram livre na frente. Nada disso aconteceu e, depois do vexame, tivemos um verdadeiro expurgo de (ex) craques.

Na verdade, essa percepção é bem típica dos brasileiros, devido a dois fatores opostos e complementares:

1) Complexo de superioridade na vitória: quando algum de nós se destaca, em qualquer área, adquire logo status de deus grego. O brasileiro é foda, o melhor do mundo, e não tem como negar isso. Ronaldo é um fenômeno, ninguém segura o Adriano e Ronaldinho Gaúcho é quase um Pelé.

2) Complexo de inferioridade na derrota: não sabemos lidar com o fracasso, que é sempre seguido de uma implacável perseguição aos responsáveis e de uma elevação dos pontos negativos do povo brasileiro. Ronaldo é gordo (mesmo que isso fosse inegável à época), Adriano enche a cara na balada e Ronaldinho Gaúcho, além de amarelar, só dá bola para o Barcelona.

No esporte e no futebol esses dois complexos são ainda mais latentes. Talvez em 2006 não fossemos tão imbatíveis assim (como a França, pela terceira vez, mostrou), e é bem provável que não vivamos a entre-safra que alguns pregam, apesar dos substitutos dos que sairam serem, pelo menos no momento, piores dos que saíram. O que temos é um mal gerenciado período de transição, pois uma ótima geração de jogadores se aposentou da Seleção e quem cuida dela não dá a mínima para o que não se relacionar aos dólares no seu bolso.

Quando a mudança é brusca, então, essa transição é ainda mais traumática. Desde a Copa de 1998, tivemos três posições no time praticamente incontestáveis: lateral-direito, lateral-esquerdo e centroavante. Equanto Cafu, Roberto Carlos e Ronaldo eram absolutos, seus reservas se alternavam. Na França, a 13 era de Zé Carlos (!), a 16 de Zé Roberto (que mais tarde viraria meio-campo) e os outros atacantes eram Bebeto, Edmundo e Denílson (sem contar Romário, que foi cortado); já em 2002 os reservas nessas posições eram Belletti, Júnior, Rivaldo, Denílson, Luisão e Edílson. Em nenhum lugar um reinado assim tão grande sai impune.

Maicon, Daniel Alves e Gilberto ainda não se firmaram, nem convenceram a maioria, como titulares da Seleção Brasileira. Cicinho, que se recupera de lesão, precisa corrigir um ponto fraco que é a marcação. Marcelo foi para a reserva do Real Madrid ainda garoto, e reserva (mesmo do Real Madrid) não ajuda a formar jogador. Sem falar em Ilsinho, que já se escondeu na Ucrânia.

A falta de concorrência na posição gerou uma lacuna que talvez demore um tempo para ser preenchida. Não quero dizer que Cafu, Roberto Carlos e Ronaldo são culpados pela própria competência. Assumiram essas posições com justiça e mereceram permanecer nela por todo esse tempo. É apenas uma constatação do que pode acontecer a períodos como esse (que sirva de alerta: assim como o Corinthians, times como Cruzeiro, Vasco e Santos podem ter problemas quando seus "patronos" se forem).

Para finalizar, e assistir o 2o tempo, o momento Nostradamus do dia. Dos 22 convocados por Dunga para os dois primeiros jogos dessas Eliminatórias, estarão na África do Sul: Júlio César, Daniel Alves, Kléber, Lúcio, Juan, Alex, Gilberto Silva, Elano, Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Diego e Robinho. Independente de serem titulares ou não, de merecerem ou não.

Incluindo o técnico. Ou melhor, não incluindo.

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