sábado, 13 de outubro de 2007

A África é logo ali

Após 15 meses, teremos um jogo da Seleção que realmente vale alguma coisa. Com a Copa América cada vez mais desprestigiada e amistosos com valor apenas comercial, o interesse pela Canarinho acaba se restringindo à Copa do Mundo - e, consequentemente, às Eliminatórias que distribuem as vagas para tal competição.

Mesmo assim, as Eliminatórias Sul-Americanas não devem guardar muitas surpresas, pois dificilmente Argentina e Brasil ficarão de fora da Copa de 2010. A briga mesmo vai ser pelas outras duas vagas, além da quinta que leva à angustiante repescagem. Para nós brasileiros, portanto, emoções de verdade só mesmo quando enfrentarmos nossos hermanos mais queridos, a não ser que o improvável aconteça. E tomara que isso ocorra, pois já está empiricamente provado que para ganharmos uma Copa são necessárias boas doses de sofrimento anteriores. Seleção Brasileira que chega a um Mundial com pinta de campeã geralmente se dá mal.

Sofrimento, aliás, é a tônica da Seleção atual, capitaneada pelo anão revoltoso Dunga. Segundo o próprio, Alexandre Pato "terá de sofrer" para chegar à Seleção. Ronaldinho Gaúcho e Kaká já sentaram no banco. Ronaldo Fenômeno carrega quase que sozinho uma culpa que não é (só) dele pelo fracasso na Alemanha. Tudo para que os jogadores saibam o que é vestir a camisa da Seleção Brasileira, ainda sob a Teoria Dunganiana.

Seleção Brasileira não é lugar para sofrimento. Ao contrário, poucas coisas deram tantas alegrias à nação (desculpem a breguice) como o futebol, e quando a tristeza prevaleceu foi devido a um aspecto indissociável do esporte, que é a derrota. Não deve ser requisito para um jogador chegar à Seleção o sofrimento, como se crescer como pessoa e atleta se assemelhasse ao treinamento do BOPE. Dedicação, trabalho e talento nato sem dúvida, mas sem essa conotação de dor que Dunga tanto prega.

Dessa forma, ele tenta transferir para todos os jogadores, agora seus comandados, o peso que ele próprio carregou por anos a fio, depois do vexame de 90. Entre a Itália e os Estados Unidos Dunga viveu, sim, um período conturbado. A "Geração Dunga" foi o estigma do futebol feio e perdedor, fardo muito pesado para um jogador só. É provável que ele tenha sofrido, e justo foi seu desabafo ao erguer a taça do Tetra. Mas querer que isso vire regra daqui em diante é demais. A via-crucis de Dunga, no início dos anos 90, foi originada por uma conjunção de fatores, como os 20 anos sem título, geração não tão brilhante e muito mal comandada. E, claro, o baixo nível técnico do próprio Dunga. Ele era grosso sim, mas conseguiu com méritos reverter essa imagem (aprimorando fundamentos e compensando o restante da falta de técnica com liderança e vontade de vencer).

Os tempos são outros, e sofrimento não é a palavra mais adequada à Seleção nos dias de hoje. A não ser, claro, quando assistimos à perpetuação do poder do Genro Pródigo, amistosos contra combinados do Kuwait e a camisa 9 sendo vestida pelo Afonso.

Nada com que se preocupar, afinal amanhã será o primeiro jogo de um torneio longo e com vários obstáculos imprevisíveis, principalmente para os jogadores. Dos 22 convocados para o primeiro jogo das Eliminatórias para a Copa de 2002, apenas 13 foram à Asia; do início das Eliminatórias de 2006, 12 chegaram à Alemanha. Poranto, a chance de aguentarmos Afonso, Doni e outros na África não é grande.

Assim como de termos Dunga à frente da Seleção.

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