sábado, 3 de novembro de 2007

Eu já sabia

Assuntos não resolvidos voltam à tona quando uma oportunidade aparece, não importando quanto tempo ele tenha ficado adormecido. A tal "Taça das Bolinhas", entregue pela CBF ao Campeão Brasileiro entre 1975 e 1992, estava praticamente esquecida em algum cofre da Caixa Econômica Federal desde então, até que alguém lembrou que ela deveria ser entregue ao primeiro clube que conquistasse a competição por cinco vezes.

E foi aí que começou a confusão, pois um assunto não resolvido - a taça, colocada no ostracismo - e um mal resolvido - a posição da CBF sobre os campeonatos nacionais de 1987 - se fundiram em um só. Ninguém contesta que o Flamengo foi o Campeão Brasileiro de 1987 de fato; mas de direito, o título não pode ser negado ao Sport. As duas afirmações são abortos da briga entre CBF e grandes clubes de futebol naquele ano, na qual não vou me aprofundar.

Pois bem, o São Paulo conquistou nesta semana seu 5o título nacional e a CBF, para provar sua autoridade sobre o futebol nacional - por mais que ela não dê a mínima para ele - anunciou que entregaria a taça ao Tricolor paulista, pois reconhece nele o primeiro clube penta-campeão Brasileiro.

Culpados não faltam nessa história.

Primeiro, claro, a CBF, que por incompetência e descaso simplesmente enterrou o assunto sem resolvê-lo de forma definitiva. Como disse, temos essa discussão agora por mera questão de oportunidade, pois se o Palmeiras tivesse vencido o Vasco em 1997 ela teria surgido dez anos mais cedo. E aqui cabe uma primeira pergunta: se a "Taça das Bolinhas" foi entregue entre os anos de 75 e 92, e o São Paulo venceu dois campeonatos fora desse período, tem ele direito legítimo sobre ela? Aliás, teria também o Palmeiras, visto que seus primeiros dois títulos vieram com o Bi-campeonato de 1972/73?

Em segundo lugar, mas sobre ela é redundante falar, vem a desorganização do nosso futebol. A Copa União e o Campeonato Brasileiro de 1987 nasceram de um racha e foram iniciados sem terem seus formatos finais decididos. Só no final dos torneios, quando já se tinham os quatro times que teoricamente disputariam o quadrangular final, que Flamengo e Internacional simplesmente se recusaram a disputá-lo. O Sport não tem culpa disso, dando a ele, legalmente, o direito de ser reconhecido como o campeão daquele ano - até porque o Campeonato Brasileiro de 87 foi organizado pela CBF, enquanto a Copa União pelos dissidentes formadores do Clube dos 13.

Em último lugar - nem tanto 'culpados', mas responsáveis pelo clima desagradável que páira no ar - temos os próprios Flamengo e São Paulo. Tudo bem que ninguém discute que o Flamengo venceu cinco Campeonatos Brasileiros, mas isso não lhe outorga o direito de reivindicar a taça junto ao São Paulo. Isso ele já teria de ter feito junto à CBF anos atrás, e fazê-lo agora junto a um semelhante é, no mínimo, indelicado.

Tão indelicado quanto o São Paulo se auto-proclamar o único penta-campeão Brasileiro. Até porque Tricolores e Rubro-negros foram aliados próximos na criação do Clube dos 13, e ao negar isso o time paulista vai contra sua própria história e princípios. Os dirigentes são-paulinos, mesmo estando longe da excelência, ainda são tomados como referência no futebol brasileiro, mas uma atitude como essa acaba por rebaixá-los alguns degraus.

O que me leva à segunda pergunta da noite: o que deve fazer o São Paulo? Independente da resposta sobre a primeira pergunta aqui exposta, é fato que o time venceu, com méritos, cinco Campeonatos Brasileiros podendo até, como já disseram alguns, ser o primeiro penta-campeão "sem asteriscos" da história. E se a CBF o reconhece como o primeiro absoluto, não é sua culpa. Não conheço nenhum caso de algum time no mundo que tenha recusado um troféu referente a uma conquista sua.

Deveria o São Paulo recusar o prêmio? Acho que não, mas esse ponto é discutível. O que não se pode conceber é uma atitude tão mesquinha por parte do São Paulo, e tão amadora por parte do Flamengo, causando uma briga entre dois grandes clubes por assunto tão supérfluo. Mas isso já é fato consumado, e podemos esperar problemas extra-campo em futuros confrontos entre as equipes - já que esse tipo de polêmica é larga e irresponsavelmente explorado por dirigentes.

Para finalizar, e até adiantando tema que devo explorar até o fim do ano, temos uma grande conclusão sobre o imbróglio. O sistema de pontos corridos é imprescindível para a organização do futebol brasileiro, pois sua consolidação impedirá outras situações como essa no futuro. Só estamos discutindo isso hoje por erros cometidos duas décadas atrás, e acabar com os pontos corridos - como vem sendo discutido nas últimas semanas - será um retrocesso maior ainda.

Um comentário:

aaaaaaaa disse...

Um ótimo resumo dos fatos! Gostei muito da forma como você abordou o assunto, assim como a visão de cada parte dessa briga que vai dar o que falar até o fim do ano. Parabéns pelo blog! Vou tentar ler o que você escreve com mais frequencia.

Forte abraço