segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Reflexões olímpicas

Olhando o post abaixo, já decorridos alguns dias do anúncio do Rio como cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016, confesso que posso ter exagerado um pouco. O sinal de luto ficou pesado para um acontecimento das proporções da decisão do COI. Mas ele reflete o meu sentimento ao ver Jacques Rogge, com um envelope em mãos, pronunciar 'Rio de Janeiro' com aquele sotaque carregado.

Fiquei triste durante toda a sexta-feira, já que de nada adiantara a minha torcida contra, e assisti a consagração daqueles por qual não tenho nenhum apreço - ao contrário, nutro profundo desprezo. Nem o choro do Lula seria capaz de me comover.

Hoje, segunda-feira, já digerido o choque inicial, já é possível começar a enxergar outros pontos da questão; que, por ser tão complexa, não aceita uma posição radical e inflexível de nenhum dos lados.

Mas calma: se você acha que mudei de opinião só para me alinhar com a maioria, pode parar. Para que não reste dúvidas sobre a minha posição sobre os Jogos Olímpicos no Brasil, usarei letras garrafais: SOU CONTRA A REALIZAÇÃO DE EVENTOS DESSE PORTE NO BRASIL, E TORCI CONTRA A CANDIDATURA RIO-2016. PORÉM, UMA VEZ VITORIOSA, DESEJO QUE OS JOGOS SEJAM NÃO SÓ UM SUCESSO, MAS QUE O PAÍS SAIBA APROVEITAR A OPORTUNIDADE E UTILIZE OS RECURSOS GERADOS EM BENEFÍCIO DO BRASIL E DAQUELES QUE MAIS NECESSITEM. E QUE HAJA REALMENTE UM LEGADO, ESPORTIVO, ECONÔMICO E SOCIAL - EMBORA NÃO ACREDITE QUE ISSO VÁ ACONTECER.

(Apenas como prova de que não desejo o fracasso dos Jogos de 2016, retirei do blog o logo contrário à candidatura do Rio, que ficava aí do lado direito das postagens.)

E por que não acredito? Porque não confio nas pessoas responsáveis pelo projeto Rio-2016. Carlos Artur Nuzman comanda o esporte olímpico brasileiro há anos, com poucos avanços, adotando métodos nada democráticos para se manter no poder e tratando o esporte como um projeto pessoal de auto-promoção; o Ministro Orlando Silva, que em pleno século XXI ainda prega a causa comunista, encara o esporte como mero trampolim político; Sérgio Cabral tem em seu rol de amigos e aliados o casal Garotinho, além de diversos problemas com a justiça; Eduardo Paes era Secretário de Esportes do Rio de Janeiro durante o Panvergonha-2007. Aliás, todos os citados acima também tiveram participação efetiva naquela gastança desenfreada e impune.

E, claro, acima de tudo e todos, do bem e do mal, temos o Presidente Lula. Que, se pode se orgulhar das verdadeiras conquistas obtidas em seu governo nos campos social, econômico e político (este último fundamental para a vitória do Rio), ainda é o chefe de um dos governos mais CORRUPTOS da história da democracia brasileira - é um defeito meu não esquecer das coisas, e o mensalão continua vivo na minha memória.

Não em venham com a historinha de que 'Corrupção tem em todo lugar'. Até é verdade, mas não aceito. Não duvido que até em países como, por exemplo, a Noruega (1a posição no Ranking IDH) existe corrupção, mas existem algumas diferenças básicas entre a pilantragem nórdica e a tupiniquim.

Senão, vejamos:
1) Aqui a corrupção é MUITO maior, já que o Brasil é reconhecidamente um dos países mais corruptos do mundo;
2) O estrago da corrupção no Brasil também é mais significativo aqui do que em países desenvolvidos, já que a população brasileira é mais carente e ainda temos um longo caminho a percorrer;
3) Mais importante: a corrupção na Noruega é problema... da Noruega. Sou brasileiro, moro no Brasil e por isso tenho que me preocupar, combater e me indignar com a corrupção do Brasil. Dizer que ela é inevitável, e que por isso deve ser relevada, é de um conformismo grotesco e inaceitável.

Enfim por essas e outras, não acredito em um legado significativo, mesmo que algumas dessas pessoas já não estejam à frente da empreitada em 2016. A essência permanecerá a mesma, já que não se muda a mentalidade de um povo, cultivada ao longo de mais de meio século, em apenas sete anos.

Apesar disso, torcerei para estar errado, já que a vitória "deles" também será a minha vitória. Mesmo que alguns poucos ganhem (bem) mais que a maioria - o que, para mim, já é fato consumado - se realmente houver um legado para a cidade do Rio de Janeiro e para o país, para o esporte brasileiro e para a consciência do nosso povo, ficarei feliz. Meus filhos crescerão no Brasil pós-2016 (e, obviamente, pós-2014, só para lembrar que o que vale para as Olimpíadas vale também, em boa parte, para a Copa do Mundo), e se essa farra de hoje se materializar em avanços no futuro, ótimo.

Dentre tudo o que escrevi, falei mais de política do que de esporte (a escolha do COI também não privilegiou mais aspectos políticos do que esportivos?). A discussão em torno dos Jogos, daqui até 2016, deve também girar primordialmente em torno da política, no sentido de fiscalizarmos e cobrarmos aqueles que assinarão contratos e cheques. Esse debate é importante e fundamental para que as coisas ocorram como devem ocorrer.

Para encerrar, vou me permitir deixar tudo isso de lado um pouco, por apenas algumas linhas, para deixar registrado o ponto fundamental da questão, que não pode passar am branco:

O BRASIL SERÁ SEDE DE UMA OLIMPÍADA.

O que, para um apaixonado por esportes, é fantástico; e, para o país, uma oportunidade única.

Parabéns ao Rio.

Boa sorte a todos.

E tomara que eu esteja errado.

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