terça-feira, 5 de agosto de 2008

Pergunta sem fim

Desde que me conheço por gente - e, consequentemente, que acompanho esportes - me faço recorrentemente uma pergunta: o que é mais legal, Olimpíadas ou Copa do Mundo?

Os motivos a favor de um são logo anulados pelos do outro, e a indagação fica no ar, pendendo de um lado a outro a cada dois anos, sem uma conclusão definitiva.

A cada ano par não-bissexto, a resposta parece clara: sem dúvida a Copa do Mundo é o maior evento (não só esportivo) do mundo, pois nenhum outro faz com que um país continental como o Brasil pare de norte a sul - nem todas as nossas mães tornem-se, do dia para a noite, críticas ferrenhas ao esquema tático adotado por nossa Seleção. Até quem não dá a mínima para futebol altera sua rotina para acompanhar os jogos do Brasil.

O futebol não só é o esporte mais popular do Brasil como o mais sensacional de todo o globo, com todas as suas artes e imprevisibilidades. Basta o fato desta discussão para termos uma melhor noção do que ele representa: questionamos se um evento de um esporte só é maior ou não ao que congrega todos os outros esportes. Analisando por esse aspecto, e pelo impacto que a Copa do Mundo tem sobre o Brasil, a dúvida parece se dissolver.

Mas aí vem o tal ano bissexto, em que a glória (ou o fracasso) da última Copa já ficou meio que perdida na memória, e temos mais uma edição dos Jogos Olímpicos. Todas as "certezas" da superioridade da Copa ficam de novo em xeque, pois é impossível ignorar a grandeza dos Jogos.

Como já disse, o futebol é o maior do esportes. E isso as Olimpíadas não podem mudar - até mesmo pelo desprezo mútuo cultivado entre os dois. E, numa Copa do Mundo, o Brasil é sempre um dos protagonistas - o que não ocorre, a não ser em esparsas e pontuais modalidades, nos Jogos.

Só que as Olimpíadas têm dois pontos que são incomparáveis.

O primeiro deles, é a diversidade. Para um apaixonado por esportes, não há nada mais legal que ficar "zapeando" com o controle remoto por horas a fio, indo do basquete à luta greco-romana em não mais que um apertar de botão. Tudo ao vivo, no mais alto nível e com altíssimas doses de emoção, pois heróis são criados em sequência. É a história dos esportes sendo contada bem na nossa frente. No nosso tempo.

O segundo motivo é o mais belo deles: em nenhum outro evento temos reunidas tantas histórias de superação e vitória como nos Jogos Olímpicos. Me emociona ver tanto lágrimas no pódio como um último lugar conquistado com honra. A "conquista" de um último lugar olímpico já representou uma vitória para aquele atleta, que deixou tantos concorrentes para trás, na maioria das vezes à base de uma série de abdicações que a maioria de nós não seria capaz de suportar. Para uma delegação como a brasileira, então, essas histórias são a regra, o que me dá gosto de torcer para esses atletas que voltarão para o Brasil sem medalha no peito e tão anônimos quanto foram - mas com uma satisfação pessoal que só um atleta olímpico consegue ter.

Numa Copa do Mundo, a maioria dos jogadores são astros, milionários e idolatrados onde quer que vão. Geniais, sem dúvida, mas por vezes com seu brilhantismo obscurecido pela soberba. Sem querer julgar nem entrar no mérito, mas o sucesso destes jogadores muitas vezes impede que a Copa do Mundo seja mais fantástica do que ela já é.

Já nas Olímpíadas, é impensável um atleta desperdiçar quatro anos de sua curta vida esportiva se apresentando para a competição com nove quilos acima do peso...

Não que nos Jogos só tenhamos competidores que "honrem o espírito olímpico", pois casos de estrelismo e doping também fazem parte do evento. Mas mesmos esses - os do estrelismo, não os do doping -, no momento em que cruzam a linha de chegada em primeiro (ou atingem seu correlato de vitória nas demais modalidades), parecem esquecer de todos os contratos que assinarão devido ao feito recém conquistado. E, nem que seja somente por aquele momento, se comportam "simplesmente" como campeões olímpicos. Essa fração de segundo, imortalizada em flashes e películas, traduz a emoção do esporte como nenhum outro.

Tais momentos são raros em uma Copa; mas reproduzem-se às centenas numa Olimpíada. O que torna os Jogos um evento único.

Cheguei numa resposta? Claro que não, e nem era meu objetivo.

(Até porque a Copa também é um evento único.)

Apenas usei essa breve digressão para comemorar o início dos XXIX Jogos Olímpicos, em Pequim.

E deixar que a minha pergunta seja refeita ciclicamente, a cada dois anos, sem chegar a uma resposta.

Um comentário:

Anônimo disse...

Fabio e demais colegas do blog.

Quando penso em Copa, me remeto à grandes corporações e muita grana rolando; quando penso em Olimpíadas, vem a cabeça 4 anos de treino, dedicação, isolamento e uma força de vontade tamanha.
Não consigo mais associar jogador de futebol a atleta, são esportista distintos em si.
É só perceber o físico de um (e vide as panças mais clicadas da história), com o trabalho muscular do outro. Um me remete a dinheiro, outro me remete a medalha, reconhecimento por um trabalho quase de uma vida.
Minha sobrinha quando atleta, propriamente dito, chegava a reclamar de dores de tanto treino e afinco. Não vejo isso com jogadores de futebol, que passam noites a fio na Baroneti ou 00 aqui no Rio.
Para mim, são eventos distintos e distantes. Cada um deles com sua marca e conceito únicos.
Paula Boretti