terça-feira, 7 de agosto de 2007

Joel neles

Com a frase "Se ficar de palhaçada, mete a porrada", Joel Santana ganhou as manchetes e possivelmente uma denúncia no STJD por incitação à violência. É claro que a grande imprensa esportiva já tomou partido, ficando contra ou a favor da declaração de Joel. Os metidos a românticos se posicionaram contrariamente ao treinador, pois no futebol-arte vale tudo, e o drible é a maior contribuição do Brasil para o esporte; já os mais conservadores (chatos, para alguns) condenaram a ordem.
Dribles e toques de classe são sim indispensáveis ao bom futebol mas desde que usados de forma objetiva, com o objetivo de buscar o gol ou de se livrar de um adversário. Quando é feito com a única intenção de humilhar outro jogador, assume outra conotação. Malabarismos e firulas, quando se está com a partida ganha, têm cada vez menos espaço e compreensão no futebol profissional de hoje em dia. Porém, toda vez que um episódio como esse do Joel ocorre, os tais românticos saem em defesa da individualidade do jogador brasileiro, dando como exemplo maior Garrincha.

Só se esquecem de uma coisa: o futebol mudou demais desde a época de Mané. Naqueles tempos, o profissionalismo engatinhava. Jogadores iam para casa após os jogos de ônibus (Nílton Santos comprou seu primeiro carro só depois dos 30); dirigentes espremiam seus jogadores até a última gota em excursões caça-níqueis mundo afora; jogadores eram levados do bar diretamente para o jogo (de novo, Garrincha). Tudo isso é impensável para os dias de hoje, quando o dinheiro tem um papel fundamental no jogo e atletas são reconhecidos como profissionais. Para o bem ou para o mal, o futebol não é o mesmo de 50 anos atrás.

Mudanças não são exclusividade do futebol, claro. Se o esporte mudou foi porque o mundo também mudou. Fumar não é mais elegante, e sim desagradável; formas aceitáveis de discriminação há alguns anos, hoje dão cadeia; crianças não brincam de roda, mas descem na boquinha da garrafa. A sociedade evolui em alguns casos e involuiu em outros, cada mudança levou algum tempo até se firmar mas hoje são fatos consumados. O mesmo ocorre com o futebol, onde jogadores ganham salários milionários, têm seus jogos mostrados em todo o mundo mas também se apegam menos a amores clubísticos do que antigamente. Benefícios e malefícios andam lado a lado.

Além de não ser mais aceitável o pedido para 'quebrar' um adversário (se é que algum dia isso foi bonito), Joel foi pego em mais uma inovação das últimas décadas. Com microfones potentes colocados pertos dos bancos de reserva, qualquer suspiro é captado ao vivo. Não tenho dúvida que técnicos de antigamente falavam a mesma coisa - mas, além de ser "mais aceitável", ninguém ouvia. E tudo isso junto pode render a Joel Santana até dois anos de suspensão, até porque ele pertence a esse grupo de técnicos que não largaram o passado.

Não vi o lance do jogo Santos x Flamengo. Mas a minha opinião é a seguinte: jogadas de efeito não podem morrer nunca, desde que realizadas para se ganhar o jogo. Mesmo se feita de outra forma não justifica uma agressão, mas a explica. O jogador que abusa do deboche sabe dos riscos que corre. Mas, em hípótese alguma, a ordem pode partir do técnico, e acho sim que Joel merece uma punição. Nem que seja para servir de exemplo.

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