quarta-feira, 6 de junho de 2007

A importância devida de cada coisa

Ouvi hoje no rádio mais um desses corriqueiros absurdos cuspidos pela horrorosa imprensa esportiva paulistana: "Uma ótima ação da Conmebol seria premiar o campeão da Copa América com uma vaga na Copa do Mundo, assim o evento ganharia importância." Como já disse certo filósofo 'Uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa', e o resultado dessa mistura de banana com laranja foi um suco bem indigesto.

Cada campeonato tem de ser valorizado pelo que ele representa, e não (só) pelo que ele proporciona. Se a Copa América não tem esse valor hoje em dia, é por causa do descaso da própria Conmebol com seu maior tormeio entre seleções ao longo dos anos. A Eurocopa, por exemplo, tem um prestígio enorme. Se for de interesse que a Copa América alcance semelhante importância que a Conmebol, em parceria com as federações nacionais, trabalhe nesse sentido. Isso vale também para a Sul-Americana, que a partir desse ano dará ao campeão vaga na próxima Libertadores. Um erro.

No Brasil, temos um caso parecido: a Copa do Brasil. Deveria ser um torneio prestigiado e disputado com afinco por seus participantes, como acontece em todos os países europeus. Mas seu único atrativo é a vaga na Libertadores, ainda mais depois que os clubes foram impedidos de disputarem essas duas competições simultâneamente. Resultado: sucateamente do nível técnico da Copa, e premiação para um time não capacitado com um lugar na competição mais importante do continente.

Se não fosse esse presente (de grego, em relação ao futebol brasileiro como um todo) a Copa do Brasil não teria o menor valor. Mas não precisava ser assim. Vejamos, mais uma vez, exemplo do Velho Continente. A última FA Cup teve como finalistas o campeão e o vice da Premier League, a partida final foi disputada num sábado à tarde como reinauguração oficial do Estádio de Wembley. Mais apelo que isso, impossível, e festa merecida ao campeão.

Analisemos agora a Copa do Brasil. A final será disputada entre o 7o e o 16o colocados do último Brasileirão - com méritos reduzidos já que os cinco primeiros de 2006 não disputaram a competição - e numa quarta-feira à noite - mesmo horário de partida decisiva da semi-final da Libertadores, envolvendo outros dois clubes brasileiros. E tem outra: foi um torneio nacional realizado em apenas quatro meses, quando tranquilamente poderia ter ocupado espaço maior no calendário.

Ou seja: só vai acompanhar o jogo quem torce para Figueirense ou Fluminense, e mais uma vez teremos um participante potencialmente não qualificado para a Libertadores (ao menos dessa vez, ambos estão na Série A)..

É por isso que uma Copa do Brasil ou uma Copa América significam pouco para o torcedor. Como já disse aqui antes, são produtos mal administrados por quem deveria ter o maior interesse em seus sucessos.

Cabe a essas pessoas reverterem o quadro.

Como cabe à imprensa discutir a questão com inteligência, e não com idéias estúpidas.

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