sexta-feira, 1 de junho de 2007

O negócio do esporte

Pegando o gancho na polêmica Kaká/Ronaldinho Gaúcho, um comentário bastante dito na última semana foi: "Se eles pediram dispensa da Copa América, porque convocá-los para o amistoso em Wembley? Isso é imposição do patrocinador." Antes de expor meu ponto de vista, pergunto: se os Rolling Stones viessem tocar no Brasil, mas ao invés do Mick Jagger eles convidassem o Serguei para cantar, você (ou alguém) compraria ingresso?

A discussão sobre a interferência de patrocinadores no esporte já vem de muito tempo, atingindo o ápice da polêmica na final da Copa de 98 (até que se prove o contrário, me recuso a admitir que a Nike escalou o Ronaldo). Para os mais puristas, é um absurdo que patrocinadores, dirigentes e canais de TV tenham influência nas decisões do esporte. Mas os tempos mudaram e hoje isso é uma realidade, e de certa forma tem de ser assim. A questão é saber até que ponto essa interferência é benéfica tanto para o esporte em si como para os negócios.

Todo investidor quer ter retorno sobre seu investimento, e todo detentor de determinado direito adquirido tem poder para exercer seu direito. É justo que organizadores de jogos da seleção brasileira exijam a presença de um Kaká e de um Ronaldinho Gaúcho? Claro que é. O direito de se ter a seleção para um jogo é uma ótima oportunidade de negócio, e quem a faz precisa ter seu retorno com venda de ingressos e cotas de patrocínio. É justo que a Globo defina o horário para os jogos de meio de semana para às 21:45, pois essa é a hora que acaba a novela das 8? Infelizmente sim, pois ela pagou - caro - por esse direito. Dinheiro esse que, por sinal, é a maior fonte de renda dos clubes do Brasil e em qualquer lugar do mundo.

O negócio que se tornou hoje o esporte - para o bem e para o mal - se deve aos grandes investimentos no segmento nas últimas décadas aliados à globalização. É um fenômeno recente se lembrarmos que, por exemplo, os patrocínios nas camisas do times de futebol brasileiro só foram autorizados no início da década de 80. O tratamento do esporte como um negócio é um processo consolidado e inevitável, cabendo a dirigentes esportivos e patrocinadores tornar esse negócio cada vez mais atrativo.

Os patrocinadores cumprem o seu papel, o problema é que os dirigentes esportivos não fazem o deles. Agem pensando exclusivamente no dinheiro, e o balanço necessário entre negócio e valorização do espetáculo é perdida. É seu dever zelar pela modalidade esportiva pela qual são responsáveis, tornando-a um produto cada vez mais atrativo e assim atraindo mais investidores. Com certeza a melhor forma de se fazer isso não é marcando jogos da seleção na Rússia em fevereiro, deixando a Globo ter o monopólio das transmissões esportivas no Brasil ou perdendo a oportunidade de investir a longo prazo em determinada modalidade esportiva toda vez que um atleta brasileiro atinge destaque internacional.

Isso se faz com calendários melhor elaborados, levando em conta não só a modlidade em si como as demais (os EUA dão uma aula nesse sentido, em qualquer época do ano existe uma modalidade com seu campeonato em fase decisiva); com políticas de retenção de atletas no País por mais tempo possível; com concorrência efetiva e limpa entre potenciais investidores; com transparência na administração de federações e clubes; com profissionais capacitados na gestão do esporte em suas diferentes esferas de atuação; com, finalmente, respeito ao consumidor do esporte.

Não é preciso reinventar a roda para fazer tudo isso. Basta olhar o que é feito nos países de Primeiro Mundo e adotar suas práticas bem-sucedidas, adaptadas à realidade brasileira. Basta querer fazer, só isso.

No final das contas o esporte tem que ser interessante, primordialmente, para um elemento desse mundo: o torcedor, seu consumidor final. A partir do momento em que o torcedor não tiver mais interesse, o esporte perderá a sua razão de ser.

O negócio do esporte é emoção e beleza, e se isso for perdido não haverá dinheiro que o justifique.

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