quinta-feira, 28 de junho de 2007

Dia decisivo no Parque São Jorge


Alberto Dualib chegou hoje pela manhã em São Paulo, deixando o aeroporto por uma saída alternativa, evitando assim o contato com imprensa e torcedores. Após 60 dias de infrutífera e cara viagem a Londres, voltou para a reunião do Conselho que, entre outros assuntos, discutirá as contas de 2006 do clube. Em caso de reprovação das mesmas - o que seria lógico, visto o absurdo do balanço apresentado - pode ser instaurado um processo de impeachment no clube.

A oposição vê nisso a solução para os problemas do Corinthians, mas é apenas uma das muitas ações a serem tomadas. O buraco é bem mais embaixo. E por mais que eu tente ter uma visão imparcial deste clube, não consigo. Até de meu outro grande rival de São Paulo - sobre o qual pretendo escrever amanhã - já desenvolvi uma opinião mais racional. Mas da turma do Parque São Jorge é difícil.

A solução para o Corinthians, que serviria também de lição ao futebol brasileiro, é seu rebaixamento para a Série B e anos, anos de fila. Explico.

Ao longo de 96 anos de história, a administração do clube foi incapaz de construir algo sólido e que fosse de utilidade para gerações futuras. É o único clube grande de São Paulo que não tem estádio nem centro de treinamento apropriado. Para mim essa é a maior prova de incompetência em termos de gestão esportiva, e apenas tirar o Dualib não resolveria o problema. Quem entraria no seu lugar? A estratégia tem que ser mudada, não somente as peças.

A forma de estruturar seus times também é curiosa. Três de seus quatro títulos Brasileiros foram conquistados nos últimos dez anos, sendo que todos eles através de parcerias com grupos de investidores. Assim é fácil, vendo minha marca e torro milhões que não são meus, sem a preocupação de investimentos no próprio clube. Para se ter uma idéia, até 1994 o clube tinha em seu currículo apenas um grande título de expressão, o Brasileiro de 90. Foi com a ajuda de Excel, Hicks, Muse e MSI que o Corinthians escreveu seu nome na galeria dos times realmente vitoriosos do Brasil.

O 'case' MSI, então, é uma das maiores vergonhas do nosso esporte. Do nada, surge um iraniano que não fala português, com uma montanha de dinheiro que ninguém sabe de onde veio, e compra um monte de argentinos para o time (um deles costuma até cuspir na água do Brasil). Na verdade, comprou bem mais do que isso: os direitos sobre o departamento de futebol do clube por 10 anos. Pagou mas não levou, como é praxe por lá. Iludiram a torcida com promessas irreais, trazendo de concreto apenas um contestado Brasileiro.

Paralelo a isso, o clube foi colocado no centro das investigações sobre lavagem internacional de dinheiro. O suposto investidor nem pode pisar no Brasil pois corre o risco de ser preso.

Quando o sonho da Libertadores caiu por terra ano passado, o iraniano ídolo da Fiel viu do que essa Fiel era capaz. Pegou o primeiro avião e sumiu do mapa, levando com ele os milhões de dólares em que o Corinthians baseava todo o seu trabalho. Daí apareceu o verdadeiro Timão, que correu sério risco de ser rebaixado para a Segundona.

E mesmo com todo esse dinheiro lavado, ops, investido, a dívida do clube passa de R$ 70 milhões. Sinceramente, se eu fosse corintiano teria vergonha.

O Corinthians precisa de mudanças drásticas de ordem estrutural e estratégica, e tais mudanças só são realizadas depois de momentos de grave crise. Parcerias, ainda mais nos moldes adotados ultimamente, são paliativos. Um rebaixamento traria, a curto prazo, prejuízos e turbulências ao clube; mas se bem aproveitado, renderia bons frutos no futuro - vide o Grêmio.

São exemplos como o Corinthians que o futebol brasileiro não precisa.

4 comentários:

Anônimo disse...

Primeiramente parabéns pela iniciativa! Pelo pouco que já li os textos estão muito bem escritos, pode ter certeza que terá um embaixador de seu blog aqui nas Minas Gerais. Infelizmente o caso do Corithians não é isolado, o futebol é (mundialmente) um terreno fértil para lavagem de dinheiro, dentre outras práticas absolutamente incompatíveis com o esporte. Prova disso o fato que após o endurecimento da legislação dos países mais tradicionais europeus com relação à transferência de jogadores (o caso da itália eu acompanhei de perto porque lá estava estudando matérias relacionadas à lavagem) os clubes destes países passaram por crise financeira e, coincidentemente, passamos a ter noticias de transações milhonárias para países como a russia, ucrania, turquia, etc... (só mudaram o eixo). O problema é que a paixão é maior e apesar de ter plena conciência do volume de sacanagem que envolve o esporte bretão, basta uma tarde no mineirão com um vitória histórica em cima das frangas (4 x 2 com direito a penalti defendido), que esqueço tudo isso e surge uma verdade incontestável: I LOVE THIS GAME!!!
Gustavo Silva

Fabio Pimentel disse...

A mesma paixão que move o futebol impede que torcedores repudiem tais práticas. Por um título, vale qualquer coisa.

Anônimo disse...

O Kia foi pro time errado... devia ter ido pro Morumbi.. com estádio e com o time que tinhamos na epoca (2005) com mais uns 2 ou 3 reforços teriamos o melhor time do mundo por um bom tempo...

Bola, Parabens pelo Blog

abraços
FJ

Fabio Pimentel disse...

Eu prefiro 30 anos de fila a ter como "parceiro" algo parecido com o Kia ou a MSI.
A estrutura e os títulos do SPFC foram conquistados com planejamento e força própria, o que por si só já é um grande motivo de orgulho.