terça-feira, 12 de junho de 2007

A realidade dos pontos corridos

Sempre fui um defensor do formato de play-off para o Campeonato Brasileiro, pois achava que um campeão devia além de ser o melhor, saber ser campeão. Hoje minha visão é totalmente a oposta. O campeão nacional deve ser definido através do método mais justo e que conceda o título ao time de melhor campanha no decorrer do longo campeonato. A mudança - e aparente consolidação - para o sistema de pontos corridos foi a melhor coisa que aconteceu nos últimos anos para o futebol brasileiro.

As opiniões se dividem, pois toda mudança leva tempo para ser assimilada. Também é preciso tempo para que os envolvidos - técnicos, jogadores, torcedores, imprensa - entendam o que é necessário para se obter sucesso em um campeonato por pontos corridos.

É possível ouvir todos os tipos de comentários:

"É fundamental ganhar os jogos em casa."

"O importante é não perder fora."

"É inadmissível perder pontos contra os mais fracos."

"Os jogos mais importantes são os confrontos diretos contra outros aspirantes ao título."

E o maior chavão de todos "Em campeonato de pontos corridos, todo jogo é uma final."

Se tudo isso fosse o que realmente importasse, a regra então seria: não perder nunca. O que é impossível, ou quase.

Analisando os quatro campeões pelo sistema de pontos corridos, temos o seguinte quadro:
-2003: Cruzeiro, 100 pontos em 46 jogos - 72,5% dos pontos possíveis;
- 2004: Santos, 89 pontos em 46 jogos - 64,5%;
- 2005: Corinthians, 81 pontos em 42 jogos - 64,3%;
- 2006: São Paulo, 78 pontos em 38 jogos - 68,8%.

A média geral de pontos conquistados foi de 67,4% do total de pontos possíveis. Todos os quatro campeões perderam pontos dentro e fora de casa, contra adversários que estavam disputando o título e com aqueles que fugiam do rebaixamento. Ou seja, tiveram seus tropeços. O que fez deles campeões foi a regularidade, um dos fatores decisivos em um campeonato deste tipo. A média de pontos por partida destes campeões foi de redondos dois pontos por partida. Portanto, nenhuma das cinco premissas apresentadas é válida, ou se preferirem, todas são, mas apenas em parte e combinadas.

O outro fator é planejamento. Com a tabela pronta é obrigação da comissão técnica e da administração dos clubes estudá-la e apontar os períodos mais críticos para o time, com relação a adversários e viagens. Jogos de outras competições e possíveis convocações para a Seleção são aspectos fundamentais deste planejamento. Assim, objetivos ficam mais claros e surpresas mais previsíveis.

Assim, diminuem as chances de clubes mal-organizados e aventureiros tornarem-se campeões. Clubes estruturados conseguem dar melhores condições para os jogadores, dentro do campo, manterem a desejada regularidade.

Com o tempo, teremos cada vez menos times brigando realmente pelo título, como já acontece na Europa. E aqueles que compreenderem essa nova realidade são os mais fortes candidatos para dominar o futebol brasileiro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Detalhe: o Cruzeiro foi o time da "nova era" do Brasileirão que mais fez pontos e gols. O que poderia servir de argumento à minha humilde opinião de que foi o melhor time campeão desde 2003. É claro que o fato de torcer para o referido (o que não invallida a assertiva, até por que não sou doente assim) pode ser invocado para desqualificar minha preferência, mas realmente penso, por tudo o que mostrou em campo, que aquele time foi o melhor dos campeões da "nova era", assim como o melhor time celeste que vi entrar em campo.

Gabriel Rocha - BH/MG