Claro que a mídia se voltará com mais atenção ao torneio apenas em seu octagonal final, com início em outubro, quando serão definidos quatro os times que disputarão a Série B em 2008. Mas esse ano, com a presença de dois campeões brasileiros - Bahia e Guarani - e jogadores como o goleiro Sérgio (Bahia) e Túlio (Villa Nova), a outrora sinistra Série C ganhou seu charme.
Nós, paulistanos, veremos cinco times do interior do Estado na disputa - Guarani, Noroeste, Rio Claro, Bragantino e Sertãozinho - e mais um da capital, o Juventus. O Moleque Travesso, aliás, foi responsável por uma das mais prazerosas experiências que tive esse ano no futebol. No Campeonato Paulista, num sábado à tarde do começo de abril, fui assistir a um jogo do time no antológico estádio Conde Rodolfo Crespi, a Rua Javari, quase escondido em um dos bairros mais tradicionais da nossa cidade.
O dia não estava muito bonito, ameaçava chover, mas nada desanimou os quatro bravos - no caso eu, Cris, Paulinho e Zica. Driblamos os cambistas e compramos nossos ingressos por volta das 14:30 (o estádio, por falta de iluminação, tem seus jogos marcados somente até as 15:00) e fomos almoçar na Esfiha Juventus, tradicional restaurante árabe nas imediações do estádio. Enquanto tínhamos no balcão à nossa frente kibes, esfihas e garrafas de cerveja, nuvens escuras começaram a se formar no céu da zona leste paulistana. Seria melhor comprar uma capa de chuva, o que fizemos na fila de entrada do estádio, de onde também ouvimos o primeiro grito de gol. Do Paulista de Jundiaí.
Com 0x1 no placar, a fiel torcida juventina - composta em sua maioria por senhores na casa dos 50 e 60 - que lotava as cadeiras cobertas, se mostrava impaciente. Por muitas vezes quem pagava o pato era Ana Paula de Oliveira, assistente escalada pelo jogo e que pelas dimensões do estádio ficava a pouco mais de um metro do alambrado. Impropérios e 'delicadezas' eram berradas de acordo com o levantamento (ou não) da sua bandeira.
O Juventus, enfim, empatou, e com o gol veio a chuva. Nada demais, 20 minutos de água amenizados pela capa de chuva e por um reconfortante sol de fim de tarde. Pouco antes do intervalo, o auge gastronômico do dia: canoles, aqueles cones fritos recheados com creme, típico doce italiano imortalizado no primeiro filme da trilogia 'O Poderoso Chefão' ("Leave the gun, take the canoli"... quem se lembra sabe do que estou falando). Vendidos a R$ 1, algumas centenas do doce são esgotadas antes da volta para o segundo tempo, deliciando e lambuzando os dedos de boa parte dos presentes.
Com a mudança de lado, nos colocamos próximos à Ju-Jovem, atrás do gol, que não parou de gritar por um instante sequer. A tradição do Juventus está tão ligada ao bairro da Mooca - e, consequentemente, à própria história de São Paulo - que ainda é capaz de despertar a paixão de jovens torcedores, que empurram o time mesmo sabendo que títulos dificilmente virão um dia. E são recompensados, com a virada juventina e a vitória por 2x1. Com o fim do jogo e a alegria pela vitória, possíveis erros de arbitragem são esquecidos e a Ana Paula é ovacionada pelas cadeiras, que recebem em troca beijos de agradecimento enviados pela assistente/modelo.
Na saída do estádio, a caminho de um bar onde encerraríamos a tarde, nos deparamos com alguns desses jovens juventinos, vendendo camisas onde a inscrição em branco 'Mooca é Mooca' num fundo vinho simbolizava o sentimento dessas pessoas por esse bairro da cidade.
Amanhã o Juventus estréia, em casa, contra o Democrata de Governador Valadares. Ótimo programa para quem, além de gostar de futebol, quer ter uma verdadeira aula de São Paulo.
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