sexta-feira, 13 de julho de 2007

Ufa!

Se você também estava de saco de cheio de ver a Mylena Ciribelli falando como o Pan é maravilhoso e o Rio de Janeiro é lindo, uma boa notícia: começam hoje os XV Jogos Pan Americanos. Após esses 16 dias, não teremos mais o Pan como tema central do esporte brasileiro, o que é bom e ruim. Bom porque, além de mudar o disco, não haverá mais desperdício de dinheiro público como vimos ao longo dos últimos anos; o lado ruim fica por conta de atletas que perderão o apoio que a visibilidade do Pan proporciona, e porque a parte mais difícil do trabalho estará apenas começando.

Trazer o Pan para o Brasil, construir as arenas e montar as equipes foi difícil, mas o pior só vai começar depois de 29 de julho. Diz respeito à utilização da infra-estrutura esportiva construída para a competição. É notório que, em grande parte dos casos, as arenas feitas especialmente para competições desse porte acabam sendo pouco aproveitadas - Sydney e Atenas são dois casos recentes. Espero que o Brasil não copie este mau exemplo vindo de fora, e que os bilhões gastos sejam justificados com o desenvolvimento do esporte e a inclusão social.

O Pan de 1963 em São Paulo construiu um complexo esportivo e de alojamentos na Cidade Universitária. A então Vila Pan-Americana é utilizada até hoje como alojamento para os estudantes da USP (o fato de ser mal utilizada não é culpa dos jogos), mas as instalações esportivas estão sucateadas e são pouco aproveitadas. O estádio de futebol recebe jogos de ligas universitárias e alguns eventos esporádicos, e o velódromo - já inadequado para competições oficiais há vários anos - perdeu quase toda sua utilidade. Nos meus sete anos como aluno da USP, das poucas vezes que entrei no espaço, metade delas foi para algum churrasco, show ou outro evento social.

É triste admitir, mas se tivesse que apostar hoje sobre o que vai acontecer no Rio, optaria por uma alternativa pessimista. Fazendo uma análise dos aspectos administrativos o Pan foi um desastre desde o início e, conhecendo o Brasil como conhecemos, é compreensível supor que continuará sendo.

Por outro lado é preciso olhar para o evento considerando o que ele realmente é: uma competição esportiva. E nessa visão, temos que comemorar, racionalmente, o Pan do Rio. Até pelos próprios países participantes, o Pan não reúne a nata do esporte mundial. A grande potência americana, os EUA, ganharão a maior parte das medalhas com facilidade, mesmo trazendo suas equipes B e C. De um modo geral, o Pan pode ser considerado uma competição de segundo nível.

Mas... o que é o Brasil? Uma potência do Primeiro Mundo ou um integrante do Terceiro? Temos índices de distribuição de renda de uma Suíça ou de um país africano? No que tange o esporte, nossos atletas têm apoio contínuo do governo e da iniciativa privada ou se esforçam para sobreviver do esporte, mais por não terem outra alternativa do que propriamente por opção? É injusto cobrar desses atletas resultados se eles não têm condições de se preparar para tal. O Pan é a competição que mais se adequa ao nível médio do esporte brasileiro, e as medalhas conquistadas nas próximas semanas devem ser celebradas. Se não por seus feitos esportivos, por suas lições de superação e de vida.

Tudo isso com inteligência e ponderação, claro. Uma medalha Pan-Americana, na esmagadora maioria dos casos, não indicará um potencial campeão olímpico. Os vitoriosos - e até simples participantes, por que não - no Rio merecem nosso reconhecimento pelo que eles são, não pelo que queríamos que eles fossem. Torcer pelos atletas brasileiros não é demonstração barata de patriotismo ou amostra de manipulação global, mas sim querer o bem e sentir orgulho por pessoas que representam o nosso país e dividem conosco as suas mazelas. São apenas atletas competindo naquilo que fazem de melhor, e não têm culpa nenhuma se fora das quadras a situação é uma bagunça.

E que, como eu disse no primeiro parágrafo, esse Pan acabe com a queima de dinheiro público, coisa que continuará acontecendo se o Sr. Nuzman insistir na bobagem do projeto olímpico. Uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa. Completamente diferentes. Não há a menor condição do Rio, São Paulo ou qualquer outra cidade brasileira sediar uma Olimpíada, independente do balanço geral do Pan. Continuar com esse projeto narcisista resultará apenas em mais gastos desnecessários.

Infelizmente, mais uma vez escolheria a opção pessimista.

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