quinta-feira, 5 de julho de 2007

Sarriá, 25 anos depois

O Estádio de Sarriá não existe mais. Foi demolido em 1997 para saldar dívidas do Espanyol e sua área transformada em área residencial. Mas a tragédia ocorrida no local há exatos 25 anos é indelével, mesmo que não existam ruínas como em Pompéia servindo de testemunho à posteridade.

Eu tinha pouco mais de três anos e meio naquela segunda-feira, 5 julho de 82, portanto a Copa da Espanha não faz parte nem de minhas mais remotas memórias. O que não me impede de afirmar que eu vi a Seleção do Telê jogar. Qualquer brasileiro com um mínimo de interesse em futebol já pôde assistir, algumas vezes, lances e gols daquele time em reprises na TV. Seria repetitivo e até piegas escrever sobre sua magia, pois esta já foi devidamente declamada por todos os Armandos Nogueiras do mundo.

A maioria esmagadora da população brasileira viva e consciente de seus atos conhee aquela Seleção porque ela é atemporal e imortal. Um quarto de século e dois títulos mundiais não foram capazes de apagá-la, e nada será. Ninguém se cansará de ver as bombas do Éder, os passes do Zico e a sambadinha do Júnior. Ela não foi a campeã, e por isso suas imagens poderiam caminhar para a mesma obscuridade que as das Copas de 66 ou 74, por exemplo. Pensem um pouco e tentem se lembrar com que frequência momentos dessas duas Copas são reprisados. Poucas, consequência das derrotas nelas sofridas. A genialidade de 82 foi capaz de superar a frustração maior do nosso esporte.

(Arrisco até a dizer que o "fiasco" de 82 é tão celebrado quanto o triunfo de 94, mas não pretendo me alongar com isso porque a polêmica é grande. E deixo claro minha opinião que um título honestamente conquistado vale mais que qualquer derrota epicamente sofrida. Os românticos que me perdoem.)

Obras de arte foram criadas para serem contempladas, e é por isso que a televisão não se incomoda de repetir aquelas imagens, e nós não nos cansamos de assistí-las. Nos pegamos até torcendo para a Seleção, como se essa torcida pudesse mudar o resuktado daquela partida - se isso fosse possível, tenho certeza que Zoff também se convenceria que a cabeçada do Oscar era indefensável.

Após todos esses anos, culpas e perdões, o trauma de Sarriá foi superado. Voltamos a ganhar Copas e ainda somos o país do futebol. E de certa forma, o que ficou da Copa de 82 foi uma lembrança boa, permitida apenas pelo infalível efeito curador do tempo. Tempo este que hoje nos permite celebrar o fato daquele time ter existido e entrado para a história.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu nasci em 81, porém vi e revi por mtas vezes os jogos do Brasil nessa Copa. Até hoje as pessoas mais velhas que eu, principalmente no meu trabalho, qdo falam de seleção acabam caindo no assunto "1982". Bola, na minha opinião, seu texto está mais do que correto a respeito desse assunto. Eu não vi ao vivo, mas por mtas vezes acho que posso sentir a frustração do povo no dia da eliminação quando revejo o jogo contra Italia. Parabéns por mais um ótimo texto.