quinta-feira, 12 de julho de 2007

O nível da imprensa esportiva

É incrível o baixo nível e a falta de preparo, de um modo geral, da mídia esportiva brasileira. Eu não sei como os jornalistas alcançam o prestígio que têm, só posso imaginar que é através de algum tipo de apadrinhamento, ou que os jornalistas sérios do Brasil se interessam mais por política, economia ou cultura, deixando o espaço para o esporte para os menos capacitados. Tirando algumas boas exceções, assitir programas esportivos é um atentado à inteligência e paciência.
Os programas mais populares, claro, são os piores. Já nem considero casos como Mesa Redonda ou Terceiro Tempo como programas esportivos, visto a falta de conteúdo e o abuso de merchan.

Nem quero perder muito tempo com os programas da TV aberta, só lamento como o formato desses programas e a exposição da televisão conseguem mudar o comportamento das pessoas. Milton Neves e Flávio Prado, por exemplo, são (ou pelo menos costumavam ser) ótimos no rádio. Na telinha, são um desastre, e na minha opinião perderam grande parte da credibilidade que tinham. Para o público "inteligente", claro, no qual muito humildemente me incluo.

A solução são os canais da TV fechada, que por terem menos compromisso com audiência e falarem a um público restrito, conseguem fazer programas de qualidade. Sportv e ESPN têm programações interessantes e bons profissionais. Mas mesmo nelas podemos ver escorregadas.

Segunda-feira, no Linha de Passe (ótimo programa, pois conta com bons jornalistas tanto de São Paulo como do Rio, diminuindo o viés bairrista) da ESPN Brasil, o bom e ranzinza José Trajano, em mais um de seus discursos inflamados contra a Seleção Brasileira, chegou a dizer que dos nossos cinco títulos mundiais apenas os de 58 e 70 merecem ser levados em consideração, e que o futebol brasileiro não é, e nunca foi, o melhor do mundo. Menos, bem menos. O fato das seleções dessas dias Copas estarem entre as melhores da história não tira o mérito das outras três, inclusive do burocrático time do Parreira. Pisada feia na bola

E olha que o Trajano já participou do melhor programa esportivo da história, o Carão Verde da Tv Cultura.

Hoje pela manhã, no já não tão bom Redação Sportv, Renato Maurício Prado e Milly Lacombe soltaram um verdadeiro absurdo, defendendo os play-offs no Campeonato Brasileiro por que os pontos corridos não dão emoção. A "grande" Milly disse ainda que novamente o campeonato perdeu a graça porque, assim como o Cruzeiro em 2003, o Santos em 2004, o Corinthians em 2005 e o São Paulo em 2006, o Botafogo já disparou na liderança.

Por partes:

Os play-offs até trazem mais emoção (apenas) na fase final da disputa, mas é inegável que o Campeonato Brasileiro por pontos corridos, tanto na Série A como na B, trouxe a padronização fundamental ao futebol brasileiro, além de premiar o melhor e mais bem planejado time do ano. Em um campeonato longo, esses devem ser os critérios para se premiar o melhor, e não a imprevisibilidade dos mata-matas. Para isso, já temos a Copa do Brasil e a Libertadores. Não dá para imaginar que o mundo todo esteja errado e o Brasil certo, e a desculpa de que "não é cultura do brasileiro" é inaceitável. A cultura brasileira se encontra na música, na culinária, no próprio modo irreverente que revolucionou o futebol mundial. Cultuar o retrocesso é um atestado de ignorância, e jornalistas sérios têm de saber disso.

Se o nível do campeonato diminui, com certeza não é por causa dos pontos corridos.

Quanto ao comentário da Milly, só posso assumir que a jornalista foi despreparada para o programa e cuspiu a informação sem nem pensar no que estava falando. Em 2004, o Atlético-PR liderou boa parte do campeonato e só foi ultrapassado pelo Santos nas últimas rodadas; o Corinthians terminou o primeiro turno de 2005 na ponta, mas chegou a ficar em quinto lugar durante o segundo, antes de reassumir a ponta (com a ajuda da dupla Edílson/Zveiter) e ser campeão; antes da parada para a Copa do Mundo, o São Paulo disputava a liderança com Cruzeiro e Fluminense, que terminaram o campeonato em 10o e 15o, respectivamente; apenas em 2003 o Cruzeiro realmente dominou boa parte do campeonato e encerrou a disputa com algumas rodadas de antecedência. Por um simples motivo: era o melhor e mereceu ser campeão.

Milton Neves diz que "O futebol é a coisa mais importante dentre as menos importantes." Isso deve ser verdade, já que os melhores jornalistas devem se interessar pelas coisas mais importantes.

4 comentários:

Anônimo disse...

Fico feliz de saber que vc mudou de opinião sobre os pontos corridos, já que eu sempre fui um defensor incansável dessa metodologia!

Anônimo disse...

Gustavo Bh

Fabio Pimentel disse...

Já mudei faz algum tempo, é a única forma do Campeonato Brasileiro apontar o melhor time do Brasil.

Anônimo disse...

O texto está mto bom e se fosse para colocar um pequeno comentário com críticas a respeito cada jornalista ruim que trabalha hoje na mídia(principalmente na TV), com certeza não caberia aqui nesse blog. Parabéns pelo texto e coragem de expor em público o que mta gente senter qdo assiste/lê/ouve...