segunda-feira, 2 de julho de 2007

Mal de Barrichello


Felipe Massa perdeu a corrida ontem sem ser ultrapassado na pista. Está em terceiro no campeonato, 17 pontos atrás do Hamilton. Continua com prestígio na Ferrari e com chances de ser campeão mundial. Nada mal para alguém tão jovem na F1. Mas a cada corrida que ele não vence pairam no ar dúvidas sobre a sua capacidade de ser o novo Senna.

Se ele será campeão mundial um dia eu não sei. Mas com certeza ele não será um novo Senna, assim como o próprio Ayrton não foi um novo Piquet, e o Piquet não foi um novo Fittipaldi. Cada um conquistou seu espaço do seu jeito e com a sua categoria. Tivemos também nossos Morenos, Bernoldis e Zontas, que se não se colocaram entre os maiores pilotos da história deviam ao menos ter seus talentos reconhecidos, por terem alcançado a Primeira Divisão do automobilismo mundial.

O Rubinho sofreu de perto a perda de Senna e a consequente cobrança para que seus resultados completassem a lacuna deixada pela morte do mais cultuado piloto da história da F1. De quebra, teve de dividir o espaço com o maior campeão da modalidade em todos os tempos (dividir, aqui, é um eufemismo, já que Schumacher pegou o espaço todo para ele, com justiça). Ficou taxado como perdedor.

No caso, um perdedor com 242 GPs (ano que vem deve superar Ricardo Patrese e se tornar o primeiro colocado nesse quesito), 6 anos de Ferrari e 2 vice-campeonatos.

Além de ter sido lançado no olho do furacão, com a dor causada pela morte do ídolo, Barrichello sofreu a injusta cobrança para ser o melhor. Pois parece que só assim alguém consegue o respeito e admiração por aqui. Mesmo sendo um país à margem da ordem mundial, cobramos a vitória de todos aqueles que nos representam, como se o simples fato de ser brasileiro compensasse a falta de preparação e apoio que cada atleta recebeu e recebe no decorrer da sua carreira. E como se ser brasileiro trouxesse alguma vantagem adicional, em qualquer campo de disputa esportiva, a ser alemão, argentino ou indiano.

Essa nossa cobrança excessiva causa distorções de, na vitória, nos acharmos os melhores do mundo; e na derrota, os piores. Um soco no estômago da auto-estima brasileira. Não somos nenhum nem outro, e resultados esportivos não mudarão esse fato.

Deixem o Massa ser o Massa, com tranquilidade. Saibamos aplaudí-lo e criticá-lo na dose certa, sem que ele se torne o novo Senna ou o novo Barrichello.

E garanto que, com um quinto do sucesso do primeiro ou um quinto da conta bancária do segundo, já se dará por satifeito.

4 comentários:

Anônimo disse...

É, boa observação. Aqui no Brasil é assim mesmo, existe uma necessidade de auto-afirmação ufanista canalizada para o esporte. É o que nos torna às vezes, de forma infantil e grotesca, inimigos mortais de nações amigas, como na rivalidade existente com a Argentina no futebol. Se permanecesse apenas no âmbito esportivo, tudo certo. Mas não é exatamente isso que ocorre. Gente como o Barrichello acaba pagando o pato. Acho que, no fundo, os brasileiros levam a sério demais a questão de se ganhar ou perder no esporte.

Gabriel Rocha - Belo Horizonte, MG

Fabio Pimentel disse...

E essa pressão por resultados acaba prejudicando, vide Daiane dos Santos nas Olimpíadas de Atenas. Não suportou a cobrança pelo ouro - de gente que nunca tinha visto ginástica na vida - errou e não levou nenhuma medalha.

Anônimo disse...

Concordo também com as observações, mas no caso do Rubinho, há um agravante. Depois de passada a pressão pela perda do Sena e quando um milhão a mais ou a menos nao faria diferença na sua conta bancária ele entregou uma corrida para o Shumacher enconstando o carro na linha de chegada. Neste caso como brasileiro me senti ultrajado... E nao me venham com essa história de jogo de equipe, vide o próprio Massa este ano, além do Hamilton.

Anônimo disse...

Gustavo BH